É hora de deixar o país respirar

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Agora que as eleições passaram, os ânimos serenaram, e as diferenças vão ficando para trás, é hora de deixar o país voltar à normalidade. Respirar novos ares. Chega de disse que disse. Chega de crise. O Brasil tem pressa, precisa correr atrás do prejuízo, do tempo perdido, que tanto tem prejudicado os negócios e a vida das pessoas que, assustadas, procuraram abrigo na fé e na esperança. E que daqui para frente se dê um tempo nas divergências e nas discussões acaloradas que tanto atrapalham. Respeite-se o resultado das urnas e vamos em frente.

Sobre 2018, que ainda não terminou, já se falou muito, até mesmo de um ano para não ser lembrado. Para uns foi uma miragem, um pesadelo daqueles que a gente acorda assustado e, zonzo, grita por socorro. Algumas cabeças coroadas que habitam o fantástico mundo da economia, que têm explicação e desculpas para tudo, devem olhar pelo retrovisor os erros de suas análises e projeções.

Por causa disso, muitos deles já apagaram 2018 da sua consciência. Arrancaram-no do calendário pendurado na parede suja da memória nacional. Rasgaram raivosamente a folhinha e a jogaram no lixo do esquecimento, que sepulta o que não se quer lembrar. Que não serve nem para ser reciclado.

Mas, apesar de todas as análises, projeções, maldições e definições produzidas e reproduzidas, 2018 vai deixar alguns ensinamentos. Por exemplo, que seus erros jamais deverão ser repetidos, entre eles acreditar no velho ditado de que toda crise demora mas passa. Que tudo pode ser resolvido com uma meia dúzia de decretos, anunciados pomposamente em rede nacional, ditas ao sabor do momento para gerar mídia e nada mais, com ações aparentemente capazes de solucionar rapidamente a questão, impressas nos papéis timbrados dos gabinetes do poder, referendadas por assinaturas ilegíveis e com prazo de validade, que quase sempre terminam nos arquivos da memória.

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Mas esse ano conturbado também ensinou que não devemos acreditar que, por mais passageira que seja, a crise será superada sem deixar sequelas e custos sociais. Assim, no conhecido jogo do falso ou verdadeiro, devemos colocar nessa questão um X na coluna do falso.

Algumas pessoas, exageradamente otimistas, ainda têm coragem de dizer que não existe crise, que é mais “um produto fabricado pelo marketing da desgraça para alguém ganhar dinheiro.” E dão exemplos: “veja os restaurantes como andam cheios; as casas de espetáculos lotadas; os anúncios de automóveis vendendo carros de luxo caríssimos e com longa fila de espera para se adquirir o novo modelo.”

Convictos e baseados nesses argumentos sustentam que a tese de que a crise é um produto de fabricação dos marqueteiros soltos e presos. Esquecem esses exagerados otimistas que milhares de lojas e muitas indústrias estão fechando suas portas e centenas de empregos estão sendo ceifados a cada dia.

A verdade é que a crise que vivemos não é um produto de fabricação. É sim, pode-se dizer, provocada por decisões erradas, embalada pela corrupção que empurrou o país para essa caótica situação. Quando menos se espera aparece uma nova denúncia de corrupção que abala a credibilidade e derruba o ânimo da sociedade, que já cansou de tudo isso. Como se não bastasse o quadro nacional, enfrentamos – e continuamos enfrentando – as crises estaduais e municipais, cujo maior exemplo é a do Estado do Rio de Janeiro.

No âmbito empresarial, a palavra de ordem também é acreditar em tempos melhores. O empresário quer e deseja isso. Afinal são eles que no fim das contas animam a economia e fazem girar a roda do desenvolvimento. Mas, para isso, é preciso que eles tenham confiança de que o combinado será cumprido e que não sejam surpreendidos com uma nova emenda aqui e uma nova lei acolá. Falta justamente recuperar a confiança do consumidor e do próprio empresário. E isso só se faz com crescimento, com a recuperação do emprego e a consequente melhoria da renda. O resto é mágica.

 

 

Aldo Gonçalves

Presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio), do Sindicato dos Lojistas do Município do Rio de Janeiro (SindilojasRio) e diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

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