2 milhões de investidores versus o pânico na bolsa

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O agravamento da crise externa com a rápida expansão do coronavírus globalmente e a forte queda do preço do petróleo derrubou os índices acionários em todo o mundo e consiste no primeiro teste dos novos investidores que viram na B3 uma saída de rentabilidade diante da baixa taxa de juros. Na última semana, o pânico foi generalizado, e o Ibovespa chegou a perder os 70 mil pontos enquanto o circuit breaker era acionado. Esta foi a quarta vez na história da bolsa em que os negócios foram paralisados duas vezes na mesma sessão.

O índice fechou a 72.582 pontos na última quinta-feira, quando registrou a maior perda em 22 anos. Do recorde nominal de 119.528 pontos em 23 de janeiro deste ano, a perda total até o dia 12 de março, soma 39,28%. Para se ter uma ideia, a queda é maior do que toda a rentabilidade obtida ao longo de 2019 (31,6%).Para que o índice volte ao patamar de janeiro, serão precisos meses, mas explique isso para os desesperados que realizaram os prejuízos nas últimas semanas.

Em meio ao efeito manada desta semana, se criaram oportunidades de ganhos para alguns enquanto outros sangraram, e os novatos sentiram no bolso o que é renda variável. “Com a identificação da primeira ocorrência de coronavírus no Brasil, os agentes intensificaram a aversão local ao risco, passando a impactar com força a renda fixa doméstica privada, até então, relativamente imune à volatilidade global”, conforme destaca o relatório dos analistas do Banco do Brasil.

Ora, investir em um período de pouca volatilidade e tendência de alta é fácil, o que atraiu milhares de desavisados para a bolsa de valores. Na verdade, o fato é que o índice já havia ido longe demais e que a continuidade da alta do Bovespa não era sustentável. Seu movimento foi provocado por uma onda de desesperados por rentabilidade ao se depararem com juros reais na renda fixa praticamente zerados ou negativos.

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Olhando para os fundamentos econômicos fica claro que a sustentação da alta estava calcada na teoria do mais tolo – o investidor compra um ativo caro, sabendo que está caro, mas sabe que haverá um mais tolo que ele comprando por um preço maior – enquanto, na verdade, deveria se basear em fundamentos. E os fundamentos estavam em falta, pois independente de coronavírus ou crise do petróleo, a economia brasileira já ia continuar na mesma toada: crescimento pífio de 1% ao ano. Além disso, os investimentos das empresas e das vendas já estavam comprometidos. A situação externa é só um fator a mais.

Levantamento da SABE Invest demonstra justamente este descasamento entre o preço das ações e a realidade das empresas. O estudo, publicado ao final de fevereiro, demonstra uma prévia do desempenho real das companhias abertas. Até a data, foram publicados os balanços do exercício de 2019 de 89 companhias listadas na B3, cerca de 26% do total, sendo 71 empresas e 18 bancos. A soma dos lucros dos 18 bancos (R$ 92 bilhões) ficou próxima da soma dos lucros (R$ 95 bilhões) das 71 empresas não financeiras em 2019.

De 2018 para 2019, o total dos lucros das empresas sofreu uma redução nominal de quase 16%. Já o mesmo total dos lucros dos bancos foi de um aumento nominal próximo a 29%, mantendo a tendência dos últimos anos. Das 71 empresas da amostra, quatro tiveram prejuízo em 2019: Ecorodovias, B2W (que já vinha com resultado negativo em 2018), Suzano e Vale. Sem estas duas últimas, cujos prejuízos foram elevados, o lucro total das demais empresas aumenta 21%; 25 empresas tiveram queda de lucro; e 46 empresas tiveram aumento de lucro, de 2018 para 2019. Pelo lado dos bancos, quase todos, tiveram crescimento de lucro, exceto o Banco Pine, cujo prejuízo aumentou de 2018 para 2019. A soma dos lucros (R$ 81 bilhões) dos quatro maiores (Itaú, Bradesco, BB e Santander) equivale a 89% do total.

Olhando o desempenho das 89 companhias como um todo, vemos um crescimento nominal pífio de quase 2% dos lucros de 2018 para 2019. Eliminando Suzano, Vale e os quatro maiores bancos para evitar distorções, notamos uma queda nominal de 8%, com os dados desta amostra”, analisa o CEO da SABE Invest, Luiz Guilherme Dias.

Investir sem olhar para fundamentos, dá nisso: compra na alta e venda na baixa. Resta olhar para os dados da B3 que trará a informação se os mais de um milhão de desavisados que ingressaram no mercado por seguirem influenciadores digitais vão permanecer. Era apenas fogo de palha?

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