2008 começa com a perspectiva das eleições municipais

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Um conjunto de fatores políticos, econômicos, sociais e até mesmo tecnológicos estabelecerá o cenário de disputas que fará das campanhas municipais de 2008 um acontecimento mais estratégico do que o verificado em eleições anteriores.
Sob a ótica legal, a instituição da fidelidade partidária impôs uma derrota às velhas práticas políticas de utilização de legendas de aluguel para a acomodação de candidatos e apoiadores num arco de alianças sem referências ideológicas e programáticas.
Viveremos, também, uma eleição municipal sem artifícios das coligações e com os comandos partidários locais e regionais com plenos poderes sobre a elaboração de suas listas de candidatos tendo em vista que o instituto do candidato “nato”, ou seja, o vereador que exerce mandato, agora, não tem garantia de sua indicação partidária para a reeleição.
As práticas utilizadas no processo eleitoral também estão sendo aperfeiçoadas, com a nítida profissionalização das campanhas e das ferramentas de comunicação de massa. Enfim, as campanhas eleitorais deverão ser profissionalizadas e, com elas, as campanhas de prefeito e vereador deverão apresentar instrumentos de inovação.
A generalização das piores práticas na captação de recursos das campanhas eleitorais – estampada nas páginas políticas e policiais nos últimos anos – acabou por gerar uma uniformização na imagem das agremiações partidárias e o acréscimo nos níveis de descrédito da classe política.
Como decorrência direta, o mito ideológico caiu por terra, generalizando a imagem negativa das agremiações partidárias e impedindo uma diferenciação que seria arma tática nas disputas que se aproximam.
Sob o aspecto da mobilização popular, as eleições municipais – que acontecem em todos os mais de 5.500 municípios brasileiros – será um fator de apresentação de mais de 350 mil candidatos a vereador, vice-prefeito e prefeito em todo o país.
Esse grande contingente de candidatos gerará uma mobilização de apoiadores, contratação de serviços gráficos, contratação de serviços especializados, como assessores de imprensa, publicitários, músicos, motoristas, técnicos em informática, serviços de transporte, serviços de distribuição de material de divulgação, confecção de propaganda sob as mais diversas formas, assim como pesquisas eleitorais, dentre tantos quesitos que uma eleição exige para fazer chegar a mensagem do candidato aos eleitores. Estimo que a próxima campanha eleitoral mobilizará mais de 3 milhões de brasileiros, em tarefas voluntárias e contratadas.
O processo eleitoral não estará imune às questões econômicas e vários serão os fatores que influenciarão o “humor eleitoral” do brasileiro. O primeiro deles será, certamente, o momento econômico em que viveremos a partir do segundo semestre do ano, principalmente sob o aspecto do crescimento econômico e do custo de vida.
As últimas notícias de 2007 não são positivas, pois estimam um crescimento econômico para 2008 ainda menor do que o verificado, assim como a elevação dos preços (IGP-M estimado em 7,75%, o maior dos últimos três anos), e inflação superior a 4,3%, além da redução do saldo da balança comercial brasileira.
Importante termômetro é o preço dos alimentos que, em 2007, teve variação positiva de 10,28%, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Muito do que acontece numa eleição municipal está diretamente ligado ao grau de satisfação – ou insatisfação – gerado pela própria administração municipal. Questões do cotidiano das pessoas exerce forte influência sobre o humor e a decisão de apoiar ou tirar determinado prefeito ou grupo político do poder.
Assim, a limpeza e a iluminação pública, a qualidade dos transportes e as tarifas públicas, a merenda escolar, as eventuais denúncias sobre a gestão municipal, além do estado de ânimo da cidade – o que denominamos como o “fator psicosocial local” – e a mobilização social são componentes que determinam tendências de grande parte das cidades para a decisão do voto no próximo dia 5 de outubro.
Por mais que os políticos tradicionais vejam com ceticismo, a tecnologia já é uma realidade e terá forte influência no processo eleitoral de 2008. Sites, blogs, ferramentas de interação candidato-eleitor serão utilizados amplamente – de forma profissional ou experimental – aproveitando-se das restrições legais ao uso da mídia de massa e às restrições impostas pela propaganda eleitoral.
Os grandes partidos políticos também jogam suas fichas no processo eleitoral municipal. É com o fortalecimento das agremiações políticas que os grandes “caciques” contam na hora das negociações por espaços políticos e de poder.
Deveremos verificar uma significativa redução da força do PMDB nas prefeituras em todo o país – tendência já observada em disputas passadas – com o aumento de prefeituras conquistadas pelo PSDB, PT, PP (detém o Ministério das Cidades) e até mesmo do PRB, partido ligado à Igreja Universal e ao vice-presidente José de Alencar.
As disputas municipais – que quase sempre se limitam a analisar os resultados eleitorais das principais capitais de estado – serão peças do tabuleiro político das eleições de 2010, ano da sucessão do presidente Lula e da formação de novas alianças partidárias do plano nacional.

Marco Iten
Jornalista especializado em Marketing Político.
www.marcoiten.com

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