A tarefa crucial do tempo presente é compreender o movimento do andar de cima: a burguesia brasileira, a classe dominante e o seu movimento pendular, de suas frações, com seus próprios conflitos, interesses ou disputas parcelares. Isso ajuda a percorrer a trajetória atual da economia brasileira, marcada pelo Estado disputado cotidianamente.
Em paralelo, é fundamental compreender o processo de aproximação da grande burguesia interna com o capital internacional, via suas opções domésticas, e o concomitante estreitamento das margens para opções do Brasil, dadas pelo novo estágio do capitalismo global, crivado pelas policrises. Nesse contexto, dez questões nos ajudam a sondar 2025:
- A percepção do brasileiro não é de melhora no padrão de vida no ano que chega, véspera de uma eleição nacional e após uma eleição municipal, onde o campo conservador levou grande vantagem.
- As empresas aproveitaram a capacidade ociosa para obter ganhos até aqui, mas agora precisam investir em expansão da capacidade produtiva para competir; entretanto, com juros altos e dólar nas alturas, as condições financeiras não são adequadas, exigindo cautela.
- As famílias mais pobres são muito vulneráveis ao choque de custos dos alimentos e dos serviços públicos, notadamente água, luz e transporte público. Cerca de 82% do contingente de ocupados (IBGE) ganha até três salários mínimos (SM).
- Por exigência dos credores da dívida interna, o governo tira do andar de baixo R$ 110 bilhões até 2030 no BPC, Bolsa Família, INSS e 14º do PIS, num setor de alta capacidade de multiplicação na demanda agregada da economia brasileira. O salário mínimo brasileiro é um dos mais baixos da América Latina e corresponde a 1/5 do SM calculado pelo Dieese.
- A redução da mordida do Leão para quem ganha até R$ 5 mil gera renda disponível e impacta positivamente o consumo das famílias, no comércio e nos serviços.
- A situação externa é desafiadora, pelas novas tarifas de Trump, o conflito China–EUA, guerras intermináveis e impasses políticos na Europa. Isso traz muita turbulência!
- No Brasil, o orçamento federal reserva R$ 800 bilhões para pagamento de juros altos.
- O câmbio encarece importações de componentes industriais, medicamentos e alimentos, o que exigirá uma atuação do BC via IOF ou até mesmo restringindo o mercado de derivativos.
- Pobreza e indigência em queda são resultados de políticas sociais ativas (federais, estaduais e municipais). A parcela do gasto social no orçamento chega a 60% no âmbito federal, contra apenas 27% em 1990. Rentistas exigem mais cortes nessas rubricas no futuro.
- É correto afirmar também que o acesso à renda do trabalho e um mercado aquecido são condições fundamentais para garantir que os níveis de pobreza e extrema pobreza das pessoas ocupadas sejam menores que os dos desocupados e das pessoas fora da força de trabalho. A taxa de pobreza ainda é de 14,2% entre ocupados, 54,9% entre desempregados e 33% entre aqueles fora da força de trabalho.
Os desafios são grandes, mas a esperança persiste. Boas festas a todos!
Ranulfo Vidigal é economista.