Opções para a Europa na corrida entre EUA e China sobre 5G

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As infraestruturas 5G são uma realidade. Esperando-se que esta nova tecnologia sem fio traga grandes mudanças para nossa economia e sociedade, sua implantação desencadeou uma feroz corrida entre titãs da tecnologia. O rápido crescimento da indústria 5G da China está desafiando a “vantagem” histórica dos Estados Unidos em inovação tecnológica.

Os EUA, por sua vez, consideram a expansão do 5G chinês não apenas um desafio econômico, mas também uma ameaça geopolítica, pois a tecnologia poderia fornecer ao Governo da China acesso a informações críticas.

Apesar do investimento considerável em tecnologia 5G em vários Estados-membros, a União Europeia luta para encontrar seu lugar nesse ambiente em evolução. No entanto, a corrida ao 5G oferece à UE uma excelente oportunidade para fortalecer sua soberania tecnológica por meio de uma estratégia comum, para com empresas estrangeiras de telecomunicações e para uma política coerente de segurança cibernética.

Neste cenário, muito se fala sobre o poder europeu atual. Do novo presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen e do novo alto representante, Borrell, ao presidente francês, Macron, está ganhando força a ideia de que a Europa deve exercer maior poder no cenário global.

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Risco é ter que escolher entre o aliado

tradicional e a crescente potência global

 

A intuição política por trás dessas declarações é absolutamente correta. A lógica do século XXI, para o projeto europeu, é profundamente global. No entanto, para transformar o poder europeu em realidade prática, vale a pena investigar nos detalhes o que significava outrora, como ele se transformou, e o que deve ser feito para exercê-lo no futuro.

A UE descobriu, talvez tarde demais, a realidade de sua difícil relação com a China, um país que logo se tornará a primeira potência econômica global e que defenderá a globalização; porém, a China ainda está violando muitos princípios importantes de um mundo globalizado organizado.

A China é um importante parceiro econômico, mas ainda não cumpriu uma série de compromissos: acesso mais aberto ao mercado interno, pleno respeito ao Estado de Direito, condições equitativas de investimento estrangeiro, proteção dos direitos de propriedade intelectual e garantias sobre transferências de tecnologias.

A China não é uma ameaça direta à segurança da Europa, mas está expandindo sua influência política em todo o mundo, por meio de instrumentos de soft power. Até agora, a política do governo chinês conseguiu dividir os países europeus, interessados em investimentos chineses, mas também preocupados com o controle político.

Nesse sentido, um recente memorando europeu, escrito para a Fundação de Estudos Progressistas Europeus (FEPS), propõe novo quadro de relações da UE com a China para os próximos cinco anos. Construído em torno de três palavras-chave – defender, engajar e maximizar – combina esses três elementos de contenção, bem como, de engajamento, em relação à China. O memorando convida a UE a concentrar-se em uma lista seleta de questões de importância estratégica em suas relações com Pequim, a fim de obter o máximo impacto, nas seguintes linhas:

Defender empregos europeus, competitividade industrial e soberania tecnológica da economia controlada pela China e das suas práticas comerciais desleais; defender, também, valores e princípios fundamentais da UE do sistema político autoritário chinês.

Envolver a China para que cumpra as metas do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas; fortalecer o sistema comercial multilateral; enfrentar os desafios de segurança global, incluindo maneiras de encontrar uma solução para a ameaça nuclear da Coreia do Norte e agir de suporte para uma ordem baseada em regras no Mar da China Meridional.

Maximizar as relações UE–China para salvar o acordo nuclear com o Irã; reformar o sistema monetário internacional e colocar limites aos privilégios exorbitantes do dólar.

Esse quadro progressivo permite que os formuladores de políticas da UE identifiquem e façam uma distinção entre as questões em que a China é um desafio – e, portanto, precisam ser contidas, de acordo e juntamente com os EUA e outros parceiros com ideias semelhantes, quando for necessário – e as áreas políticas em que Pequim pode se tornar um parceiro – e até um aliado ad hoc – para promover os interesses e valores fundamentais da UE e colocar limites aos impulsos unilaterais do Governo Trump, que são prejudiciais à UE.

O principal risco, para a Europa, então, é o de ficar presa no meio da competição estratégica EUA–China e ter que escolher, entre o aliado tradicional e a crescente potência global.

Edoardo Pacelli

Jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), é editor da revista Italiamiga.

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