40 anos em 20

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Em 120 anos, a economia brasileira registrou duas décadas de contração do PIB per capita. A primeira nos anos 80, chamados a década perdida, quando houve queda média anual de 0,5%. A segunda será a que estamos vivendo atualmente, em que a retração fica em 0,3% ao ano na média. Os dados são do estudo do banco de investimentos Goldman Sachs. Isso significa que o brasileiro ficou mais pobre e serão necessários 87 anos, ou quatro gerações, para dobrar a renda real per capita.

No momento atual, a economia brasileira parece a velha história do cachorro correndo atrás do próprio rabo. A falta de crescimento contrai a renda e, por consequência o consumo, inibe o investimento e provoca a falta de reação do PIB. Por aí vai o ciclo vicioso. O governo encontra-se falido e busca alternativas para recompor suas próprias contas. Dentre estas, encontra-se a reforma da Previdência, que nada mais significará que a retirada de mais renda dos brasileiros no futuro.

Por outro lado, sem o reajuste das contas do governo, corre-se o risco do retorno aos anos 80, quando as contas fugiram ao controle. Naquela época, o governo se financiava através da expansão monetária e reajuste das tarifas acima da inflação (lembrando que as contas de telefonia, energia elétrica etc. eram controladas pelo Estado). Por anos, os economistas estudaram como sair dessa enrascada até que, finalmente, o país conseguiu novamente ter moeda. Assim, nos anos 90, a estabilidade econômica fez com que o PIB per capita atingisse alta de 0,9% entre 91 e 2000 e de 2,5% entre 2001 e 2010.

De tanto pensar em como estabilizar a economia, esqueceu-se de buscar formas de desenvolvê-la. O foco da equipe econômica atual é de fazer o Estado voltar aos eixos, com a redução do déficit público através das privatizações e do corte de gastos. Privatizar algumas das estatais pode trazer receitas pontuais que dão um alento para as contas. Porém, sem ajustes, o dinheiro é consumido rapidamente. Portanto, focar somente em reforma e privatização é novamente salvar o presente e sacrificar o futuro.

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Este sempre foi o problema da política econômica adotada pelos governantes brasileiros. Nos seus 50 anos em 5, JK nos fadou à dependência dos caminhoneiros, que, ao entrarem em greve no ano passado, nos levaram parte do PIB. Na década de 70, anos maravilhosos para a economia, a elevação do endividamento externo impulsionada pela tentação do dinheiro fácil fadou o país a viver a década perdida de 80, marcada pelo baixo crescimento e inflação. As decisões da década de 90 para conter a inflação levaram ao aumento da dívida pública e contração dos investimentos das empresas. Para que investir em produção quando as taxas de juros são de dois dígitos?

Por último, a chamada Nova Matriz Econômica fez o Brasil criar um PIB imaginário para devolver todo o sonho na década seguinte. De governo em governo, a chamada herança maldita é sempre a desculpa para que o presente se mostre nefasto e o Brasil seja o país do futuro. Agora não é diferente. É fato que o artificialismo iniciado na segunda fase de Lula e aprofundado por sua pupila trouxeram o país para a crise fiscal, mas isso não é desculpa para que o novo governo busque formas de reverter o quadro reajustando a economia não olhando apenas para seu mandato, mas para o longo prazo.

A política atual não é muito diferente do que se vê de mandato em mandato. Tenta-se reverter o quadro no curto prazo, tornar o governante anterior o culpado por tudo e não se pensa em como criar renda no médio-longo prazo. Gerar renda é gerar crescimento econômico sustentável, o que leva ao aumento da arrecadação e ajuste do déficit fiscal. A simples venda de ativos tapa o buraco, assim como o corte de gastos via Previdência, mas o que o futuro guarda? No longo prazo, estaremos mortos..

Ana Borges

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