99%, uni-vos!

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Manifestação (foto de Joe Brusky, CC BY-NC 2)
Manifestação (foto de Joe Brusky, CC BY-NC 2)

Assistimos na história contemporânea a acontecimentos relevantes. No final dos anos 1980, acontecem a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. O mundo geopolítico, até então dividido em dois blocos, liderados no Ocidente pelos EUA e no Oriente pela União Soviética, se transforma em unipolar, com hegemonia dos Estados Unidos.

Infelizmente, as regras econômicas são inflexíveis e ao concentrar a hegemonia em um único agente econômico e eliminar a competição político-econômica (entre os dois polos), a economia mundial mostrou disfuncionalidade, em vez de promover uma paz política. A concentração econômica sempre provoca (e provocou) o aparecimento de megaoligopólios econômico-financeiros, concentração de renda, formação de seguidas “bolhas” especulativas e seus “estouros”, redução do crescimento econômico mundial, além de conflitos bélicos localizados, forçando processos migratórios indesejados e a reação dos originários frente ao aumento da competição pelo trabalho, tornado escasso pelas novas tecnologias.

A competição pelos bens tornados escassos provoca fricções sociais. A história revela que nesses momentos, como subproduto social, aparecem líderes bélicos indesejáveis. A unipolaridade se mostrou um rotundo fracasso na esfera ocidental. Este estado de coisas provocou a grande crise de 2008. A resposta econômica a esta crise foi a enorme liberação da liquidez pelos Estados Nacionais para os grupos financeiros que a provocaram e pouca ajuda aos trabalhadores precarizados. O resultado da disfuncionalidade econômica é a colossal concentração da renda, ao ponto da consagração de apenas duas classes sociais: o 1% privilegiado e os 99% restantes!

Então, ainda com o aparecimento da Covid, a “Peste Assassina”, caminhamos para um sofrimento sem fim?

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Possivelmente, não! Estamos num ponto de inflexão. Corremos riscos, sim, mas acreditamos na divindade e na racionalidade do ser humano. Estamos, sim, num conflito civilizatório entre barbárie e redenção provocado pela unipolaridade. Mas a solução já aparece. O trabalho incansável dos cientistas nos trouxe a vacina para a Covid.

E quanto à economia destroçada? Para o 1%, os dados econômicos demonstram que ganharam. Com relação aos 99%, a esperança também aparece no horizonte, pois a fria economia pode, sim, ser salva pelo seu lado político! A verdadeira Economia é a Economia Política! E o lado político apresenta as possibilidades da saída!

Relatamos que o mundo pós-1980 se tornara unipolar. Só que não! Simultaneamente à hegemonia de uma nação e à falta de competição econômica, duas outras emergiram: a milenar civilização chinesa e a reorganização da nação russa! Aleluia, retornamos à multipolaridade!

Então está tudo resolvido? Não. A competição geopolítica gera fricções, e o sucesso econômico dependerá da eficácia do jogo político. Os EUA hegemônico convivem com rachaduras socioeconômicas internas, com sequelas expostas pela forma com a qual combateu a Covid, pela queda do PIB e por uma eleição presidencial que dividiu politicamente o país.

China e Rússia, ao contrário, com sucesso, pela eficácia do combate à Peste, com baixa perda econômica, com inclusão social interna e com planos estratégicos funcionais de desenvolvimento externo e inclusão social/econômica pela Eurásia e pelo Mundo.

São três potências nucleares em ação. Uma dividida com a lógica da unipolaridade concentradora, nos 1%. E as outras duas multipolares/multilaterais desejando o desenvolvimento compartilhado com os 99%. É claro que ainda há riscos de tambores de guerra! Oxalá que a lógica da diplomacia prevaleça!

O Fórum Econômico Mundial – “Agenda 21 (realizada de forma virtual, em lives)” apresentou os discursos de Xi Jinping, no dia 25/1/2021, e de Putin, no dia 28/1/2021. Confirmamos junto às falas dos dois líderes, também, o mesmo nível de preocupação com o ambiente de choque político (almejando que seja só político, passível de negociação civilizada) entre os dois blocos, mas entremeados com expectativas positivas. Parece que os dois montaram uma estratégia compartilhada, já que ambos os líderes têm atuado em parceria no âmbito asiático.

Xi Jinping foi mais assertivo na certeza da promoção e recuperação do desenvolvimento mundial e aponta os caminhos para a integração. Já Putin fez um discurso geopolítico mostrando as ameaças da política unipolar da ainda potência hegemônica e a necessidade da mudança da agenda do conflito para a integração mundial.

CONCLUSÃO: as falas dos dois importantes líderes que juntos comandam uma aliança poderosa e eficaz de desenvolvimento econômico inclusivo (querem a integração da Eurásia, da Ásia, e do Sul/Sul) e de segurança confortam os 99%. A importância e relevância das questões tratadas estão diretamente ligadas ao fato que não foram divulgadas pela mídia ocidental; isto confirma que se trata de verdades inconvenientes para o “status” ocidental. Diante do quadro de descalabro econômico exposto pela pandemia, em 2020, esta aliança de sucesso e suas afirmações garantem que temos estabelecido o contraponto político-institucional. Eles afirmam que querem a integração mundial contra a ordem política do 1%!

As afirmações induzem à esperança e a uma garantia que a redenção tem uma chance contra a barbárie! Os tambores de guerra ainda soam, mas agora temos aliados para o bom combate. Então, 99%, uni-vos, agora pela redenção da humanidade!

 

00Gustavo Galvão é doutor em Economia, autor do livro Finanças Funcionais e a Teoria da Moeda Moderna.

 

Helio Silveira é economista, funcionário aposentado do BNDES.

 

Rogerio Lessa é jornalista econômico e compositor.

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