Conversamos sobre a Asset Management do Banco BOCOM BBM com o seu gestor, Leandro Nogueira.
O que levou o BOCOM BBM a criar a sua Asset?
Nós sempre tivemos a intenção de ter um fundo de crédito. Como nós sabemos e conseguimos fazer crédito, temos acesso ao mercado com muita informação e profundidade, e uma equipe de análise de crédito muito robusta, fazia todo sentido termos uma asset. Por outro lado, o mercado de capitais no Brasil levou bastante tempo para se desenvolver e chegar ao patamar atual. Previamente a 2018, a liquidez do mercado secundário de debêntures era inferior a R$ 5 bilhões mensais, ou seja, havia uma negociação muito restrita. Além disso, nós tínhamos poucos nomes presentes no mercado de capitais.
Se você era um gestor de crédito, que tinha um fundo com operações, e tinha a intenção de fazer uma gestão ativa, ou seja, não, necessariamente, comprar uma operação e carregá-la até o seu vencimento, você ficava restrito a poucos nomes de debêntures, que são os papéis mais negociados no mercado secundário. Isso porque, se você quiser ter um fundo aberto, é interessante que você tenha uma boa parcela do seu portfólio com liquidez. Como era difícil ter liquidez nesse mercado previamente a 2018, isso limitava muito a capacidade do produto. Você até poderia tê-lo, mas quando se tem um produto com uma determinada liquidez, você tem um produto pequeno e sem escala.
Quando se olha para a métrica de liquidez no mercado secundário, você repara que em 2019 ela já chega a R$ 15 bilhões mensais. Naquele momento, o banco percebeu esse avanço e entendeu que era a oportunidade para, de fato, lançar um produto que poderia ser aberto e ter uma gestão ativa. Isso se comprovou ao longo desses quatro anos, quando o mercado saiu dos R$ 15 bilhões negociados mensalmente para algo em torno de R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões mensais no início de 2024.
Isso possibilita, cada vez mais, que o gestor tenha uma gestão ativa. Por exemplo, se eu tenho um ativo no meu portfólio e acho que o crédito melhorou ou piorou, eu posso ir ao mercado e ajustar o meu portfólio, seja me desfazendo de alguma operação que eu não acho mais interessante, seja aumentando a exposição em determinado nome que eu acho interessante naquele momento. Eu consigo navegar o meu portfólio dependendo dos cenários, sendo que nós fizemos isso bastante ao longo desse período.
Por exemplo, nós lançamos o produto em dezembro de 2019, no momento em que o mercado estava saindo de uma crise técnica de liquidez. Ao longo de agosto e de setembro de 2019, as debêntures atingiram um patamar muito baixo. Como o mercado vinha de um momento de muito otimismo de 2016 a 2019, isso fez com que o fluxo de capital para o crédito fosse muito grande, e quando você tem muito comprador, naturalmente, o preço anda, o que fez com que as debêntures ficassem muito caras, e as taxas, que são inversas aos preços, muito baixas. Em determinado momento, o mercado chegou à conclusão de que era preciso ajustar essa situação. No momento em que começa esse tipo de ajuste, o preço começa a se movimentar, e o que estava caro vai ficando mais barato, o que se traduz em perdas nos portfólios
Alguns deles, que tinham resgate em Dzero, começaram a ter prejuízos, e por terem prazos muito curtos, os investidores começaram a resgatar. Nessa crise, houve um resgate relevante, principalmente, nos fundos de liquidez imediata, que carregavam muitos papéis de duration mais longa e com risco de crédito mais relevante. Nesse momento, nós começamos a ver que no mercado havia alguns produtos que não estavam com a LM (Liquidez Monetária) tão bem ajustada.
Como o mercado estava se ajustando, nos pareceu um ótimo momento para lançarmos o produto, mas quando estávamos achando que estava tudo bem, no início de 2020 nós tivemos o evento da Covid, que bateu nos mercados de uma forma geral e que gerou uma reprecificação como um todo, já que houve uma grande aversão a risco. Os investidores, que estavam alocados em risco de uma forma geral, solicitaram resgate de uma forma gigantesca, sendo que, naquele momento inicial, era muito difícil saber qual seria o horizonte, como isso, de fato, ia se desenvolver.
Com essa nebulosidade à frente, as taxas abriram, e os preços caíram, já que esse foi um momento de briga entre quem precisava de liquidez e quem tinha dinheiro. Nessa troca, a discussão não era o crédito, e sim a remuneração que era preciso para se abrir mão do caixa. Nesse momento de estresse muito grande, o mercado saiu de uma média de CDI + 1% e chegou a bater acima de CDI + 4%.
O ponto é que a Covid mostrou que o mercado de crédito já estava pronto para sofrer eventuais baques, pois mesmo com esse impacto, nós tivemos um mercado funcional, pois, por mais que os preços tenham se movimentado, os papéis continuaram trocando de mãos.
Além da crise de 2020, nós passamos, no início de 2023, pelas Lojas Americanas. Quando o erro no balanço foi divulgado, o mercado inteiro começou a se perguntar quem seria o próximo problema. Nessa hora, surge o contágio, o que fez com que, mais uma vez, o mercado sofresse um estresse, apesar de ter continuado com liquidez.
Hoje, o mercado é muito maior, funcional, os papéis mudam de lado numa crise, e o volume negociado é relevante. No final, isso motiva o banco a ter uma asset.
Como você avalia os 4 anos de operação da Asset do BOCOM BBM?
Eu avalio de forma bastante positiva esses quatro anos. Como nós somos uma casa fundamentalista que se baseia muito nos fundamentos macro e micro, toda e qualquer operação que será colocada nos nossos fundos passa por um escrutínio detalhado. Nós fazemos uma análise bastante detalhada das empresas, olhamos todo o balanço, entendemos a sua capacidade e cronograma de pagamento das dívidas, quem ela é, seus pares, e fazemos uma avaliação da sua governança. Trata-se de uma avaliação bem detalhada da capacidade de crédito aliada a uma avaliação macro top down para entendermos o momento, quais setores podem surfar melhor esse momento e quais setores podem sofrer um pouco mais.
Essa abordagem, aliada a uma governança com um controle muito forte de risco de crédito e de garantias, fez com que tivéssemos um produto que fosse o mais robusto possível. Isso tem se mostrado muito acertado, tanto que, ao longo desses quatro anos, nós passamos por algumas turbulências no mercado, mas os nossos produtos se comportaram muito bem.
A Asset é um projeto que foi pensado com muita calma e durante muito tempo. Quando lançamos o produto, nós já tínhamos uma filosofia de como fazer e a nossa abordagem de crédito. Nós simplesmente usamos o que já era usado no banco para construirmos o portfólio.
O crédito, diferente de outros mercados, é, na verdade, uma maratona, pois não é possível avaliar uma gestão de crédito em 6 meses ou 12 meses. Um fundo multimercado, independente do que aconteça, se pegou ou não um determinado movimento, se se protegeu ou não, ele tem que olhar para a frente e avaliar como o seu portfólio será abordado a partir dali. Como existem movimentos no mercado macro que são mais curtos, você consegue avaliar a reação dos gestores frente a esse movimentos.
O nosso mandato é para gestão de crédito. Nessa gestão, nós compramos operações que vão vencer daqui a 2, 3, 4 ou 5 anos. Para que possamos fazer uma avaliação completa da performance do portfólio, é preciso de mais tempo para analisar como esse portfólio de crédito está se desenvolvendo ao longo dos ciclos econômicos. Nós gostamos de dizer que depois de quatro a cinco anos é que se consegue fazer uma boa avaliação da performance desse tipo de portfólio.
Nós completamos 4 anos em dezembro de 2023 e tivemos uma ótima performance, de forma absoluta e relativa, dos nossos produtos. O que ajudou muito foi que a Asset ganhou escala na estrutura do banco. O BBM era um banco muito antigo (1858) e que fazia crédito há muito tempo. Eu posso dizer que hoje o BBM faz crédito da forma como ele fazia há 50 anos. O banco já passou por diversos momentos, por diversos ciclos econômicos, e soube navegar muito bem em todos eles.
Como esses créditos são escolhidos?
Nós somos muito ativos no mercado primário e no mercado secundário, e os nossos fundos são compostos por ativos das mais diversas classes. Eles têm ativos como títulos públicos soberanos, que possuem o melhor risco, ativos bancários como LFs (Letras Financeiras), debêntures high grade, debêntures middle yield e debêntures high yield, que vão ser mais intensivas em garantias, bonds e até mesmo operações bilaterais, que têm menos liquidez.
Sempre que uma oportunidade é identificada, nós trazemos essa operação para o processo de investimento. Se queremos aumentar a locação no setor de utilities, nós vamos ao mercado e procuramos debêntures do setor, por exemplo, de energia elétrica.
Para que esse emissor seja um candidato, nós temos que fazer toda uma análise fundamentalista de crédito e submetê-la ao comitê de crédito que é composto pelos principais participantes do comitê executivo do banco, o que dá governança ao processo. Todo e qualquer nome que tenhamos interesse em colocar no portfólio precisa ser aprovado nesse foro, sendo que ele é responsável por aprovar limites de crédito. Uma vez que esses limites são aprovados, o time de gestão volta para a cena, definindo como os limites serão utilizados e montando o portfólio.
Nós também sempre olhamos o portfólio como um todo, pois cada portfólio vai ter um prazo de resgate diferente, como Dzero, D+15, D+30 ou D+180. Como cada portfólio tem limites diferentes, eles vão ter concentrações nas diversas classes. Por exemplo, um portfólio que tem um prazo mais curto, como D+30, vai ter que ser mais concentrado em ativos mais líquidos, o que vai fazer com que ele tenha um target de retorno menor do que um produto que tem um prazo de resgate de D+180, que pode ter uma concentração maior em ativos ilíquidos, o que faz com que, naturalmente, o seu target de retorno seja maior.
No crédito existem três pilares, segurança, liquidez e retorno, sendo que você nunca tem os três juntos. Se você quiser ter um bom portfólio, com risco ajustado e com retorno, naturalmente, você terá que abrir mão da liquidez. Por exemplo, enquanto o nosso fundo D+180 tem um target CDI + 2%, 2,5%, o nosso fundo Dzero tem um target ao redor do CDI.
Existe perspectiva de se trabalhar com outros tipos de investimentos?
Nesse momento, nós não temos perspectiva de trabalhar com investimentos com risco diferente do risco de crédito. O nosso foco é o risco de crédito e vamos continuar com ele.
Nós temos hoje cinco produtos, sendo dois de crédito privado, o D+30 e o D+180, a família de cash management, que possui prazos de resgate mais curtos, como o Dzero, que tem um target de 100% a 104% do CDI, e o D+15, que tem um target de 104% a 107% do CDI. Além disso, nós temos o nosso fundo de previdência, cuja ideia de retorno fica entre CDI + 1%, 1,5%, semelhante ao nosso D + 30.
Agora, nós estamos expandindo a nossa grade de crédito para uma classe que está ficando bastante em voga: os fundos incentivados. Na verdade, ela sempre teve seu espaço, mas agora está ficando ainda mais interessante por causa das mudanças regulatórias, como o come-cotas para fundos fechados e a restrição de ativos isentos. Nessa esteira, nós vamos lançar dois fundos de infra, sendo um D+30 e o outro D+90. Dessa forma, nós vamos ofertar fundos isentos, não isentos e de previdência, além da nossa família de liquidez.
Como a Asset capta investimentos no ultracompetitivo mercado brasileiro de investimentos?
A palavra chave para responder a sua pergunta é excelência. O DNA do banco passa muito pela busca de excelência em ter sempre um produto de ótima qualidade. A ideia da Asset é que tenhamos produtos para os mais diversos investidores. Não à toa, nós temos buscado parcerias com os mais diversos fundos family office e com diversas plataformas. A ideia é colocar os nossos produtos disponíveis nas plataformas de forma a que eles sejam acessíveis não só para os clientes do BOCOM BBM, mas para todo o mercado.
Qual o principal diferencial da Asset?
A Asset está plugada num banco especializado em crédito. Esse é um diferencial muito grande, pois fazer crédito é muito caro. Por exemplo, os nossos principais produtos, Corporate Credit e o High Yield, carregam de 80 a 100 emissores. Cobrir essa quantidade de emissores com uma equipe enxuta é muito difícil. Assim, nós compartilhamos a equipe de análise de crédito do banco, que tem cerca de 30 pessoas, o que nos possibilita ter um portfólio bastante diversificado e um acompanhamento muito próximo de todos esses nomes.
Isso dá a segurança que o nosso portfólio de crédito precisa e a tranquilidade para o investidor na ponta final. Como a Asset está plugada no banco, nós conseguimos ter um gestão que tem suporte das áreas de crédito, do jurídico, do compliance, de produtos e de controle de crédito, uma área que é fundamental para monitorar a saúde das operações que são intensivas em garantias. Isso faz com que tenhamos mais de 80 pessoas participando do processo de investimento do início ao fim, o que dá a robustez e a segurança que um produto de crédito merece e precisa ter.