Reconhecido como um dos grandes intelectuais brasileiros, o economista paraibano Celso Furtado faria 100 anos este mês. Visitando seu apartamento em Copacabana para um bate papo/entrevista para uma revista de economia fluminense, no século passado, ficou em mim uma nítida impressão de estar diante de um legítimo cidadão do mundo, embora com fortes raízes nacionais e paixão pela sua terra.
Sua obstinação era o desenvolvimentismo. A primeira fase da industrialização no Brasil (1933–1955) ocorreu com o modelo de “substituição de importações”, implantado por Getúlio Vargas. A segunda fase da industrialização brasileira ocorreu a partir do Governo Juscelino Kubitschek (1956–1961), que impulsionou a industrialização pesada, dando início ao modelo nacional-desenvolvimentista.
O elemento “nacional” do desenvolvimentismo autocrático-burguês, a partir de 1964, adquiriu não mais o significado de “capitalismo nacional”, tal como ocorreu na etapa anterior, mas sim trouxe a ideia de um “nacionalismo” de caráter diferente, sendo a ideia da Nação associada à imagem do Brasil-Potência.
Isso prosseguiu de 1973 a 1980, com o Estado buscando dar um novo salto de crescimento da economia por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento (Governo Geisel). Nesse período tivemos um conjunto de obras públicas, aumentando bastante o endividamento externo do país.
No Governo Fernando Collor de Mello, a partir de 1990, deu-se o primeiro passo para a reestruturação do capitalismo brasileiro sob os moldes neoliberais visando, retomar o crescimento da economia por meio do combate à inflação e estabilização da moeda, adotando os pressupostos do novo modelo de desenvolvimento sob o domínio do mercado. A desnacionalização também foi a tônica do Governo FHC.
No tempo presente, a perda de autonomia de nosso país é tão intensa que até na produção de petróleo e gás, onde se destaca a exploração do pré-sal na Bacia de Santos, simplesmente, 2/3 dos fornecedores da indústria extrativa, que paga bons salários, vem do exterior, custando preciosos dólares.
Hoje, de modo diferente da proposta desenvolvimentista/industrialista de Furtado, a prioridade é cortar direitos trabalhistas e sociais como forma de permitir a recuperação das taxas de lucros do capital privado. Confirmando essa opção, na crise atual, mais de 90% da renda das famílias brasileiras mais pobres é oriunda da renda emergencial promovida às pressas pelo Governo Federal, através da Caixa Econômica Federal.
As outras prioridades de nossa elite dirigente (incluindo aí o Legislativo) são capturar o Fundo Público que paga juros equivalentes a 5% do PIB todo ano e vender na “bacia das almas” nosso rico patrimônio nacional, das águas ao petróleo.
Como Furtado faz falta nessa quadra de nossa vida política.
Ranulfo Vidigal
Economista.