A batalha pela liberdade de imprensa

Assange pronto para revelar os segredos do poder, novamente Por Edoardo Pacelli

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Protesto por Julian Assange em defesa a liberdade de imprensa (Foto: Fernando Frazão/ABr)
Protesto por Julian Assange (Foto: Fernando Frazão/ABr)

Com a obstinação de quem acredita em ideais e com enormes sacrifícios psicológicos e físicos, Julian Assange venceu a sua batalha, a batalha de todos pela liberdade de imprensa. Ele estava sendo acusado de revelar centenas de milhares de documentos confidenciais dos EUA sobre atividades militares e diplomáticas em todo o mundo, e crimes de guerra cometidos especialmente no Iraque e no Afeganistão.

Mas como foi possível que Assange tenha sido libertado após 14 anos de pesadelo? Segundo o acordo alcançado com o Departamento de Justiça norte-americano, Assange foi condenado a 62 meses de prisão por se ter declarado culpado de divulgação de informações relativas à defesa nacional. Já os tendo cumprido em prisão preventiva em Londres, foi, então, libertado definitivamente.

“Culpado de conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional.” Com estas poucas, mas pesadas palavras, pronunciadas para pôr um fim à sua provação judicial, Julian Assange confessou-se culpado perante a justiça norte-americana no tribunal de Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, território dos EUA no Oceano Pacífico.

A admissão de culpa do fundador do Wikileaks (o site internacional sem fins lucrativos que recebe documentos cobertos pelo sigilo de forma anônima e protegidos por um poderoso sistema de criptografia), de 52 anos, faz parte do procedimento negociado, concedido pelo presidente norte-americano, Joe Biden, que lhe permitiu desembarcar na sua terra natal, a Austrália, como homem livre, depois de ter cumprido cinco anos de prisão no Reino Unido.

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Um ritual necessário, mas formal, especialmente desde que o australiano assinou o acordo de confissão, no dia 24 de junho, no Reino Unido, antes de embarcar no jato privado, pago com uma angariação de fundos de mais de meio milhão de dólares.

Assim termina uma saga que, religando-se à publicação dos documentos do Pentágono, tendo como pano de fundo a guerra do Vietnã e o caso Watergate, representou, a nível internacional, a fronteira da liberdade de imprensa e da defesa dos direitos à informação livre. Assange tem lutado para evitar ser levado à justiça nos EUA, que o processa desde 2010 por tornar públicos mais de 700 mil documentos, classificados como secretos, sobre atividades militares e diplomáticas dos EUA. Com base em 18 acusações, segundo a Lei de Espionagem, ele poderia pegar até 175 anos de prisão.

A militar norte-americana que lhe entregou os documentos, Chelsea Manning, foi condenada a 35 anos de prisão por uma corte marcial em agosto de 2013, mas foi libertada sete anos depois, graças à comutação da sua pena pelo presidente Barack Obama.

Segundo o que foi reconstruído pela BBC, as manobras para a libertação de Assange ter-se-iam iniciado em 2022 e teriam se acelerado nos últimos meses, após a sentença do tribunal de Londres. O compromisso da linha de frente do governo australiano e as aberturas de Joe Biden estão por trás do momento decisivo que levou ao acordo de confissão.

Ainda segundo a reconstrução da BBC, as negociações que conduziram ao acordo tiveram início em 2022, quando o governo trabalhista, liderado por Anthony Albanese, tomou posse na Austrália. Albanese colocou a libertação de Assange entre as prioridades diplomáticas do seu governo, a tal ponto que, em outubro de 2023, durante uma visita à Casa Branca, ele falou sobre o assunto diretamente com o presidente dos EUA, Joe Biden. A BBC revela que, segundo várias fontes diplomáticas, Albanese também pressionou o governo britânico, através do embaixador Stephen Smith.

“Três coisas não podem ficar escondidas por muito tempo: a Lua, o Sol e a Verdade”; este é o lema de Julian Assange. Palavras que puderam ser lidas em seus olhos ao sair da prisão no Reino Unido e embarcar no avião particular, que o levaria à Austrália, pondo fim a 14 anos de pesadelo.

Depois de recuperar a saúde e as forças, Assange está pronto para retomar sua atividade como revelador de segredos indizíveis, porque, como afirma o historiador italiano Alessandro Morandotti, “todas as verdades já foram ditas, mas o espaço para outras mentiras é infinito”.

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.

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