Conversamos com Eduardo Barone, CEO do TC, sobre a corretora que a companhia está se preparando para lançar no mercado.
Qual a importância da corretora para o TC?
Para responder essa pergunta, eu vou voltar um pouco para contextualizar onde estamos no mercado. Antigamente, o mercado era concentrado nos grandes bancos, sendo que os clientes investiam através do seu banco, mas a XP fez um trabalho enorme de democratização dos investimentos para as pessoas que possuem um ticket menor. Com isso, nós tivemos o processo de digitalização da distribuição de produtos. Quando a XP deu esse avanço, ela criou outros produtos e mercados no Brasil. É aqui que entra o TC.
O TC começou em 2017 como um grupo de WhatsApp entre amigos que conversavam e faziam investimentos em conjunto, que chamamos de investimentos sociais. Com o tempo, o TC ganhou escala e começou a cobrar por esse acesso à informação. O TC foi ao mercado, fez o seu IPO, captou recursos e começou a reforçar a sua base de acesso à informação, enriquecendo a sua rede social para que investidores pessoa física tivessem acesso completo às informações da mesma forma que os investidores institucionais. O ponto é que como o mercado muda muito rápido, o TC percebeu que o acesso à informação estava perdendo valor e decidiu comprar uma DTVM, nesse caso, a Dibran, cujo processo de aquisição demorou dois anos para ser concluído.
Com isso, o TC mudou o seu modelo de negócio, deixando de usar a informação através da tecnologia como uma forma de adquirir clientes a um custo mais baixo que a concorrência, construindo assim a sua base de usuários, para começar a vender produtos financeiros para essa base, o que vai se tornar, em breve, a sua principal fonte de receita. Ou seja, virar uma corretora é essencial para o modelo de negócios do TC.
Nós queremos que as pessoas que entram na nossa plataforma para ter acesso à informação, façam investimentos de uma maneira bem fluida dentro da nossa rede social através da nossa corretora. Dessa forma, o coração do nosso negócio vai ser a corretora.
Como o TC pretende posicionar a sua corretora no mercado? Ela é apenas para a base do TC ou vocês também estão olhando para fora?
A ideia da corretora é ser a casa do trader, ou seja, de todos os investidores ativos. Um ponto importante é que nós queremos desmistificar a palavra trader, que é muito associada ao investidor de muito curto prazo. Em paralelo, nós vamos construir um business de custódia para que possamos custodiar fundos e vender suas cotas, além de vendermos emissões de renda fixa e variável em um futuro próximo, quando tivermos uma distribuição para sermos coordenadores de ofertas. Em suma, nós queremos ser uma casa full para atrairmos os traders.
Além disso, nós queremos atrair a geração que se comunica e aprende diferente quando comparada a nossa geração. Para aprendermos, nós sentávamos e abríamos um livro. Por exemplo, eu fiquei várias semanas debruçado sobre um livro do John Hull para aprender o que era uma opção. A geração de hoje quer aprender de uma maneira um pouco mais rápida e copiando, o que eu acho certo. Eles olham o que os outros fazem, perguntam e aprendem.
Se um trader perguntar a um dos nossos contribuidores o motivo pelo qual ele gosta tanto de uma determinada ação, ele pode receber a explicação de que essa empresa cresceu o seu caixa de forma consistente nos últimos trimestres. Com isso, ele vai poder consultar o Chat GPT para questionar o que é isso. Em algum momento no futuro, nós vamos ter toda essa inteligência artificial integrada dentro da plataforma.
Nós utilizamos muito a palavra fluída, pois queremos que o trader, uma vez que decida fazer o investimento, possa realizá-lo de uma maneira simples. Isso porque as experiências que temos hoje no mercado são complexas. Por exemplo, muitos aplicativos possuem muitos campos para serem preenchidos quando o investidor só queria comprar R$ 300 de uma determinada ação.
O TC quer criar links entre os traders e os contribuidores para que haja troca de informações, as pessoas possam assistir essas trocas e todos possam aprender. É dessa maneira que a corretora quer se colocar de forma diferenciada no mercado.
Em um mercado tão competitivo, quais são os diferenciais da corretora do TC?
Nós nascemos como uma corretora 100% digital, e como nós nascemos depois, nós temos a vantagem de aprendermos com os outros, vendo o que funciona e o que não funciona para começarmos de uma maneira diferente. Outro ponto é que a corretora nasce enredada dentro da nossa rede social, que possui vários contribuidores conversando com os usuários, que entram em uma trilha de educação muito fluida. Inclusive, nós vamos lançar um terminal para traders mais profissionais.
Nós estamos fazendo primeiro o pré cadastramento para criarmos um senso de comunidade, de “eu quero participar”, para depois lançarmos todo o cockpit do trader dentro do aplicativo. Através desse cockpit, o trader vai acompanhar as suas posições e ver os trades que deram certo e que deram errado. Com relação a fase negocial, ela deve ter início em, no máximo, três meses. Depois disso, nós vamos completando a nossa jornada, oferecendo todos os outros produtos financeiros.
Como o TC pretende rentabilizar a corretora?
A corretora vai ser 100% focada em pessoas físicas. Nós queremos entregar os melhores produtos, operações e investimentos baseados no conceito de investimento social, fazendo isso de uma maneira adequada e ponderando todos os eventuais conflitos que existem na cadeia de distribuição, o que não é fácil de lidar. Isso porque quando se distribui um produto, se cobra por essa distribuição, então nós temos que conseguir o equilíbrio para oferecermos os melhores produtos. Para isso, nós queremos ranqueá-los dentro da nossa plataforma. Além disso, nós queremos dar todos os disclaimers, sem nenhuma letra pequena, para que os nossos clientes possam tomar as suas decisões.
Nós queremos evitar esse jogo de rebates, até porque a regra está mudando. Assim, nós já vamos entrar com o novo arcabouço de distribuição.
Hoje, os usuários que utilizam a plataforma do TC operam no mercado através de outras corretoras. Como o TC vai fazer para que os seus usuários migrem para a sua corretora?
Com uma experiência de usuário incrível e com a gamificação. Através da gamificação, quanto mais o usuário interagir conosco, mas ele vai receber as nossas coins para trocar por produtos como, por exemplo, uma plataforma de negociação profissional, cujo serviço costuma ser bastante caro, ou destravar o nosso terminal Traders, que funciona como se fosse uma Bloomberg. Os usuários não vão receber as coins pelo pagamento de corretagem, mas sempre que, por exemplo, derem ideias de trades, postarem trades feitos ou criarem comunidades dentro do TC.
Esses fatores decisivos, mais a integração e a colaboração dentro da comunidade, vão fazer com que os investidores cheguem a conclusão que eles não precisam mais dar alt + tab ou scroll, ou mudar de página dentro do aplicativo ou abrir o aplicativo de outra corretora, para mandar uma ordem.