A crise no Rio Grande do Sul e o discurso da austeridade

Rentistas clamam por suicídio fiscal, governo quer saída keynesiana. Por Ranulfo Vidigal.

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Abrigo no Rio Grande do Sul (Foto: Pedro Piegas/Prefeitura Municipal de Porto Alegre)
Abrigo no Rio Grande do Sul (Foto: Pedro Piegas/Prefeitura Municipal de Porto Alegre)

Primeiro, tivemos notícias de devastação climática na Europa, queimadas na Califórnia (EUA), enchentes na China. Agora, temos um contingente de “refugiados do clima” na terra gaúcha – núcleo avançado do agronegócio, indústria e serviços de nosso país – a quarta economia mais importante entre as unidades da federação brasileira.

A situação presente se assemelha ao desastre promovido pelo Furacão Katrina em Nova Orleans (EUA), que destruiu a infraestrutura, danificou edifícios, redes elétricas, supermercados, hospitais, casas e diques. Entretanto, anos mais tarde, presenciamos a recuperação econômica daquela região, mediante investimentos públicos e privados que redinamizaram a rede hoteleira e o turismo de uma região rica em tradições culturais, com geração de empregos, abertura de empresas e queda na criminalidade.

No Brasil, o IBGE lançou uma força-tarefa para diagnóstico, planejamento e reconstrução das áreas atingidas, buscando capacitar gestores municipais gaúchos e disponibilizando diversas ferramentas para lidar com esta tragédia climática de grandes proporções.

A interrupção das rodovias e ferrovias reduz a atividade produtiva, bem como a interrupção dos voos reduz o fluxo de viagens, o aluguel de veículos e a demanda na rede hoteleira. Na atividade comercial, 60% das cidades gaúchas foram afetadas, impactando cadeias de abastecimento e preços relativos de bens e serviços.

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Enquanto o Governo Federal planeja uma saída keynesiana para a rápida superação do desastre ambiental, uma briga pelo domínio da agenda pública e uso do fundo público federal ganha destaque na mídia tradicional. Os detentores da Dívida Pública Federal – aquela que gera rendimentos anuais de R$ 700 bilhões, ou algo próximo a 6% do PIB – exigem mais austeridade fiscal, desvinculação do gasto em saúde e educação e nova Reforma da Previdência.

Por outro lado, uma ala governista considera relevante a aceleração do gasto primário para garantir investimentos na reconstrução do Rio Grande do Sul, entendendo, corretamente, seu impacto multiplicador sobre a qualidade de vida do cidadão gaúcho, bem como uma resolução definitiva do endividamento interno gaúcho.

Para me auxiliar no debate desse tema urgente da vida brasileira, trago a contribuição do economista Thorstein Veblen – um crítico ferrenho do modo de produção vigente. Ele argumentou que o capitalismo cria uma divisão desigual de riqueza e poder, com uma classe ociosa (hoje representada pelos rentistas de plantão) que vive às custas do trabalho dos outros, perpetuando a desigualdade e a exploração. Além disso, Veblen criticou a mentalidade capitalista de busca por lucro, que leva às práticas antiéticas e a uma falta de consideração pelos impactos sociais e ambientais de determinadas atividades econômicas.

Dado que o desequilíbrio ambiental veio para ficar, o papel do poder público no planejamento da prevenção, mitigação e resolução dessa questão mostra-se crucial na agenda de políticas públicas em todo o país. Colapsa o discurso “austericida” do mercado!

Ranulfo Vidigal é economista.

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