Primeiro, tivemos notícias de devastação climática na Europa, queimadas na Califórnia (EUA), enchentes na China. Agora, temos um contingente de “refugiados do clima” na terra gaúcha – núcleo avançado do agronegócio, indústria e serviços de nosso país – a quarta economia mais importante entre as unidades da federação brasileira.
A situação presente se assemelha ao desastre promovido pelo Furacão Katrina em Nova Orleans (EUA), que destruiu a infraestrutura, danificou edifícios, redes elétricas, supermercados, hospitais, casas e diques. Entretanto, anos mais tarde, presenciamos a recuperação econômica daquela região, mediante investimentos públicos e privados que redinamizaram a rede hoteleira e o turismo de uma região rica em tradições culturais, com geração de empregos, abertura de empresas e queda na criminalidade.
No Brasil, o IBGE lançou uma força-tarefa para diagnóstico, planejamento e reconstrução das áreas atingidas, buscando capacitar gestores municipais gaúchos e disponibilizando diversas ferramentas para lidar com esta tragédia climática de grandes proporções.
A interrupção das rodovias e ferrovias reduz a atividade produtiva, bem como a interrupção dos voos reduz o fluxo de viagens, o aluguel de veículos e a demanda na rede hoteleira. Na atividade comercial, 60% das cidades gaúchas foram afetadas, impactando cadeias de abastecimento e preços relativos de bens e serviços.
Enquanto o Governo Federal planeja uma saída keynesiana para a rápida superação do desastre ambiental, uma briga pelo domínio da agenda pública e uso do fundo público federal ganha destaque na mídia tradicional. Os detentores da Dívida Pública Federal – aquela que gera rendimentos anuais de R$ 700 bilhões, ou algo próximo a 6% do PIB – exigem mais austeridade fiscal, desvinculação do gasto em saúde e educação e nova Reforma da Previdência.
Por outro lado, uma ala governista considera relevante a aceleração do gasto primário para garantir investimentos na reconstrução do Rio Grande do Sul, entendendo, corretamente, seu impacto multiplicador sobre a qualidade de vida do cidadão gaúcho, bem como uma resolução definitiva do endividamento interno gaúcho.
Para me auxiliar no debate desse tema urgente da vida brasileira, trago a contribuição do economista Thorstein Veblen – um crítico ferrenho do modo de produção vigente. Ele argumentou que o capitalismo cria uma divisão desigual de riqueza e poder, com uma classe ociosa (hoje representada pelos rentistas de plantão) que vive às custas do trabalho dos outros, perpetuando a desigualdade e a exploração. Além disso, Veblen criticou a mentalidade capitalista de busca por lucro, que leva às práticas antiéticas e a uma falta de consideração pelos impactos sociais e ambientais de determinadas atividades econômicas.
Dado que o desequilíbrio ambiental veio para ficar, o papel do poder público no planejamento da prevenção, mitigação e resolução dessa questão mostra-se crucial na agenda de políticas públicas em todo o país. Colapsa o discurso “austericida” do mercado!
Ranulfo Vidigal é economista.