O Relatório de Riscos Globais 2025, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, aponta a desinformação como o maior perigo imediato para a humanidade. Esse fenômeno, que por muito tempo distorceu processos democráticos, influenciou eleições e minou a confiança em instituições públicas e no jornalismo, alcança agora um novo patamar com a chegada de novas tecnologias de fácil acesso. O impacto da informação falsa ou enganosa, disseminada com intenção maliciosa, já não se limita mais ao campo político. Agora, ela está se infiltrando no mundo corporativo, colocando empresas em uma posição vulnerável e acelerando um ciclo perigoso que ameaça a integridade das organizações. Em breve, a desinformação será um dos maiores obstáculos ao progresso e à confiança nas estruturas sociais e econômicas.
Organizações criminosas se aproveitam de ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial generativa, para atingir grandes corporações — e usam as mesmas estratégias e canais de disseminação que foram, e ainda são, usados em campanhas de desinformação sociais e políticas.
Um dos casos corporativos mais recentes e significativos envolveu a Pfizer. A empresa farmacêutica foi alvo de campanhas de desinformação que questionavam a segurança e a eficácia de suas vacinas — um problema não só para a empresa, que teve a credibilidade corporativa e os preços de suas ações afetados, mas também para a saúde pública.
À medida que a desinformação se espalha por vários setores, as equipes de TI das empresas têm o papel crucial de ajudar na detecção e combate do problema. Elas devem se antecipar e combater as informações falsas com abordagens estratégicas. Como grande parte do maquinário de desinformação envolve deepfakes e IA generativa, os profissionais da área de tecnologia são desafiados a identificar e atenuar casos de desinformação. Um estudo da iProov, que pesquisou 500 executivos de tecnologia em seis países, constatou que 70% preveem um impacto significativo em suas empresas devido a ataques de deepfake e orientados por IA.
Combate com as mesmas armas
Apesar de serem peça-chave nas campanhas de desinformação, as empresas também podem aproveitar as tecnologias emergentes para combater o problema. Um exemplo são iniciativas como o Deepfake Detection Challenge, criado pela Meta e outras empresas de tecnologia para aprimorar a detecção de mídia manipulada. Outro é o Full Fact, uma plataforma que utiliza o aprendizado de máquina (machine learning – ML) para automatizar os processos de verificação de fatos.
As campanhas de informações deliberadamente enganosas trazem riscos de curto e longo prazo para as corporações. Uma questão particularmente desafiadora é o dano à reputação, pois a rápida disseminação de narrativas falsas pode superar a resposta de uma empresa, afetando negativamente seus clientes.
Outro desafio envolve implicações legais e regulatórias. As leis envolvendo desinformação estão se tornando cada vez mais complexas, e as empresas podem enfrentar ações legais se não conseguirem mitigar a desinformação — especialmente quando ela afeta os mercados e os consumidores. Além disso, podem ocorrer interrupções operacionais, já que falsas denúncias de violações de dados ou defeitos de produtos decorrentes de desinformação podem levar a perdas financeiras e a um escrutínio regulatório.
Para enfrentar essa ameaça crescente, as empresas precisam de uma combinação de tecnologia avançada, monitoramento vigilante e estratégias de comunicação abrangentes. Os investimentos em ferramentas de IA e ML para monitoramento e resposta proativa, como a detecção de tendências e fontes de desinformação, podem ser muito valiosos. Além disso, a educação sobre a mídia para funcionários, partes interessadas e o público em geral pode ajudar a criar resiliência contra a desinformação.
As empresas também devem se concentrar em mensagens transparentes e oportunas ao combater a desinformação. É essencial ter um plano de comunicação de crise pronto para essas situações. A parceria com organizações independentes de verificação de fatos pode aumentar ainda mais a credibilidade no combate a informações falsas.
O aumento da desinformação tornou-se, hoje, uma mudança de paradigma na segurança cibernética, e os tomadores de decisão de TI devem abordá-la com cautela. Empresas que investem em segurança contra campanhas de desinformação não apenas se protegem, mas também contribuem para fortalecer a checagem de fatos e a verificação do ambiente digital.
Por Priyanka Roy, Evangelista Empresarial Sênior da ManageEngine