A elite brasileira parece cronicamente inviável

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Bacurau (foto de Victor Jucá, divulgação)
Bacurau (foto de Victor Jucá, divulgação)

Os rescaldos da “doutrina do choque” imposta no Chile do regime Pinochet podem ser evidenciados na película O Baile da Vitória, onde o personagem principal rouba o cofre de uma autoridade do governo num golpe genial, diante de uma sociedade onde as relações mercantis dominam o centro de tudo. Surge muita marginalização, informalidade e alto desemprego. Diante de uma burguesia cada vez mais rica, observamos o estado social em frangalhos.

A crise sanitária brasileira evidencia a tentativa de nossas elites em criar na terra da jabuticaba o mesmo modelo. Nosso SM real de 200 dólares é 1/3 menor que há 10 anos. A má vontade em destinar um mínimo de recursos para a Saúde Pública, ou para auxiliar desempregados e informais, é um fato.

Aliás, no mesmo jornal de economia e finanças de nossa terra da jabuticaba, do BBB, do Carnaval e do futebol, leio um “analista” justificar o auxílio emergencial de, no máximo, 375 reais mensais para os trabalhadores informais e desempregados estimados em 40 milhões de brasileiros e, na mesma edição, vejo publicado o recibo de um simples almoço de outro repórter entrevistando uma celebridade do esporte com valor exato de 358,78 reais. Esse é o retrato de um país que pratica a mais alta desigualdade de renda e oportunidades nas Américas e vive uma estagnação econômica desde 2015.

Na mesma edição do jornalão corporativo, um economista/financista exige alta urgente na taxa de juros que remuneram os títulos do Tesouro. Pasmem! Se o cristianismo é, segundo Nietzsche, o platonismo para as massas, a austeridade fiscal permanente tornou-se o “reino dos céus” que as elites brasileiras vendem ao povo. O lado especulativo da economia rentista jamais perde. Basta ver o recuo de 4,8% na renda média do brasileiro em 2020, contra um ganho com operações em dólares de 29,4%.

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Há um ditado popular que afirma “que os olhos são inúteis, quando a mente é cega”. Agora, o tema em discussão no meio das esquerdas é a hipótese de intervenção externa no processo político brasileiro. Sugiro aos incautos assistir a película Bacurau, que se baseia na organização popular contra invasores externos. Nossos problemas são nossos, e as nações ricas estão somente interessadas em nossas riquezas e recursos naturais.

Apesar de tudo, não podemos perder as esperanças. Um filme argentino recente intitulado A ousadia dos tontos, ao mostrar as agruras do povo portenho com o “corralito” – que congelou depósitos bancários em dólar – teve um final mais interessante com o drible dado pelos cooperativados no vilão ambicioso e corrupto.

 

Ranulfo Vidigal é economista.

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