A espera dos mil dias

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De uma perspectiva de crescimento do PIB de 2,55% para 0,81%, segundo o boletim Focus do Banco Central entre o fim de 2018 e a última edição de julho de 2019, só se pode esperar que haja o encolhimento ainda mais das estimativas e, talvez ou quase certo, que 0,5% para este ano seja lucro. No início do ano, com a posse do novo governo, esperava-se que houvesse a retomada da economia, reformas e uma série de medidas anunciadas que pudessem resolver o déficit fiscal e os problemas econômicos estruturais.

O otimismo da população para o governo Bolsonaro estava elevado. Segundo pesquisa da XP Investimentos em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), o presidente eleito tinha 57% de aprovação e 20% de reprovação esperadas. O levantamento, realizado entre 21 e 23 de novembro, ouviu 1.000 pessoas e demonstrava que, enquanto o governo Temer saía com uma avaliação negativa – 64% viam como ruim ou péssimo – as esperanças estavam depositadas em 2019. “É difícil criticar a equipe econômica, pois todos os indicados para postos relevantes têm uma visão liberal. Chicago está na moda”, declarou o ex-diretor do Banco Central e atual CEO da gestora de recursos Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, na edição de janeiro da Revista RI.

Esqueceu-se Figueiredo, que a escola de Chicago, não fez a renda média do norte-americano crescer entre os anos 1970 e 2000. Pelo contrário, enquanto os grandes executivos se tornaram superpoderosos, os trabalhadores viram seus ganhos encolher e é a classe média-baixa que faz a economia girar através do consumo. Nos primeiros anos de 2000, os CEOs norte-americanos ganhavam, em média 367 vezes a mais que um trabalhador médio, enquanto na década de 70, a relação era de “apenas” 40 vezes.

“Nas décadas de 1930 e de 1940, foram criadas instituições e estabelecidas normas que limitavam a desigualdade; a partir da década de 1970, essas instituições e normas foram desmanteladas, levando a crescente desigualdade. A explicação baseada em instituições e normas integra a ascensão e queda dos Estados Unidos de classe média em uma única história”. As aspas fazem parte do livro do economista norte-americano Paul Krugman, intitulado A Consciência de um Liberal, e qualquer semelhança com o que está sendo apregoado no Brasil, diante do enfraquecimento dos sindicados, flexibilização das normas trabalhistas ou reforma da previdência, não é coincidência.

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Além da queda do PIB per capita motivada pela crise desta década, que só perde para os anos 90, a redução do protecionismo governamental, que tem olhado mais a oferta que o consumo, fará com que haja uma disparidade ainda maior da renda dos brasileiros. Em outras palavras, a classe média ficará ainda menor.

O despreparo demonstrado pelo governo nos primeiros 100 dias, contaminou os outros meses que virão por aí. Conforme já falado tantas vezes nesta coluna, não há crescimento sem demanda, mas somente agora o governo se atentou a isso, ao anunciar, de maneira torpe, a liberação de parte dos recursos do FGTS. É uma medida emergencial, que só servirá para evitar que a economia volte a encolher. Nada demais: a gente dá um troco para o povo consumir, a demanda aumenta pontualmente e 2019 não vai para o buraco. O pior disso tudo é que nem o presidente sabe direito do que está falando. Tanta crítica a Temer para fazer o mesmo que ele, mas de maneira piorada. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, declarou nesta sexta-feira que a informação de liberação de saques do FGTS vazou antes de o governo ter concluído os estudos sobre o tema! Como assim, não há estudos concluídos?

A reforma da Previdência passou no Congresso. E agora? O arcabouço liberal não olha para a renda da população. Há a precarização do trabalho no Brasil, que gera a informalidade, que rebate na previdência, que será alterada, caso as mudanças passem pelo Senado. O brasileiro tem cada vez menos renda, o que significa menos consumo e menos investimento. Se hoje, 2,55% de crescimento é um sonho distante, o que se dirá na próxima década? É, 0,5% tá bom demais para o Brasil Liberal.

Ana Borges

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