A esperança de um Papai Noel generoso

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Otimista por natureza – e não poderia ser diferente – o comércio sonha mais uma vez com um Papai Noel generoso, com farta distribuição de presentes. Esse é o mundo ideal. Com esta esperança, o Natal deveria fazer não apenas a alegria das crianças e das famílias, mas também dos comerciantes. Para estes, o melhor presente viria com o retorno dos investimentos feitos para as festas de fim de ano em treinamento do pessoal, melhores condições de trabalho, com vistas ao atendimento de qualidade a um consumidor cada vez mais exigente e, claro, retorno comercial.

Afinal, a maior data comemorativa do consumo mundial responde, no Brasil, para determinados segmentos, por um quarto do faturamento do comércio no ano inteiro. Bom para os lojistas, ótimo para a cidade e o estado, que arrecadam mais impostos e também para os comerciários que ganham mais comissões sobre as vendas.

Não custa lembrar que o Natal já foi comemorado como o das multiclasses, do presente farto, e logo depois foi o das lembrancinhas e dos presentinhos. Agora, este ano, ainda é uma incógnita diante do cenário econômico que vive principalmente o Estado do Rio de Janeiro.

Pode ser o Natal econômico, causado pelo crescente desemprego, inflação em alta (que corrói o salário e diminui o poder de compra) e dos juros exorbitantes que formam um assustador conjunto de fatores negativos que afugentam e inibem as pessoas de comprarem.

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Não foi também sem razão que todas as datas comemorativas, que geralmente dão fôlego ao comércio, este ano não atingiram as expectativas esperadas, fato constatado por todos os institutos especializados em pesquisas sobre o movimento do comércio.

Dentro desse contexto, este ano que está terminando não será de boas lembranças nem para os setores produtivos, nem para a sociedade como um todo. Todos tem sofrido as consequências da falta de perspectivas de melhora a curto e médio prazos.

Neste cenário, o Rio de Janeiro, em particular, é um dos estados mais atingidos pela atual situação. Se a recessão é grave em todo o país, aqui é ainda pior, pois nossa economia é extremamente dependente dos royalties do petróleo e tem como um dos seus alicerces uma ampla cadeia produtiva vinculada a Petrobras e às suas subsidiárias. Neste rastro a inflação, o desemprego, a violência e outros males como o desenfreado crescimento da camelotagem vem castigando e ameaçando conquistas recentes e lançando uma sombra sobre o futuro.

Estudiosos das mais variadas escolas de pensamento afirmam que as circunstâncias econômicas de um país influenciam diretamente o contexto de mercado, já que o estado geral da economia afeta o comportamento individual do consumidor, ao determinar sua disposição de compra.

Como estímulo ao comportamento do consumidor destacam-se os níveis de emprego, salário e a disponibilidade de crédito para consumo, bem como a oferta de produtos. Isso influi na redução ou na expansão do poder de compras das famílias, assim como na disposição de consumo a partir do otimismo ou pessimismo que levam as pessoas a comprar ou adiar as compras.

Na verdade, o bom desempenho da economia propicia o clima de otimismo que viabiliza as compras e encoraja os investimentos. É, portanto, o ambiente econômico quem dita o comportamento do consumidor. É a economia em desenvolvimento harmonioso que sustenta os ciclos de produção, emprego, consumo e progresso social. Não se conhece fórmula diferente.

O fato é que a pouco menos de duas semanas do Natal, são poucos aqueles que arriscam um palpite sobre como as vendas vão se comportar. Estudos de especialistas e institutos de pesquisas indicam que o consumidor está comedido e com medo de aumentar o seu endividamento. Outros afirmam que o espírito natalino supera tudo e estimula o consumidor para a compra. A verdade é que todos estão sentindo os reflexos dessa turbulência político-esconômico-social.

Certamente, devemos ter em mente a viabilização financeira do município e do estado, mas é de fundamental importância colocar na ordem do dia a discussão de um modelo tributário mais adequado à sociedade. A partir daí podemos avançar no grande trabalho que estamos empreendendo para despertar estímulos, afrontar conservadorismos e, principalmente, instigar a criatividade para repensar o comércio e o seu futuro.

E para não continuar levando sustos e depender apenas da indústria do petróleo e gás, urge investimentos em outros setores produtivos, que geram emprego e renda e que colaboram para o desenvolvimento, especialmente o comércio. É preciso toda atenção a estes setores, dando-lhes condições para enfrentar esse novo mercado, que não perdoa a incompetência, mas que premia a eficiência e a qualidade no atendimento e na prestação de serviços.

O Natal que se avizinha é a última esperança do ano para recuperar o fôlego do setor que, a exemplo de todas as atividades produtivas, vem passando por uma série de dificuldades causada pela insistente crise econômica, que afastou o consumidor das compras.

 

 

Aldo Gonçalves

Presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) e do Sindicato dos Lojistas do Município do Rio (SindilojasRio) e diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

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