Mais de 33 milhões de eleitores, de 51 municípios brasileiros, foram às urnas no último domingo, 27 de outubro, para o 2º turno das Eleições 2024. Foram 102 candidatos a prefeito, 87 homens e 15 mulheres, das cidades brasileiras com mais de 200 mil eleitores e que não haviam escolhido seu representante no início do mês. Ao todo, 51 municípios brasileiros tiveram segundo turno confirmado, dentre eles 15 capitais. O número representa quase metade dos 104 municípios com mais de 200 mil eleitores do Brasil, onde o segundo turno era uma possibilidade.
O mau desempenho da esquerda nas eleições municipais nos grandes centros, somado à força de uma direita não necessariamente bolsonarista, faz com que uma das máximas propagadas nesse pleito ecoe cada vez mais: o eleitorado de Lula em 2022 é maior do que o da esquerda, dividida e sem ordenamento e estratégia, enquanto a direita se mostra maior que o bolsonarismo. A direita e o centro de fortaleceram nas prefeituras, enquanto a esquerda sai absolutamente enfraquecida. Os grandes vencedores nas eleições municipais foram os presidentes Gilberto Kassab, do PSD, e Baleia Rossi, do MDB, que mais elegeram prefeitos em geral nas eleições e empataram e número de reeleitos, dos 5, quatro obtiveram um novo mandato. Tais resultados mostram de forma incontestável a força de ambos os dirigentes.
Com essa fragmentação partidária existente no Brasil, e o descrédito do eleitor com a política, e isso fica claro com os elevados percentuais de abstenções, em São Paulo e em Belém, por exemplo, as abstenções foram maiores do que os votos somados dos segundos colocados em ambas as capitais, a estratégia agora dos líderes políticos será a de enxergar o futuro das eleições majoritárias, em 2026, corrigindo erros graves de posicionamento e observar o que as urnas registraram.
Lula e Bolsonaro saem menores, uma vez que não conseguiram transferir votos aos seus candidatos, uma demonstração de fraqueza de ambos frente a um eleitorado que quer ouvir propostas e espera por realizações, e não brigas intermináveis entre os dois líderes e baixarias, como as ocorridas, sobretudo em São Paulo, durante os vergonhosos debates, com direito a cadeiradas e xingamentos e ao baixo nível da campanha, com agressões às famílias de alguns dos candidatos.
Os partidos políticos, em número excessivo, e, consequentemente, desnecessário, fizeram um jogo muitas vezes perigoso, dando margem a comportamentos inaceitáveis de vários dos candidatos, como Pablo Marçal que, de forma desequilibrada e tresloucada, usou da agressão em suas falas, com ofensas e palavreado de baixo calão. Não foi apenas ele, mas Marçal se sobressaiu, talvez até porque estivesse concorrendo na maior cidade do Brasil e maior metrópole da América Latina.
Assim sendo, o ranking ficou assim dividido: o PSD levou cinco prefeituras das capitais, fazendo 887 prefeituras no total; o MDB, da mesma forma, ganhou em cinco capitais, e em 853 municípios; o União Brasil, em 4, e em 747 cidades do interior; o PL faturou 4 capitais, e 516 outras cidades; o Podemos, duas capitais; o PP, também duas capitais e 746 prefeituras; o Republicanos, uma capital, e 433 outras prefeituras; o PSB, 1 capital e 309 cidades; o Avante, uma capital; o PT, que já foi o partido com maior número de prefeituras, agora só levou uma, lá em Fortaleza e em uma eleição dificílima, além de 252 prefeituras, já chegou a ter quase 900 prefeitos em sua legenda; o PSDB, 272 prefeituras; e o PDT, 150.
Entre os partidos, o PL foi o partido com mais candidatos, com 22 nomes. O PT teve 13, e o União, 11. O resultado dos partidos em relação ao total de seus candidatos no 2º turno ficou assim distribuído: PL: 22 candidatos; seis foram eleitos (27,27%); PT: 13 candidatos; quatro foram eleitos (30,70%); União: 11 candidatos; cinco foram eleitos (45%, sendo que há mais um candidato do partido que teve o maior número de votos, mas está sub judice); MDB: 10 candidatos; sete foram eleitos (70%); PSD: 10 candidatos; nove foram eleitos (90%); Podemos: 6 candidatos; cinco foram eleitos (83,33%); PP: 6 candidatos; quatro foram eleitos (66,66%); Republicanos: 6 candidatos; três foram eleitos (50%); PSDB: 5 candidatos; três foram eleitos (60%); PDT: 3 candidatos; dois foram eleitos (66,66%); NOVO: 2 candidatos; um foi eleito (50%); PSB: 2 candidatos; não foram eleitos (0%); PSOL: 2 candidatos; não foram eleitos (0%); Avante: 1 candidato; foi eleito (100%); Cidadania: 1 candidato; não foi eleito (0%); PMB: 1 candidato; não foi eleito (0%); Solidariedade: 1 candidato; não foi eleito (0%).
Nas capitais, os vencedores, neste segundo turno, foram: Igor Normando (MDB) – Belém (PA); Abílio Brunini (PL) – Cuiabá (MT); Cícero Lucena (PP) – João Pessoa (PB); Léo (Podemos) – Porto Velho (RO); David Almeida (Avante) – Manaus (AM); Eduardo Siqueira Campos (Podemos) – Palmas (TO); Emília Corrêa (PL) – Aracaju (SE); Adriane Lopes (PP) – Campo Grande (MS); Eduardo Pimentel (PSD) – Curitiba (PR); Paulinho Freire (União) – Natal (RN); Sebastião Melo (MDB) – Porte Alegre (RS); Sandro Mabel (União) – Goiânia (GO); Evandro Leitão (PT) – Fortaleza (CE); Ricardo Nunes (MDB) – São Paulo (SP)e Fuad Noman (PSD) – Belo Horizonte (MG).
Com o segundo turno das eleições municipais ficou mais claro quem foram os vencedores e perdedores na política em 2024. Dentre os grandes vencedores estão o Centrão, a direita e centro-direita, que juntos, vão comandar a maior parte das prefeituras do Brasil. O destaque fica com o PSD, de Gilberto Kassab, partido que obteve o maior número de prefeituras no país, desbancando o MDB. O PSD também vai administrar o maior número de capitais: cinco, Florianópolis, Rio de Janeiro, São Luís, Curitiba e Belo Horizonte; – mesmo número do MDB, que vai administrar Macapá, Boa Vista, Porto Alegre, Belém e São Paulo.
No segundo turno, também saíram vitoriosos governadores da direita que se sobressaíram frente a um “bolsonarismo raiz”. É o caso de Ronaldo Caiado (União), de Goiás, que elegeu Sandro Mabel (União) na capital Goiânia, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, que elegeu Eduardo Pimentel (PSD), em Curitiba. O PL conseguiu aumentar em 50% o número de prefeituras conquistadas, mas teve derrotas em cidades importantes no segundo turno, como Fortaleza, Goiânia, Belém e Manaus. Já o PT registrou um aumento no número de prefeituras comandadas em comparação a 2020, mas muito atrás dos partidos de direita. Neste segundo turno, porém, o partido conseguiu uma vitória importante em Fortaleza, única capital que irá comandar.
Entre os grandes derrotados dessas eleições estão o PSDB, partido que já ocupou a Presidência do país por duas vezes e que tinha uma virtual hegemonia sobre a política de São Paulo – e não elegeu sequer um vereador na capital paulista; e o PDT e o clã da família de Ciro Gomes, no Ceará.
O Centrão e a direita e centro-direita tiveram vitórias importantes em capitais neste segundo turno, como Belo Horizonte (Fuad Noman, do PSD), Curitiba (Eduardo Pimentel, do PSD) e Goiânia (Mabel, do União Brasil). Em João Pessoa (PB), o prefeito Cícero Lucena (PP) se reelegeu ao vencer o ex-ministro Marcelo Queiroga (PL). E, em Natal (RN), Paulinho Freire (União) bateu a petista Natália Bonavides (PT). Esses resultados se somam às vitórias expressivas no primeiro turno, como Bruno Reis (União), em Salvador, e Lorenzo Pazolini (Republicanos), em Vitória.
A ampliação no número de prefeituras conquistadas pela direita no país é resultado de uma série de fatores e não pode ser, necessariamente, atribuído a uma suposta vitória do bolsonarismo, ainda que Jair Bolsonaro se mantenha como o principal nome deste campo político no Brasil.
Um levantamento mostra que dos 29 partidos registrados atualmente junto ao TSE, somente nove são de esquerda ou de centro-esquerda: PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB, PSTU, UP, PSOL e PCO. Os demais ou são de direita, centro-direita ou não se manifestam sobre isso em seus estatutos.
No primeiro turno, o destaque foi no Rio de Janeiro, com a reeleição do prefeito Eduardo Paes, quarta vez eleito prefeito da cidade e que se filiou ao partido de Kassab, em 2021. Paes teve mais de 60% dos votos válidos. O bom desempenho do PSD nas eleições municipais deixa o partido bem-posicionado para tentar mais espaço no governo Lula, em uma provável reforma ministerial. A legenda também se cacifa para as articulações políticas das eleições de 2026.
O PT ganhou mais prefeituras do que tinha, mas perdeu porque ficou menos relevante politicamente do que se imaginava, especialmente nos grandes centros urbanos. O PT ainda não conseguiu se recuperar do tombo pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e da operação Lava Jato.
Enquanto isso, em que pese o PL ter tido algumas derrotas importantes no segundo turno, como em Manaus, Fortaleza, Goiânia e Belém, o partido sai fortalecido das eleições, conseguindo aumentar em 50% o número de prefeituras conquistadas, saindo de 344, em 2020, para 516, em 2024.
As eleições municipais terminaram, as disputas pelo comando da Câmara dos Deputados e Senado Federal estão na ordem do dia e as estratégias para as eleições majoritárias de 2026 precisam ser revistas. Afinal, os resultados de outubro exibem de forma clara o atual panorama do Brasil, a descredibilidade do povo com os políticos, as abstenções são um raio x incontestável e a estrela do PT que desce ladeira abaixo, certamente porque o partido não se inovou e não mudou sua forma de agir e o crescimento das várias direitas, não necessariamente o ex-presidente Bolsonaro, que não empolgou e não disse a que veio nesse pleito.
Paulo Alonso é jornalista.