A face oculta da França

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Manifestação na França (foto de Jeanne Menjoulet, CC)
Manifestação na França (foto de Jeanne Menjoulet, CC)

A França tem sido, historicamente, um grande país. No entanto, fora dos grandes edifícios, das salas de reuniões das multinacionais e dos majestosos museus que contam a sua história, existem, também, outras faces de um país que, na Europa, talvez tenha continuado a ser o emblema de como é difícil a integração e de como esta seja complicada para conseguir combater as injustiças sociais.

E, entre os lugares onde esse aspecto é mais tangível, estão os subúrbios das grandes cidades, muitas vezes degradados, e mais comumente conhecidos como banlieue (expressão tirada da semântica medieval, que significa “lugar fora da cidade” – para onde o pessoal era banido). Um nome que, infelizmente, nos últimos anos, tem sido frequentemente associado a atentados terroristas, atividades criminosas e, sobretudo, a uma incubadora de injustiças sociais e terrorismo urbano.

Assim como acontece no resto da Europa, o alto custo dos aluguéis nas grandes cidades tem feito com que cada vez mais pessoas, por motivos de trabalho, tenham procurado as metrópoles em busca de moradia em seus arredores. E, durante o século passado, esse fenômeno contribuiu para o nascimento de grandes subúrbios urbanos, onde a grande agregação de famílias, muitas vezes com dificuldades econômicas, gerou um aumento inevitável da criminalidade e das criticidades diárias.

Em fevereiro passado, em menos de 24 horas, a morte de uma menina e de um menino (respectivamente de 14 e 13 anos) no departamento periférico de Ile-de-France, Essonne, foi preocupante. Em matéria publicada no jornal Le Monde, no dia 28 de maio passado, sob o significativo título “Morrer por seu bairro: a guerra de gangues em Evry”, os jornalistas franceses Stéphanie Marteau e Laurent Telo questionam o grande problema que está conturbando as periferias das cidades francesas.

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Por mais de 20 anos, adolescentes dos distritos de Canal e Pyramides em Evry-Courcouronnes (Essonne) lutam entre si. Por um centímetro de asfalto e reputação, eles colocam em perigo suas vidas, imersas em uma rivalidade sem fim.

O nascimento de gangues é um fenômeno que afeta desde cedo as classes sociais mais desfavorecidas dos subúrbios franceses. E, em particular, são precisamente os pequenos crimes e episódios de violência, que ocorrem na adolescência, que se destinam a marcar emocional e formalmente os indivíduos que, na idade adulta, estarão mais predispostos à reincidência do crime e da extremização.

No entanto, apesar de este problema ser bem conhecido no país, e embora os episódios ligados aos atentados terroristas dos últimos anos tenham chamado a atenção internacional para a situação na França, muito pouco foi feito pelas autoridades para limitar o fenômeno entre os jovens. Com efeito, em muitas ocasiões, protestos e revoltas da população dos subúrbios foram sufocados com a violência da polícia, por razões de segurança pública, sem, ao mesmo tempo, tentar resolver o problema do mal-estar social, na origem.

Na França das banlieuex, não há igualdade e fraternidade. A situação, infelizmente, parece fadada a piorar nos próximos anos; também, e sobretudo, devido ao agravamento das condições econômicas causadas pela pandemia do coronavírus.

Neste ponto de vista, portanto, a sensação é de que, nos próximos anos, haverá um novo desequilíbrio entre a população da periferia e a do resto do país, questionando os mesmos conceitos de igualdade e fraternidade com que é fundada e baseada a república francesa.

 

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália) e editor da revista Italiamiga.

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