A França está em perigo de guerra civil?

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Emmanuel Macron (Foto: Mauro Bottaro)
Emmanuel Macron (foto de Mauro Bottaro)

A França está em perigo de guerra civil? Este é o alarme de dezenas de generais, contido em uma carta, publicada pelo jornal Valeurs Actuelles, no dia 21 de abril, assinada por Jean-Pierre Fabre-Bernadac, que desencadeia as reações de toda a França que se questiona não só sobre o papel dos militares, mas, igualmente, sobre a condição do país.

Mas o que diz a carta? A carta tem um título muito claro: “Por uma recuperação da honra de nossos governantes: 20 generais pedem a Macron que defenda o patriotismo”. E o texto segue:

“A hora é séria, a França está em perigo, vários perigos mortais a ameaçam”, dizem os generais. “As nossas bandeiras tricolores não são apenas um pedaço de pano, mas simbolizam a tradição, ao longo dos séculos, daqueles que, independentemente da cor da pele ou da fé, serviram a França e deram a vida por ela. Nessas bandeiras, encontramos as palavras ‘Honra e Pátria’, em letras douradas. No entanto, nossa honra hoje está na denúncia da desintegração que afeta a nossa pátria”. E a desintegração decorre de “um certo antirracismo” que, segundo os militares, cria o pré-requisito para o ódio entre diferentes comunidades.

Um fenômeno que, com o islamismo e os clãs de subúrbios degradados, “leva ao desprendimento de partes da nação, para transformá-las em territórios sujeitos a dogmas contrários à nossa constituição”. A carta termina com um pedido de intervenção imediata do presidente e dos políticos e com uma advertência: “Então, senhoras e senhores, parem de procrastinar; o tempo é sério; o trabalho é colossal; não percam tempo e saibam que estamos prontos para apoiar políticas que levem em conta a preservação da nação. Se nenhuma ação for tomada, o relaxamento continuará a se espalhar, inexoravelmente, na sociedade, causando, eventualmente, uma explosão e a intervenção de nossos camaradas, na ativa, pela perigosa missão de proteger nossos valores de civilização e salvaguardar nossos concidadãos em todo o território nacional”.

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A ministra da Defesa, Florence Parly, condenou a carta, solicitando que fosse examinada a hipótese de “sanções” contra os militares aposentados que assinaram o recurso, enquanto Jean-Luc Mélenchon, da France Insoumise, anunciou que fará uma reclamação, por procuração, para averiguar o que está por trás da carta dos generais. Marine Le Pen se manifesta com um tom diferente: a dirigente do partido do Rassemblement National, nos microfones da France info, deu todo o seu apoio aos militares, dizendo que, nesse apelo, apenas pedem “a aplicação da lei”.

A França, portanto, parece dividida. Há quem acredite que esses generais só queiram mandar um sinal. Outros acham que existe realmente a possibilidade de um golpe, já que a carta foi publicada por ocasião do 60º aniversário do Golpe da Argélia, contra Charles de Gaulle.

Uma parte das Forças Armadas francesas parece estar cada vez menos satisfeita com a atual situação social e política que a França vive. E, nos últimos tempos, essa insatisfação aparece cada vez mais na superfície, não apenas relegada aos corredores dos quartéis ou do Ministério da Defesa. Essa vegetação rasteira de descontentamento começa a vir à tona, gradualmente. E os sinais são muitos, principalmente em uma fase de eleições presidenciais que prometem ser acirradas.

E esta carta, embora não necessariamente fundamental, pode, certamente, ser considerada um momento “sensacional”, na lógica da relação entre a política e as Forças Armadas na França. Depois, há o longo flerte dos coletes amarelos com o general Pierre de Villiers, ex-chefe de gabinete, caçado por Emmanuel Macron e que há muito é considerado um “populista”, que pode criar muitos problemas para os partidos tradicionais.

Ele também falou muitas vezes do perigo de uma guerra civil iminente, assim como denunciaram os signatários da carta publicada no jornal Valeurs Actuelles. E este jornal, em seus textos e entrevistas, muitas vezes se refere ao perigo de uma França desintegrada, sem valores compartilhados, sem tradições, invadida e incapaz de expressar seu próprio poder internacional.

Os pontos em comum com o conteúdo expresso pelos generais da carta são muitos. E para a França, que em sua história teve generais considerados os únicos líderes capazes de unir o país, o sinal certamente não deve ser subestimado.

 

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália) e editor da revista Italiamiga.

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