Os conceitos e práticas da responsabilidade socioambiental e correlatos têm origens diversas, muitas delas perceptíveis nos muitos movimentos libertários originados nos anos 1960 e 1970, mais frequentes e incisivos no Hemisfério Norte, mas também verificados no Hemisfério Sul. Este debatia-se contra governos autoritários, como o Brasil, que frearam avanços sociais, artísticos, políticos e nos costumes entre outros.
Choque de gerações
Há quem situe nas dificuldades dos Estados nacionais de financiarem os benefícios do chamado estado do bem-estar, frente aos custos dilatados, advindos dos choques do petróleo (de 1973 e de 1979, principalmente). Quaisquer que sejam as causas principais, é indisfarçável que houve no movimento um choque intergeracional.
Naquela quadra da História, deu-se um fenômeno nunca antes registrado com tamanha extensão e profundidade. Pela primeira vez, teve início a mudança de mãos mais velhas para mãos mais jovens do bastão do domínio tecnológico, metodológico e científico, que viria a se intensificar e se estender até os dias de hoje, estabelecendo outras relações interpessoais. Sobretudo, novos valores, no avanço constituinte de uma nova ética, como em uma guerra civil.
Pode chamar de Johnny Hallyday
A música pop experimentou do mesmo, através de novas formações artísticas e de canções chamadas muitas vezes de “canções de protesto”. Lançada em 1966, uma das mais incisivas destas canções, que funcionaram como verdadeiros hinos propulsores das mudanças éticas, foi lançada por Jean-Philippe Smet, com o nome artístico de Johnny Hallyday (Paris, 15 de junho de 1943 – Marnes-la-Coquette, 5 de dezembro de 2017).
Provavelmente, em vista da escalada da Guerra Fria, que levou os países líderes a fortalecerem-se nas suas áreas de influência, o território europeu figurava como palco de uma possível guerra nuclear, o novo mundo que se pretendia construir repercutia no velho continente, mais do que em qualquer outro cenário.
Não foi sem motivo que o velório de Johnny Hallyday contou com a presença de quatro ex-presidentes franceses, a saber, Jacques Chirac (34 anos em 1966); Nicolas Sarkozy (11 anos em 1966; a mesma idade que eu tinha quando comprei, no Brasil, o meu vinil de Johnny Hallyday com a faixa La génération perdué); François Hollande (12 anos em 1966); Emmanuel Macron (nascido em 1977). Velório como o de todo chefe de Estado.
As razões que levaram à evolução rápida e transversal do desenvolvimento sustentável, da economia de baixo carbono, do fairplay, das relações éticas nas áreas atribuídas à economia (desemprego, crescimento, austeridade etc.), mudanças climáticas, meio ambiente (preservação das florestas em pé etc.), sociais (fome, habitação etc.) etc. O alcance da letra de La génération perdué pode ser confrontado a seguir:
La génération perdué
Les mains tendues, tu réclames la liberte
As mãos estendidas, reclamas a liberdade
À ton père qui ne peut pas, et ne veut pas comprendre
A teu pai que não pode que não quer compreender
Il voudrait te voir derrière son établi
Ele queria te ver numa oficina
Un marteau en main toute ta vie
A vida inteira com um martelo na mão
Samedi soir la sortie est obligatoire
Sábado à noite a saída é obrigatória
Et s’arrête au cinéma
e se limita ao cinema
Et dans les froids moments de l’incertitude
nos momentos frios da incerteza
Il y a au plus profond de ta solitude
Há no mais profundo de tua solidão
Derrière les murs de l’incompréhension
Atrás dos muros da incompreensão
Un espoir rempli de passions
Uma esperança cheia de paixões
Tu prendras l’avenir comme il te viendra
Tu aceitarás o futuro como ele vier
Si tu veux, il sera pour toi
Se quiseres que ele seja teu
Et dans les rues mouillées aux couleurs de l’ennui
Nas ruas molhadas pelas cores do tédio
Et son chien qui hurle au silence de la nuit
Um cão ladra no silêncio da noite
Ton cœur trop serré a envie d’exploser
Teu coração angustiado tem vontade de explodir
À la face d’un monde résigné
Diante de um mundo resignado
Tes yeux aveugles par l’enfance trompée
Teus olhos cegos pela infância enganada
S’ouvriront sur la vérité
Se abrirão para a verdade
Ta génération en veut à la Terre entière
Tua geração odeia todo o Mundo
Le long des routes, ils ne trouvent que la misère
Pelo caminho só encontra a miséria
Mais tes doigts sont en or et sur ta guitare
Mas teus dedos são feitos de ouro e na tua guitarra
Tu joueras pour sortir du noir
Tocarás para sair da escuridão
Devant les lumières de la célébrité
Diante das luzes da fama
Tu pourras faire briller le nom
Farás brilhar o nome
Que ton père t’a donné
Que teu pai te deu
Oui, que ton père t’a donné.
Sim, que teu pai te deu.
Compositores: Jean-Philippe / Leo Smet / Johnny Hallyday
Autor: Chris Long
La génération perdéu © Ed. Tulsa