A greve na USP

Quadro de professores não acompanhou aumento do número de Universidades. Por Isaac Roitman

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Ato dos estudantes em greve na USP
Ato dos estudantes em greve na USP (foto de Rovena Rosa, ABr)

Os estudantes da Universidade de São Paulo (USP), a mais importante do País, estão em greve. A principal reivindicação é a contratação de novos professores. Esse cenário não é exclusivo da USP, mas de todo o sistema universitário público do País.

O aumento do número de Universidades e de estudantes não foi acompanhado de aumento do quadro de professores e servidores. São raros e concorridos os concursos para a contratação de novos professores. Paradoxalmente, o nosso sistema de pós-graduação tem produzido mestres e doutores com excelente formação. A maioria não é absorvida nos ambientes acadêmicos e de pesquisa e nos setores produtivos. Muitos emigram para outros países, causando uma anemia de saberes e cientistas.

Essa hemorragia, chamada de “fuga dos cérebros”, precisa ser estancada. É preciso que os poderes legislativos e executivos revertam essas circunstâncias. Os investimentos em educação e ciência e tecnologia devem ser adequados para as necessidades e para o crescimento do sistema.

Nossos gestores são verdadeiros malabaristas financeiros para manterem as instituições ativas. Mas tudo, tem seus limites. Entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC) têm esse objetivo dentro de suas metas e bandeiras.

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Precisamos ouvir e dialogar com os estudantes. As ações afirmativas na educação implantadas na última década estão em risco. A evasão dos estudantes está aumentando consideravelmente, pois eles não têm condições de ordem econômica para continuarem seus estudos. É preciso implantar ações emergenciais para reverter essa trágica realidade.

Penso que as reivindicações de estudantes, para a redução do preço das refeições e da meia entrada no cinema, são legitimas. No entanto, a principal meta deve ser a exigência de uma educação de qualidade, não só para o mundo do trabalho, mas sobretudo para a cidadania.

Valores como solidariedade, ética, compaixão e outros devem ser incorporados desde a primeira infância até a pós-graduação. A verdadeira educação é lúdica e prazerosa. Lembremos o pensamento de John Dewey: “A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida.”

É pertinente lembrar o notável pensamento de Rubens Alves, destacando a parceria da educação e das artes:

Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

Rubens Alves

Vamos torcer para que os diálogos sobre a greve dos estudantes da USP sejam respeitáveis e construtivos, e que possam indicar caminhos para termos um Brasil e um Mundo que queremos.

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e do “Movimento 2022–2030 o Brasil e o Mundo que queremos”.

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