A guerra dos juros e os juros da guerra

84

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu pela elevação da taxa básica de juros para 26,5%, mantendo, nos primeiros meses desse ano e já sob o novo governo, a tendência de alta iniciada no segundo semestre do ano passado, ainda sob o governo anterior. Além disso, em uma medida que tenta encurtar ainda mais a liquidez da economia, foi aumentada a alíquota de recolhimento compulsório das instituições financeiras junto ao Banco Central.
De fato, ambas as medidas sinalizam encarecimento e aperto do crédito, e que o Banco Central, apesar de não vir obtendo resultados com esse tipo de política para baixar as taxas de inflação ou diminuir o processo especulativo em relação à divisa norte-americana, vai continuar a sua “guerra dos juros”.
É uma medida que tem como centro de sua defesa o medo de que a inflação fuja ao controle – o que mostra que, na luta entre a esperança e o medo, o medo ainda tenta virar o jogo – e a tentativa de aferrar-se ao modelo de metas de inflação acertado entre o Banco Central e o Fundo Monetário Internacional desde os acordos de 1999.
O fato é que a reafirmação do centro da política macroeconômica do governo anterior está colocando em uma rota de colisão o núcleo de formulação e execução da política econômica do novo governo com a base econômica e social mais diretamente ligada à produção, sejam empresários produtivos e trabalhadores, sejam suas organizações de representação, como sindicatos, federações e centrais sindicais, que é um dos sustentáculos mais importantes do time da esperança de mudanças no país.
Não é à toa que os porta-vozes desses setores apareceram em massa nos mais variados meios de comunicação do país expressando posições que vão da perplexidade à crítica ácida em relação às deliberações do Copom.
É bom ainda perceber que os efeitos de desestímulo à produção ocorrem em um ambiente de estagnação econômica e desemprego alto. Daí o clamor renovado por mudanças e pela renovação da esperança.
Fundamental seria, para essa retomada de expectativas positiva, que os formuladores econômicos do novo governo sinalizassem rapidamente em relação aos novos objetivos e aos prazos a serem vencidos no, sempre reafirmado, processo de transição entre o modelo econômico vigente até aqui e a nova fase de estímulo à produção, ao crescimento, ao emprego e à distribuição da renda sinalizada durante o período da campanha eleitoral do ano passado.
Se o quadro de relativa calmaria induz esses formuladores da política econômica recente a manterem a política seguida até aqui, a proximidade da deflagração de novo conflito no Oriente Médio, dada a insistência norte-americana de resolver pela força das armas diferenças que até o momento a grande maioria dos governos nacionais (o do Brasil incluído) afirma serem passíveis de resolução pela via da negociação diplomática, e sabendo das pesadas consequências que podem advir desse conflito para o Brasil, com a necessidade de reestruturar rapidamente importantes setores econômicos (como o de energia, por exemplo), não seria esse um mote importante para repensar, dentro desses possíveis novos marcos, inclusive uma alternativa mais do que possível para a política monetária, favorecendo o investimento, a produção e o emprego?

Adhemar S. Mineiro
Economista, membro do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL e co-autor do livro O Desmonte da Nação em Dados (Ed. Vozes, 2002).

Espaço Publicitáriocnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui