Conversamos sobre a inflação de 0,48% de setembro com Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg. No ano, o IPCA acumula alta de 3,64%, e nos últimos 12 meses, 5,17%.
Qual a sua avaliação sobre a inflação de setembro?
A inflação de setembro veio um pouco melhor do que o esperado, muito em função de uma surpresa positiva no comportamento dos preços dos alimentos, tanto da alimentação no domicílio, que caiu 0,43%, bem alinhado com as nossas projeções, quanto da alimentação fora do domicílio, que subiu, mas dentro do que esperávamos. Ainda assim, o número de setembro veio alto, basicamente por causa do efeito da energia elétrica.
Em agosto, nós tivemos o bônus de Itaipu, que produziu uma redução dos preços de energia, sendo que em setembro os preços voltaram à normalidade, com uma alta de 10,9%, o que fez com que os preços administrados subissem 1,87%. Essa foi a principal influência negativa no IPCA do mês passado.
Como a inflação deve se comportar no restante do ano?
Nós esperamos um comportamento relativamente benigno para outubro, novembro e dezembro. De antemão, nós já sabemos que a bandeira tarifária caiu de vermelha 2 para vermelha 1, o que deve ajudar a energia elétrica a cair cerca de 5% em outubro, depois de ela ter sido a vilã de setembro. Com relação aos Serviços, a inflação deve ser um pouco mais pressionada, assim como foi em setembro.
A grande dúvida até o final do ano é a alimentação. Nós temos um cenário de incerteza em relação aos comportamento dos alimentos semielaborados, basicamente carnes, aves, ovos, suínos e frangos, e dos alimentos in natura, que no final do ano costumam ser pressionados pelas chuvas mais fortes.
A grande dúvida é se a pressão dos alimentos in natura vai vir junto com a pressão dos semielaborados. Se isso acontecer, a parte de alimentação vai ficar um pouco pior, mas se isso não acontecer, nós temos um cenário bem confortável de inflação para os próximos meses.
Para outubro e novembro, nós esperamos um IPCA entre 0,25% e 0,30%, e para dezembro, um IPCA um pouco mais pressionado na casa de 0,50%.
O que preocupa tanto o Banco Central com relação à inflação?
Neste ano, nós tivemos uma melhoria importante de bens industriais em função da queda do câmbio, que passou de 5,80 para 5,30, 5,40. A alimentação também teve um comportamento benigno a partir da metade do ano. A grande preocupação do Banco Central é que a inflação de serviços segue pressionada pelo mercado de trabalho e pela economia, que vem forte.
A Selic a 15% já está produzindo os efeitos de desaceleração na economia?
Sim, já está, tanto que o segundo semestre de 2025 vai ser marcado por uma economia mais de lado. Com relação ao mercado de trabalho, as últimas informações já mostraram alguma acomodação. O Caged veio um pouco mais fraco do que estava rodando anteriormente, e a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que saiu com um desemprego de 5,6%, veio com uma queda da ocupação.
Apesar de o desemprego ter ficado estável, ele não subiu porque a ocupação caiu, mas porque muitas pessoas saíram do mercado de trabalho, o que ajudou a manter a taxa de desemprego no patamar em questão. Esse cenário de acomodação reforça a ideia de que a pressão monetária começa a fazer efeito até mesmo sobre o mercado de trabalho.
Como deve acontecer o processo de redução da Selic em 2026?
O processo deve começar no primeiro trimestre de 2026, ou na reunião de janeiro ou na reunião de março. Esse janeiro ou março vai depender muito da evolução do mercado de trabalho nos próximos meses. Se nós tivermos dados de atividade que reforcem a desaceleração, o início do processo deve acontecer em janeiro, mas se o mercado de trabalho voltar a apresentar sinais de robustez e resiliência, nós podemos ter um atraso no início desse processo. Independente disso, nós entendemos que no primeiro trimestre de 2026 serão injetados elementos favoráveis ao início do processo de queda da Selic.
Para o final de 2026, nós esperamos uma Selic entre 12% e 12,5%, o que daria espaço para um corte de 300, 250 pontos base na taxa de juros.
Já é possível vislumbrar o comportamento da inflação em 2026?
Para 2026, nós esperamos um câmbio bem comportado, mas como nós temos eleição presidencial, isso pode trazer um pouco de volatilidade. Como os juros nos Estados Unidos estão caindo mais rápido do que o esperado, isso cria um cenário de dólar mais fraco que ajuda na dinâmica de bens industriais. Com relação à inflação de serviços, ela deve desacelerar sob os efeitos de uma taxa de juros muito alta, com juros reais de 10%. A grande dúvida é que, dependendo do tamanho do impulso fiscal, ou seja, do aumento dos gastos e das transferências de renda, nós podemos ter uma desaceleração mais ou menos intensa.
Com relação à inflação de alimentos, nós temos a expectativa de que a safra será um pouco maior que a safra de 2025, que havia crescido bastante em relação a 2024. Isso dá uma ideia de preços bem comportados, mas não de preços muito baixos, o que daria uma ajuda parcial na inflação de alimentos.
Por fim, nós temos os preços administrados. Como a inflação está caindo, nós temos espaço para que os reajustes, já que os preços administrados são indexados, desacelerem ao longo de 2026. Os preços dos combustíveis também podem ajudar um pouco a inflação, já que o preço do petróleo e o câmbio estão em queda. Com isso, o IPCA deve fechar em 2026 perto de 4%, contra um IPCA que deve fechar em 2025 em 4,7%.
















