A influência do fator climático nos perfis dos vinhos

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Vinhedo (foto de Míriam Aguiar)
Vinhedo (foto de Míriam Aguiar)

Em pleno outono, a quase meio caminho do inverno, que começa oficialmente em 21 de junho, estamos numa fase intermediária de clima. Já não se faz aquele calor impactante do verão que, em alguns locais, torna difícil o consumo de vinhos tintos, nem tampouco o clima nos convida para um tinto bem encorpado, com alta graduação alcoólica, que nos esquente ainda mais.

É claro que sempre vai existir um lugar para todas os estilos de vinhos, dependendo da ocasião, por exemplo, para acompanhar pratos que demandem vinhos mais frescos ou estruturados. A medida mais interessante, entretanto, se a gente quiser ter um consumo mais alinhado com as nossas predisposições sazonais, seria buscar vinhos mais frescos no verão, diga-se, com boa acidez, baixa graduação alcoólica e que combinem com pratos também mais leves (frutas, legumes, carnes leves, molhos e modos de fazer menos gordurosos). Isto é, vinhos brancos, espumantes e rosés servidos em temperatura mais baixa.

Já no inverno, beber um vinho que nos aqueça e que tenha potência suficiente para acompanhar uma alimentação mais calórica é uma ótima pedida. Aqueles taninos que nos provocam a sensação de adstringência nas gengivas e céu da boca farão boa parceria com a proteína e gordura das carnes vermelhas, o que não aconteceria se estivéssemos frente a uma iguaria de verão. E qual seria a melhor pedida para um período como este, intermediário? A sugestão é explorar os vinhos tintos que não correspondem a esses perfis mais alcoólicos e tânicos, guardando certos aspectos que são muito evidentes em brancos e rosés.

Uma boa aproximação é pensarmos não apenas no clima para consumo, mas no clima para produção das uvas que geram os vinhos. Boa parte das uvas viníferas é plantada em áreas de clima mais temperado, entre as latitudes 30° e 50° dos hemisférios Norte e Sul ou em outros locais que, devido a certas particularidades, tendem a apresentar perfis climáticos similares aos característicos dessas regiões. Existem três perfis de climas temperados: mediterrâneo, continental e marítimo.

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O primeiro deles se encontra em faixas de latitudes mais baixas desses intervalos (30° a 40°). As estações do ano são bem definidas, mas no clima mediterrâneo o verão é quente e seco. Esse verão parece mais extenso, porque as temperaturas vão descendo lentamente no outono. Sendo assim, as uvas têm à sua disposição um clima que favorece um excelente amadurecimento seja de sua parte interna (suco), otimizando a concentração de açúcar e, por conseguinte, a graduação alcoólica do vinho; seja de sua casca, a chamada “maturação fenólica”, correspondente aos elementos presentes na casca da uva: taninos, pigmentos e certos aromas.

Este clima ocorre em muitas regiões vitivinícolas mundiais, além da bacia mediterrânica (Sul Europa e Norte da África), como Califórnia, África do Sul, sudeste da Austrália e Chile. Normalmente, as uvas de perfil mais mediterrânico, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Grenache, fazem vinhos mais concentrados. Portanto, se o objetivo é fugir de vinhos muito encorpados, melhor evitar aqueles provenientes dessas áreas.

Embora existam exceções, normalmente, os climas que favorecem mais a produção de vinhos tintos de perfilha mais leve, com boa acidez, medianamente alcoólicos e com taninos pouco marcados são os temperados continentais ou marítimos. No clima continental, o fator fundamental e que inspira seu nome é a maior massa continental da região, combinadas a latitudes mais altas. Neste caso, de forma oposta ao clima mediterrâneo, o inverno é intenso e o verão mais moderado, com boa amplitude térmica. Tais regiões não contam com o fator moderador das massas de água, que poderiam diminuir o rigor do inverno. O verão é quente, mas parece mais curto, já que no outono as temperaturas vão caindo drasticamente. Conta-se, portanto, com estação curta de amadurecimento, ideal para uvas brancas e tintas de maturação precoce.

Já os climas temperados marítimos contam justamente com a influência constante das correntes oceânicas. Isso lhe dá um status intermediário. Se o vinhedo estiver numa latitude mais baixa, tipicamente mediterrânea, por exemplo, o calor do verão será atenuado e, assim, será possível trabalhar com uvas de maturação mais rápida, sem perda de acidez e frescor. O resultado será um vinho menos encorpado e mais elegante. Assim também, este clima pode atenuar a chegada do rigor invernal em latitudes altas, típicas de clima continental, prologando o amadurecimento das uvas tintas, sem que elas percam sua acidez e frescor.

 

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