A maior exposição em torno da vida da artista mexicana Frida Kahlo está sendo apresentada no Museu Histórico do Exército, no Forte de Copacabana, um cartão-postal da cidade. Criada na Espanha, a mostra já passou por vários países da Europa, América do Norte, América Latina e cidades do Brasil, como Salvador e São Paulo, somando mais de 250 mil visitas no Brasil.
Frida Kahlo – Uma Biografia Imersiva está exposta em 13 ambientes, com filmes, obras digitais e instalações artísticas que retratam os momentos mais relevantes de sua vida. Os visitantes podem conferir também fotografias históricas, réplicas das roupas que usava e que a alçaram como ícone da moda, além de colorir desenhos de Frida e projetá-los em um painel digital.
Frida viveu apenas 47 anos e teve uma história marcante. “Não tem como errar; vemos a silhueta daquelas sobrancelhas emolduradas por um coque decorado com flores e sabemos se tratar dela. A superfície (camisetas, bolsas, todos os tipos de acessórios, pôsteres, ímãs de geladeira e até a pele) não importa, nem o lugar do mundo: Frida Kahlo é hoje um ícone em todos os cantos do planeta”, resume um dos painéis da exposição.
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacán, no México, e é considerada um ícone feminino das artes. Pintou retratos, autorretratos e obras inspiradas na natureza e artefatos do México. Muito do que viveu, Frida colocou nas obras. A história da artista é atravessada por uma poliomielite ainda na infância, que atrofiou os músculos da perna direita, e por um acidente de ônibus aos 18 anos, que provocou múltiplas fraturas e a deixou em uma cama por um longo período. Ela, então, começou a pintar, usando um cavalete adaptado à cama. A vida de Frida passa também por luta política, amores e paixões, pelo casamento com o artista mexicano Diego Rivera e por viagens ao exterior.
O objetivo da mostra é fazer com que os visitantes percorram os principais momentos dessa trajetória e passem também por experiências lúdicas. As exposições imersivas, mesmo não mostrando fisicamente as obras originais dos artistas, podem ser uma porta de entrada para o mundo das artes.
A exposição completa tem duração de aproximadamente 90 minutos e ocupa uma área de 1.400 metros quadrados, com ambientes interativos que compõem essa rica biografia, mágica aos olhos de quem a visita. Foram compostas músicas originalmente criadas para reproduzir os momentos mais relevantes da vida da mexicana, que até os dias atuais desperta grande curiosidade nas pessoas.
Frida Kahlo (1907-1954) foi uma das artistas mais irreverentes do século passado e suas obras tinham inspiração surrealista. Outro caráter importante das pinturas da mexicana foi a forte presença de autorretratos e de cores fortes e vivas em suas obras.
Nessa exposição, o visitante percorre diferentes espaços que simbolizam e recriam fatos marcantes da vida da artista, como O Instante, uma holografia que reproduz o acidente de bonde que marcou sua vida para sempre, com consequências irreversíveis. Outro destaque é O Sonho, uma instalação que tenta reproduzir a imaginação e sentimentos de Frida durante sua recuperação na cama, lugar onde criou grande parte de suas obras. A arte faz referência ao ciclo da vida da artista, nascimento e morte, saúde e doença.
Já o salão principal traz uma viagem sensorial pelo Universo de Frida, onde o espectador se mistura e se entrega à profusão de cores e movimento. Em outro salão, o público tem contato com imagens da infância e da adolescência da pintora, entendendo o contexto histórico e biográfico que moldou a personalidade da mulher que se transformou em ícone mundial.
A interatividade também está presente na experiência Cadrave Exquis, em realidade virtual, inspirada nas obras de Frida e que exploram seu imaginário particular. Outra atração é a Cabine Fotográfica, com tecnologia capaz de identificar os rostos e, a partir das características de cada um, criar retratos únicos, com técnicas de colagem.
Quem quiser soltar a imaginação e fazer desenhos para deixar sua marca, a sala La Rosita reproduz o ambiente onde Frida dava aulas de pintura. O México, exuberante em costumes e folclore, tão presentes na obra da artista, é lembrado em ambientes cenografados, como o altar dedicado ao Dia dos Mortos e a sessão que recria as roupas de Frida. Uma loja repleta de itens estampados com obras e imagens da pintora, além de livros e souvenirs, também estará à disposição dos visitantes.
Inspirada pela cultura popular do México, Frida empregou um estilo de arte popular naif para explorar questões de identidade, pós-colonialismo, gênero, classe e raça na sociedade mexicana. Suas pinturas tinham frequentemente fortes elementos autobiográficos e misturavam realismo com fantasia. Além de pertencer ao movimento Mexicayotl pós-revolucionário, que procurava definir uma identidade mexicana, Frida é descrita como uma surrealista ou realista mágica e se tornou conhecida por pintar sobre sua experiência de dor crônica.
Nascida de pai alemão e mãe mestiça, passou a maior parte de sua infância e vida adulta na La Casa Azul, a casa de sua família em Coyoacán, acessível ao público, agora como o Museu Frida Kahlo. Os interesses de Frida na política e na arte levaram-na a aderir ao Partido Comunista do México em 1927, quando conheceu o colega artista mexicano Diego Rivera. O casal se casou em 1929 e passou o final dos anos 20 e início dos anos 30 viajando pelo México e Estados Unidos. Sob a influência da obra do marido, adotou o emprego de zonas de cor amplas e simples, num estilo propositadamente reconhecido como ingênuo.
Frida e Rivera tiveram um casamento tumultuado, visto que ambos tinham temperamentos fortes e casos extraconjugais. Frida, que era bissexual, teve um caso com Leon Trotski depois de separar-se de Diego, que aceitava abertamente os relacionamentos de Frida com mulheres, mesmo elas sendo casadas, mas não aceitava os casos da esposa com homens. Frida descobriu que Diego mantinha um relacionamento com sua irmã mais nova, Cristina.
Após essa outra tragédia em sua vida, separou-se dele e viveu novos amores com homens e mulheres, mas em 1940, uniu-se novamente a Diego. O segundo casamento foi tão tempestuoso quanto o primeiro, marcado por brigas violentas. Ao voltar para o marido, Frida construiu uma casa igual à dele, ao lado da casa em que eles tinham vivido. Essa casa era ligada à outra por uma ponte, e eles viviam como marido e mulher, mas sem morar juntos. Encontravam-se na casa dela ou na dele, nas madrugadas. Embora tenha engravidado mais de uma vez, Frida nunca teve filhos. Tentou diversas vezes o suicídio com facas e martelos.
Em 13 de julho de 1954, Frida Kahlo, que havia contraído uma forte pneumonia, foi encontrada morta. Seu atestado de óbito registrou embolia pulmonar como a causa da morte. Mas não se descarta a hipótese de que tenha morrido de overdose (acidental ou não), devido ao grande número de remédios que tomava. A última anotação em seu diário diz:
Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar
Frida
Esse trecho permite pensar na hipótese de suicídio. Seu corpo foi cremado e suas cinzas encontram-se depositadas em uma urna em sua antiga casa, hoje Museu Frida Kahlo.
O trabalho artístico de Frida Kahlo permaneceu relativamente desconhecido até finais dos anos 70, quando foi redescoberto por historiadores de arte e ativistas políticos. No início dos anos 90, tinha se tornado não só uma figura reconhecida na história da arte, mas considerada como um ícone para o Movimento Chicano, o movimento feminista e o movimento LGBT, hoje ampliado para LGBTQIAPN+.
Frida jamais parou de pintar paisagens mortas e cenas imaginárias. Empregava cores fortes e vivas, uma verdadeira alquimista das cores. Frida Kahlo foi também aficionada por fotografia, hábito que herdou de seu pai e de seu avô materno, ambos fotógrafos profissionais. Sua obra, magnífica, encanta, e seus quadros são comercializados em grandes leilões, por valores extraordinários. Essa exposição consagra a vida e a obra dessa artista, que, apesar das complicações de saúde, soube viver a vida com energia, não deixando de amar e de forma intensa, os parceiros e parceiras que escolhia para suas aventuras.
Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.