A lição dos EUA

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A recente confusão ocorrida na apuração das eleições presidenciais nos EUA proporcionam diversas lições para nós, brasileiros. É oportuno recordar que, com a queda do muro de Berlim e a destruição da antiga URSS, apenas os EUA podem ser classificados como uma potência mundial. Porém, em termos econômicos encontramos, no mínimo, uma tripolaridade, com o mundo dividido entre Blocos Econômicos Regionais (BER), ou seja, o Bloco Europeu (Comunidade Econômica Européia, capitaneado pela Alemanha), Bloco Asiático (chefiado pelo Japão) e pelo Bloco Americano (comandado pelos EUA, através do controle do Nafta).
Apenas quatro nações possuem condições de alterar tal estado de coisas: China, Brasil, Índia e talvez a Rússia, revivendo das cinzas. A China e a Índia estão conseguindo manter suas respectivas soberanias, no chamado mundo globalizado de hoje, imposto pelos donos do mundo. A Rússia luta para sobreviver e, apesar de destruída economicamente, ainda é detentora de poder militar. O Brasil está sendo inserido subalternamente no processo de “planetarização”, dirigido por representantes do sistema financeiro internacional. Somente conseguirá voltar a ter esperança de ser uma potência com a substituição radical dos atuais detentores do poder político no país.
A votação nos EUA transcorreu mais de três semanas, sem que houvesse certeza quanto ao vencedor das eleições. Afinal, a Suprema Corte americana é que decidiu o assunto, confirmando a vitória do candidato Sr. Bush, por vias indiretas. Porém, analisando com mais profundidade as causas da atual situação vivenciada pelo país mais adiantado do planeta, diagnosticamos a existência de uma nação dividida rigorosamente em duas partes. Entre os americanos mais tradicionais, descendentes dos primeiros colonizadores, que ficaram com o candidato republicano, e os mais liberais, oriundos de outras correntes migratórias mais recentes, que aderiram ao democrata.
A diferença programática entre os dois partidos, antes significativa, hoje diminuiu muito, fato agravado pela postura dos dois candidatos, ambos bem parecidos, com discursos semelhantes e medíocres. A sorte deles reside na solidez das instituições americanas, ainda incólumes, ao contrário do Brasil, onde observamos sua destruição progressiva.
Um fato significativo é digno de registro. As diferenças entre o processo eleitoral brasileiro e o americano. Lá, voto facultativo, independência de cada Estado da Federação para decidir sobre o processo eleitoral (alguns estados adotam o voto eletrônico, outros o manual e outros a perfuração de cartões). Aqui, voto obrigatório, existência de uma imposição do poder central sobre os estados, caracterizada pela existência de uma Justiça Eleitoral (que na realidade inexiste na prática, somente atuando efetivamente em época de eleições), a qual obrigou a adoção do chamado voto eletrônico, que garante ser invulnerável a qualquer tipo de fraude.
Alguns brasileiros jactam-se da modernidade de nosso sistema, afirmando que estamos a frente deles. Contudo, uma observação mais acurada desperta-nos uma série de dúvidas: 1) apesar de tecnologicamente mais avançados, por que não escolheram o sistema eletrônico (a empresa que o implantou no Brasil foi comprada por eles); 2) houve diferença do total apurado em vários condados na Flórida entre a primeira apuração eletrônica, a segunda e a recontagem manual, fato que não poderia existir segundo os defensores do voto eletrônico. Quem errou? 3) Como poderia haver no Brasil uma recontagem manual de votos, como eles estão realizando?
O modelo brasileiro carece de uma confirmação mais efetiva, que se concretizaria através da possibilidade da recontagem de votos. Até o atual ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, encaminhou recentemente sugestão ao Tribunal Superior Eleitoral no sentido de que fosse estudada a forma adequada capaz de permitir uma recontagem dos votos, o que traria alívio para todos os candidatos participantes, muitos dos quais não obtiveram, nas últimas eleições, sequer um voto. Qual a explicação decente para esta aberração?
Nós somos mais capacitados tecnologicamente do que eles? Algo está errado.

Marcos Coimbra
Professor titular de Economia na Universidade Candido Mendes, professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG). Correio eletrônico: [email protected]. Site: www.brasilsoberano.com.br

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