A memória afetiva gastronômica

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Duas atividades que aconteceram esta semana me remeteram à importância da gastronomia em nossas vidas. A primeira foi uma ida inesperada durante minha escapada semanal do confinamento. Sem reserva, desfrutei de um banquete em ambiente em que todos os protocolos de segurança são colocados em prática, inclusive com divisórias entre as mesas e um serviço glamoroso sob a regência do Maître Pontes e sua equipe na Casa Julieta de Serpa.

Lembrei-me das entregas dos prêmios Embaixadores do Rio e seus coquetéis no palacete em que cada detalhe é supervisionado pelo Serpa e sua Beth. Veio a minha memória o chá de aniversário da amiga Vanize Campos, com tantas iguarias e um espetáculo de luzes e cores. Lembrei-me da generosidade de abrir a casa para o Conheça o Rio a Pé e sediar o laboratório de gastronomia dos cursos de Turismo e Hotelaria da antiga UniverCidade.

Dei-me conta de como um revisitar gastronômico está presente numa gaveta dentro de nós que se abre não só pelos sabores, mas por uma lembrança cativa de um gatilho positivo. Enviei uma mensagem para uma amiga que me confessou que minha voz estava diferente e cheia de vibrações positivas.

A segunda foi a exposição “Sabores do Vale do Café”, em que participei da organização e que apresentamos várias sensações inéditas de uma região que traz história, mas muita água na boca. Ao ver o chá de esmeraldas no Jardim Uana Etê e a mesa que recebeu os Embaixadores do Rio trazida por Marco Rodrigues na mostra citada, me lembrei logo da criatividade do bistrô com um chef Michelin que Cristina Braga e Ricardo Medeiros colocaram em prática e veio à tona o café da manhã com produtos locais que tomei com eles quando ali estive hospedado e ministrei um treinamento para os colaboradores.

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A cozinha e os queijos e vinhos da São Luiz da Boa Sorte me lembraram a arte de receber dos anfitriões e proprietários sempre antecedendo as refeições principais dos convidados, que acompanhei com uma mesa repleta de iguarias do mundo dos frios e dos queijos com vinhos e espumantes. Liliana Rodriguez cuidava de cada detalhe e com sorriso verdadeiro nos acalentava de doçuras da gastronomia.

Pensei também rapidamente no projeto “Cozinha afetiva”, da Ana Roldao, que desenvolve menus aprendidos com sua avó em Portugal e povoaram minha mente de lembranças de minhas viagens e estadia na terrinha onde se come bem com tanto amor de um povo que sabe mostrar sua gentileza de maneira peculiar.

Despertou em mim como fui recebido como um lorde nas fazendas União e São João da Barra, quando estive ali para fotografar para as exposições virtuais do Instituto Preservale no Facebook. De repente vejo a Bernadete e o Moreira, que nos receberam inúmeras vezes em jantares organizados para o corpo consular com uma comida italiana verdadeira com um chef de Veneza e uma das melhores adegas do país.

Cozinhar é um dom de poucos, mas que deixa marcas para a vida. Cristina Aboim prima pela arte de receber e que cozinha tão bem que seus eventos são marca da alta gastronomia carioca com suas mesas tão bem decoradas.

Logo penso no Davi Bispo com sua feijoada de frutos do mar e seus drinks imperdíveis. A Delgado de Carvalho, 30, onde nasci na Tijuca e parte da família morava no edifício Almirante Lucas Boiteux, sonho com as cocadas da Tia Yeruza e tantos outros doces que fazia e o empadão da Tia Yvonne, que minha irmã Regina aprendeu. Fora os almoços que minha outra irmã, Beatriz, preparava para mim aos domingos, que me surpreendiam com tanta criatividade mas sobretudo carinho.

O exílio na Argélia fez do couscous e da chorba meus pratos preferidos, que devo confessar: a Marília Mourthe prepara como ninguém e faz lembrar da minha infância e adolescência. Seriam muitos outros exemplos, como os eventos do Claudio Castro, plurais com o buffet do Eder Meneghine, mistura de sofisticação e novas formas de conquistar nosso paladar, aos cafés da manhã do corpo consular, que passaram pelo Meridien, Caesar Park e finalmente os hotéis Accor, que nos receberam com tanta motivação e vistas deslumbrantes sob a direção de Philippe Seigle e Netto Moreira, com a cozinha do grand chef Jerome Dardillac.

Seria um pecado não mencionar a Baronesa Diana Macedo e seus eventos de sofisticação black tie em seu pequeno castelo em Teresópolis, quando o marido Sergio Chamone, cônsul da Finlândia, revela seus dons culinários.

E, para finalizar, o chef Brambini, que nas inúmeras recepções oferecidas pelo casal Joana e Aloysito Teixeira nos trouxe o gosto de quero mais. E assim a memória afetiva da gastronomia caminha inclusive nas viagens que fizemos, mas sobretudo na gratidão dos que conosco tiveram e construíram um paladar dos Deuses.

Bayard Do Coutto Boiteux

Funcionário público, trabalha voluntariamente no Instituto Preservale e na Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio de Janeiro.

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