Conversamos com quatro analistas do mercado financeiro sobre as origens do lucro líquido de R$ 44,6 bilhões apresentado pela Petrobras no 1T22 e se o lucro da companhia é influenciado pelas variações de preço dos combustíveis (derivados).
André Zonaro, analista da Nord Research
O lucro da Petrobras no 1T22 foi influenciado por uma série de fatores. Claro que o preço do petróleo ajudou bastante, já que a Petrobras utiliza o petróleo Brent como referência, mas é importante fazer uma contextualização antes.
Nos últimos 5 anos, o petróleo rondou, na média, a casa dos US$ 60. No auge da pandemia, ele caiu bastante e atingiu a cotação de US$ 20. De lá para cá, nós vimos dois grandes movimentos que impulsionaram os preços para cima. O primeiro foi o estímulo do mundo inteiro para que a economia voltasse, sendo que o petróleo é uma matriz de energia importante para a sociedade como um todo, o que levou a elevação do preço do barril. Depois, mais recentemente, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois países importantes no mercado de commodities, tanto com relação ao petróleo quanto ao gás natural, o que impulsionou novamente os preços.
Os preços do petróleo subiram muito nesses últimos meses, o que impactou positivamente os resultados da Petrobras, já que ela não consegue aumentar a sua produção diária. Como essa produção já é gigante e tem uma representação muito forte nos resultados, a Petrobras fica extremamente dependente do preço. Assim, a alta do petróleo ajudou nos resultados da companhia.
Nós ainda tivemos alguns efeitos não recorrentes que contribuíram positivamente para o resultado. Trata-se dos efeitos que não são comuns e não podem ser atribuídos à operação como um todo. Esses efeitos não devem ser vistos daqui para a frente.
Harold Thau, analista CNPI, sócio-fundador e analista-chefe de Equity Research da Técnica
O preço do petróleo no mercado internacional subiu 36% no 1T22, passando de US$ 77 para US$ 105 (tipo Brent em Londres). Com isto, a Petrobras foi enormemente beneficiada, pois como a política de preços da companhia atrela os derivados às cotações internacionais, houve geração de caixa operacional e lucros elevados neste período. É necessário destacar que o aumento de preços do barril de petróleo vem ocorrendo desde o início de 2021, quando o barril estava cotado a US$ 52, acumulando uma alta de 103% até 31/3/22.
O forte crescimento na geração de caixa operacional da Petrobras no 1T22, com uma Ebitda de R$ 82 bilhões, contra R$ 49,5 bilhões no 1T21, fez com que o desempenho financeiro da companhia também tivesse uma melhoria substancial, fazendo com que a empresa passasse a ter receita financeira líquida no trimestre de R$ 3 bilhões, quando no 1T21 seu resultado financeiro havia ficado negativo em R$ 30,7 bilhões. Isso se deve à política de preços adotada pela Petrobras.
Com relação aos custos incorridos, a Petrobras possui uma parcela expressa em dólar e outra em real. Por mais que isto pudesse levar a uma interpretação de que a política de preços pudesse ser alterada, como a Petrobras é uma empresa aberta com ações negociadas em bolsa, com milhares de acionistas nacionais e estrangeiros, sua administração tem o dever de entregar o melhor resultado econômico possível, inclusive para o Tesouro Nacional. É por isso que a companhia deve balizar seus preços dos derivados de acordo com os preços de mercado.
Vale a pena mencionar que a Petrobras está distribuindo praticamente a totalidade do seu lucro líquido ajustado de 2021 a título de dividendos, cabendo à União Federal algo em torno de R$ 31,5 bilhões, já que ela tem uma participação no capital social total de 28,7%, incluindo ações ordinárias e preferenciais.
Desta forma, caso o Governo Federal entenda que os preços dos derivados não devam acompanhar o mercado, ele pode utilizar os dividendos recebidos pelo Tesouro Nacional para mitigar as oscilações exageradas do mercado, constituindo um tipo de fundo com estes recursos, sem prejudicar a Petrobras e seus acionistas.
Ilan Arbetman, analista de equity research da Ativa Investimentos
O lucro da Petrobras no 1T22 veio, principalmente, da forte geração de caixa operacional, que, a meu ver, vem de duas questões. A primeira é o preço da commodity. Quando o Brent está acima de US$ 100, é mais fácil uma empresa gerar resultado do que quando o Brent está com valores mais baixos. Mas não é só isso. A adequação do mix da companhia foi fundamental. Hoje, mais de 70% do óleo que é feito pela Petrobras é oriundo do pré-sal, o que dá uma margem muito bacana. O custo de extração médio do barril no pré-sal é próximo a US$ 5. Com o Brent a US$ 100, isso mostra o quão é rentável esse tipo de operação. A Petrobras segue hoje com o intuito de ser mais eficiente do que grande. Isso ajudou bastante.
Quando olhamos para o lucro líquido, vemos também a parte do resultado financeiro, que veio forte por conta da valorização do real, mas, sem dúvida, o grande destaque é a parte operacional. Isso não se deve só aos preços altos do petróleo, mas como a companhia aproveita para monetizar esses altos preços.
Agora, o resultado de refino da Petrobras é dependente dos preços com os quais os derivados como os combustíveis são vendidos nas refinarias. Para isso, é fundamental que se mantenha a política de paridade de importação, como vem sendo aplicada pela companhia, para que se tenha resultados satisfatórios no refino.
De forma resumida, o preço do petróleo impacta no resultado de exploração e produção, e os preços dos derivados no país impactam diretamente no resultado do que a Petrobras chama RTC: Refino, Transporte e Comercialização.
Rafael Chacur, sócio e analista de ações da SFA Investimentos
O lucro da Petrobras no 1T22 se deve a área de EP (Exploração e Produção). Esta área está muito eficiente e tem um dos custos de extração mais baixos da indústria por conta das eficiências operacionais do pré-sal. Apesar disso, o lucro e a receita foram abaixo do potencial, dado que a Petrobras ficou exercendo preços abaixo da paridade internacional.
Particularmente, eu atribuo o lucro muito mais a questão de eficiência operacional da Petrobras do que à política de preços, que, na verdade, até detratou o resultado por não estar seguindo a paridade à risca com outros momentos, apesar de estar seguindo com certo delay. Essa é a minha visão.
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Rubrica
1ºtrim/22*
1ºtrim/21*
Ano 2021*
Ano 2020*
Receita Líquida
141,6
86,2
452,7
272,1
Lucro Bruto
74,8
44,0
219,6
124,0
EBITDA
82,0
49,5
273,9
107,9
Resultado Financeiro
3,0
(30,7)
(59,3)
(49,6)
Lucro Líquido
44,6
1,2
106,7
7,1
* Valores em R$ bilhões arredondados. Fonte: Técnica
Coordenação: Jorge Priori
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