Conversamos com Tiago Cespe, educador financeiro da Cespe Educação Financeira, sobre a perspectiva de queda da Selic e o posicionamento na renda fixa.
Considerando a perspectiva de novas quedas da Selic, como se posicionar na renda fixa com títulos prefixados?
Na minha visão, o Tesouro já está muito baixo. O prefixado para 2026 está em 9,64%; para 2029, 10,27%; e para 2033, 10,49%*. Esses títulos já estão com as taxas bem apertadas. Por exemplo, quando um investidor compra um título do Tesouro para 2029 a 10,27% e a taxa de juros sai de 11% para 9%, isso é bom para ele, pois ele ganha uma antecipação de taxa. Como esse é o mesmo título para quem compra em qualquer período, teve gente que comprou na época em que ele pagava 13%, sendo que agora ele está pagando 10%. Como é injusto com o cara que comprou a 13% receber 10%, o governo vê os anos que faltam e traz a diferença a valor presente. No ano passado, com a queda da taxa de juros, esse cara teve uma gordura muito grande e fechou o ano com um ganho de 20%.
É por isso que uma estratégia a se fazer com os títulos prefixados do Tesouro é você aproveitar o movimento de queda para pegar essa gordura sem levá-los até o vencimento.
Você está dizendo comprar um título prefixado e resgatar antes do vencimento?
Exato. Se você comprou o título prefixado a 13% e a taxa foi caindo para 10%, 9% e chegou a 8%, o governo te antecipa os anos que faltam a cada redução. No curto prazo, você teve anos em que isso gerou rentabilidades de 18%, 19% e 20%. Se você carregar o título até o vencimento, você vai ter os 13%, o que continua sendo bom, mas essa operação de curto prazo dá uma porrada na rentabilidade. É por isso que eu não carrego o título até 2029. Eu entro nele e quando dá essa pancada de taxa de juros, eu pego uma gordura de 3%, 4%, e saio. Funciona ficar até o final? Funciona, mas, como bom brasileiro, eu não tenho paciência para ficar até 2029.
Agora, nós estamos no governo Lula, com a inflação, de certa forma, controlada, de maneira meio que maquiada, pois tudo está aumentando. Como ele diz que a inflação está controlada, a taxa de juros está sendo reduzida. Se na eleição presidencial de 2026 entrar um novo governo, a inflação disparar, e o Banco Central tiver que aumentar a taxa de juros, acontece o contrário. Se a taxa que estava em 8% for para 10%, o governo te dá um negativo no título. É por isso que às vezes acontecem rentabilidades negativas, já que a taxa de juros teve que subir. Ou seja, o inverso também acontece.
De ponta a ponta, se você comprou um título em 2023 e vai levá-lo até 2029, obrigatoriamente, ele tem que entregar os 13% combinados, mas no meio do caminho ele pode passar por valorizações e desvalorizações. Para um brasileiro tradicional, conservador, que comprou um título público, uma rentabilidade a mais assusta tanto quanto uma rentabilidade negativa. Detalhe: nem quem vendeu o título sabe explicar isso. Na pandemia, títulos com vencimento em 2055 deram retornos negativos de 30% só no mês de abr/2020. Se o investidor tivesse colocado R$ 100 mil um mês antes, no mês seguinte teria R$ 70 mil. Como uma pessoa que investe no Tesouro Direto sobrevive com uma oscilação dessa?
É por isso que muitas vezes eu não recomendo o Tesouro Direto, pois o cliente que está querendo a renda fixa não está disposto a ter essa marcação a mercado e as consequentes oscilações.
Essa operação funciona apenas no prefixado?
Você pode fazer essa operação nos títulos atrelados à inflação, pois eles têm um pedaço prefixado. Ou seja, isso funciona tanto para o Tesouro Prefixado quanto para o Tesouro Inflação.
O que você recomendaria para uma pessoa que quer montar uma carteira de renda fixa sem sustos?
A pessoa deveria aplicar de dois a três meses do seu custo de vida num fundo DI, com aplicação e resgate no mesmo dia, e que renda perto de 100% do CDI. Fundos de renda fixa que operam crédito privado deveriam ser evitados, dada a instabilidade que está ocorrendo com muitas empresas.
Feito isso, você pode usar o Tesouro, CDBs, LCIs e LCAs diversificando a estratégia entre prefixado e atrelado à inflação. Você pode pegar títulos pagando inflação + juros a partir de 5%, o que é muito bom. Se você comprar um CDB de um banco, ele tem que ter um prêmio de pelo menos IPCA + 6%, 6,5%. Nos prefixados, como os bancos são plataformas abertas que distribuem títulos de diversas outras instituições, você pode pegar títulos de instituições diferentes com valores abaixo de R$ 200 mil, mas, de repente, com prêmio de prefixado de 11%, 11,5% ou 12%, travando pelo tempo que faça sentido para você, pois é preciso ver o seu planejamento pessoal.
Não recomendo passar de 5 anos, pois, mais uma vez, estamos falando de Brasil. Hoje você pode estar comprando um título de 12%, o que é muito bom, mas daqui a quatro anos a taxa de juros explode para 15% e esse título já não será bom. Contudo, se isso acontecer, você tem um título que está pagando inflação mais 5%, e se a taxa de juros passou para 15% foi porque a inflação chegou a 12%. Assim, você está acompanhando o movimento no título atrelado à inflação e na sua aplicação do fundo de renda fixa que está acompanhando a Selic.
É preciso desenhar as caixinhas de liquidez e de objetivos de médio e longo prazo para modelar as caixinhas de títulos prefixados, atrelados à inflação e também pós fixados, pois quando se coloca 2, 3 anos, às vezes se consegue títulos pagando 115%, 117% do CDI. Dependendo da instituição, até 120%. Com isso, você consegue diversificar na renda fixa sem ficar exposto a uma única estratégia.
É preciso compor a carteira de forma a que ela te atenda mesmo que a taxa de juros caia ou suba. Se a Selic cair, a sua parte de liquidez na Selic não vai ficar boa, mas o atrelado à inflação e o prefixado vão ficar. Se a taxa estourar, o prefixado não vai ficar tão bom, mas a Selic e o atrelado à inflação vão andar.
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