A pesada herança de FHC

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A expectativa da imensa maioria do povo brasileiro quanto ao governo Lula é mais que justificável, tendo em visto a trajetória de luta do presidente eleito, de seu partido e de seus aliados, os compromissos de campanha assumidos e as dificuldades que vimos enfrentando nos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, principalmente nos últimos quatro anos, após a reeleição.
As tarefas do novo governo, entretanto, são hercúleas. A herança deixada pelo governo FHC é pior do que se imagina em um primeiro momento, até porque é mascarada pela dita grande imprensa, que nunca escondeu sua tendência a favor do capital financeiro internacional.
O desemprego é, sem dúvida, o maior problema a enfrentar. Dados preliminares do Censo Demográfico do IBGE, realizado no ano 2000, mostram que 11,4 milhões de brasileiros estavam sem trabalho naquele ano. Esse número equivalia a 15,4% da População Economicamente Ativa (PEA), que abrangia o total de 76,1 milhões de brasileiros. Se considerarmos que cerca de 1,5 milhão de jovens querem entrar no mercado de trabalho por ano, podemos afirmar, sem margem de erro, que o desemprego já ultrapassa os 12 milhões de brasileiros. Foi uma evolução brutal do desemprego ocorrida durante o governo FHC, já que em 1991 havia 3,1 milhões de pessoas sem trabalho, o equivalente a 5,4% da PEA.
Essa é a herança mais pesada do governo neoliberal. Dados deste ano mostram que em Brasília o desemprego atinge 19,5% da PEA, em São Paulo 18,3%, em Belo Horizonte 18,1% e em Salvador 27,1%, segundo o Dieese.
Ao mesmo tempo, o contingente de miseráveis e desempregados ultrapassa 50 milhões de brasileiros; os investimentos externos vêm caindo sistematicamente; o crédito junto às instituições internacionais está cada vez menor; os estados e municípios encontram-se no limite de suas forças para manterem os pagamentos mensais de suas dívidas, e por aí vai.
Os baixos salários também são preocupantes, já que, segundo o mesmo censo do IBGE, cerca de 25% da população ocupada recebia apenas um salário mínimo por mês. A faixa que vai de um a dois salários mínimos incluía 27,5% da população, ou seja, um em cada dois brasileiros recebia, no máximo, R$ 352 mensais. Assim, como aquecer o mercado interno? Como aumentar a produção da agroindústria, da indústria têxtil, da construção civil e de tantas outras que precisam crescer para atender à demanda reprimida?
Mas não são somente esses os problemas do futuro governo. O balanço de pagamentos brasileiro encontra-se um verdadeiro caos. Somente de juros da dívida externa pagaremos em 2003 cerca de R$ 30 bilhões. A amortização dessa dívida e da dívida interna eleva as obrigações do país para mais de R$ 100 bilhões. Somente de 1995 a 2001 o Brasil amortizou US$ 206,7 bilhões de sua dívida externa, que ainda assim cresceu US$ 61,6 bilhões no mesmo período.
Para sustentar essa loucura, praticamos a maior taxa de juros do mundo: 22%, com tendência de alta. Como se isso não bastasse, a inflação voltou a preocupar. O Índice Geral de Preços (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas aponta inflação acumulada de 21,05% nos últimos 12 meses. Só em novembro o Índice de Preços por Atacado do IGP-M bateu em 6,73%.
A saúde, a educação, a infra-estrutura urbana, a violência e tantos outros males se fazem sentir no dia-a-dia dos brasileiros. Enfrentar tudo isso e ao mesmo tempo atender a esperança de milhões de pessoas de melhorar de vida o mais rapidamente possível é o maior desafio do governo Lula, principalmente se levarmos em conta que os derrotados nas eleições de tudo farão para prejudicar o primeiro governo progressista da história do nosso país.

Afonso Costa
Jornalista.

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