Nos últimos meses, a discussão sobre a proibição do uso de celulares nas escolas tem ganhado força, gerando debates acalorados entre educadores, pais e especialistas. A medida visa reduzir distrações e melhorar a atenção dos alunos, mas também levanta questões sobre os impactos no aprendizado e na socialização, especialmente para a Geração Alfa – a primeira completamente nativa digital e hiperconectada.
A Geração Alfa, composta por crianças nascidas a partir de 2010, cresceu imersa na tecnologia. Desde cedo, tem acesso a smartphones, tablets e assistentes virtuais, o que influencia diretamente sua forma de aprender e interagir com o mundo. Para esses estudantes, a proibição do celular no ambiente escolar pode representar uma ruptura com sua realidade cotidiana, tornando o aprendizado menos dinâmico e interativo.
A adoção de políticas sobre o uso de celulares nas escolas deve vir acompanhada de estratégias que promovam um ambiente educacional mais produtivo. “O celular não é apenas uma ferramenta de distração; ele pode ser um poderoso aliado no aprendizado, desde que seu uso seja bem orientado.”
Estudos mostram que a tecnologia pode aumentar o engajamento e facilitar a compreensão de conceitos. Aplicativos educativos, plataformas interativas e o acesso rápido a informações são alguns dos benefícios que podem complementar o ensino. O desafio está em equilibrar regras claras com práticas que aproveitem o potencial da tecnologia para a educação e não corrigir um excesso com outro, ou seja, o uso desproporcional ou a proibição total.
Outra preocupação levantada é o impacto na socialização dos estudantes. Se, por um lado, o uso excessivo de telas pode prejudicar interações presenciais, por outro, os celulares também servem como meio de conexão e expressão entre os jovens. O desafio é ensinar o uso equilibrado e produtivo, e não apenas impor restrições. “Os pais precisam se disciplinar quanto ao uso de celular na frente das crianças, pois elas fazem o que eles fazem. Por isso, com que autoridade passam a restringir o uso de celular por parte de seus filhos se eles mesmos não se controlam?”
Diante desse cenário, a proibição dos celulares nas escolas deve ser analisada com cautela. Em vez de uma medida radical, o caminho pode estar na educação digital, capacitando alunos, professores e pais para um uso mais consciente e eficaz da tecnologia. As escolas têm o desafio de equilibrar disciplina, aprendizado e inovação, garantindo que as novas gerações estejam preparadas para um futuro cada vez mais digital.
Dado Schneider é palestrante, doutor em Comunicação pela PUC/RS, pesquisador e especialista nas gerações Z e Alfa, em cooperação intergeracional e no futuro do trabalho.
