A redução da Selic para 11,25% e os investimentos

Segundo Bruno Perottoni, do Braza Bank, momento para se ter muito cuidado com títulos prefixados e para se olhar títulos atrelados à inflação.

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Bruno Perottoni (foto divulgação Braza Bank)
Bruno Perottoni (foto divulgação Braza Bank)

Conversamos sobre a redução da Selic para 11,25% e os investimentos com Bruno Perottoni, diretor de tesouraria do Braza Bank.

Em conformidade com o seu comunicado, o Banco Central disse que “em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Segundo o último boletim Focus, divulgado no dia 30 de janeiro, o mercado tem a expectativa de que a Selic feche 2024 em 9%, e 2025 e 2026, em 8,5%. A próxima reunião do Copom está programada para os dias 19 e 20 de março.

Quais seriam os investimentos mais indicados considerando a última redução da Selic e as perspectivas de novas reduções para as próximas reuniões?

Particularmente, eu considero que se nós não estamos no fim das reduções da Selic, nós podemos estar próximos do fim. Eu digo isso, pois as pressões inflacionárias ao redor do mundo ainda são bastante consideráveis. A economia americana está muito robusta e existem gatilhos para a inflação relacionados à questões geopolíticas, como as que envolvem Israel, Rússia e Ucrânia. Por exemplo, o fechamento de um porto pode impactar a inflação ou a expansão do conflito no Oriente Médio pode afetar a distribuição do petróleo, consequentemente gás e combustíveis.

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Eu faço esse preâmbulo, pois eu vejo um risco bastante considerável de inflação, e quando nós temos esse risco aliado a um cenário em que podemos estar chegando a um patamar de equilíbrio de juros, eu não aconselharia, nesse momento, uma posição em títulos públicos prefixados. Se você se posicionar dessa forma e a inflação subir, você passa a ter um ganho real menor. É por isso que eu vejo esse momento com um pouco de cautela.

Para quem entende um pouco mais, o primeiro paradigma a ser quebrado é que renda fixa não é fixa. Existem títulos que são atrelados à inflação, como as NTN-B, que possuem um ganho real acima do IPCA. Esse é um investimento mais seguro, pois não incorre em perdas. O que pode acontecer é que a variação do preço desse títulos numa marcação a mercado pode representar, graficamente, uma variação e um prejuízo na carteira da pessoa, mas, no longo prazo, esse é um título que sempre vai te botar acima do benchmark da inflação no mercado.

Resumidamente, eu teria muito cuidado com prefixados e olharia alguma coisa de pós-fixados ou atrelados à inflação, pois se for confirmado o cenário de alta de inflação ao redor do mundo, pelo menos você está acompanhando o mercado e não fica defasado.

Como assim a renda fixa não é fixa?

As pessoas falam que renda fixa é fixa e é livre de riscos, quando na verdade ela não é. Imagine que você comprou um título prefixado a 11%, o mercado mudou completamente e a Selic voltou a subir para 14%. Nesse caso, por mais que você esteja na renda fixa, você vai amargar um prejuízo.

O mesmo acontece quando você entra num prefixado e tem uma disparada da inflação. Na época de Selic muito baixa, nós chegamos a ter uma inflação maior que a Selic, o que fazia com que o juro real fosse negativo.

Outro motivo para eu falar que renda fixa não é fixa é que se nós pegarmos as NTNs-B, que é o IPCA mais um indexador, nós tivemos momentos de retração da economia em que o IPCA foi negativo, o que fez com que as pessoas que tinham esses títulos tivessem prejuízos.

Quando eu falo que renda fixa não é fixa é muito mais uma provocação do que uma afirmação acadêmica, mas é interessante colocá-la para as pessoas.

Você disse que “se nós não estamos no fim das reduções da Selic, nós podemos estar próximos do fim”. Você não acredita que a Selic chegue ao final do ano em 9%?

Existem dois grandes pontos para discutirmos nessa história: o que o Copom vai fazer e o que o Copom deveria fazer. Se nós olharmos hoje para as condições de mercado, economia, crescimento, fluxos cambiais, balança e risco fiscal, o mercado vê uma certa acomodação da taxa de juros num patamar de 10% a 10,5%. Essa seria uma faixa de aterrissagem da Selic com segurança. Se o Copom forçar muito abaixo disso, ele pode causar um pouco de estresse no mercado, o que poderia refletir numa eventual saída de capitais do Brasil.

Daqui a seis meses, se a economia estiver forte, a inflação estiver caindo naturalmente, e os preços dos combustíveis estiverem ok, aí sim nós poderemos falar numa faixa de acomodação mais baixa.

Considerando as atuais perspectivas, quais seriam os prazos que os investidores deveriam assumir na renda fixa?

Eu sou bastante cauteloso ao fazer esse tipo de recomendação, pois as aplicações dependem muito das necessidades das pessoas. Em geral, os títulos indexados à inflação, que eu vejo como os mais seguros para muita gente, possuem prazos de vencimento mais longos, agora, se você recomenda a pessoa fazer uma aplicação num título longo, mas ela tem uma necessidade de caixa daqui a três meses, ela pode pegar uma variação do título e sair prejudicada por isso. É por isso que é bom ter uma reserva de emergência, com liquidez mais imediata, num ativo mais curto e mais líquido, nem que ele seja indexado à própria Selic, como um CDB.

Em operações um pouco mais alongadas, podem ser utilizados títulos com uma variação maior de vencimentos ou que podem ser guardados até o vencimento para serem resgatados, mas isso depende da estrutura que a pessoa tem. Se a pessoa tem uma idade mais avançada e está numa fase da vida em que não gera tanta renda, talvez ela precise de uma reserva de emergência maior e não se preocupe tanto com vencimentos de 30 anos, mas para um cara jovem, em plena atividade e em fase de geração de receita, talvez a necessidade desse tipo de reserva seja menor, o que lhe permite colocar suas apostas em títulos mais longos. Isso vai muito do momento de vida da pessoa.

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