Conversamos com Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, sobre o que deve guiar o Copom na reunião de maio. Isso porque na última reunião, realizada em janeiro, quando a Selic sofreu uma elevação de 1 ponto percentual (p.p.), passando para 13,25%, o Copom já avisou que haverá um novo aumento na mesma magnitude na reunião de março, o que vai fazer com que a taxa básica de juros passe para 14,25%. Cabe ressaltar que o Banco Central divulgou a ata da reunião de janeiro na última terça-feira (4).
Considerando que já temos contratado o aumento de 1 p.p. da Selic para a reunião de março, o que deve guiar o Copom para a reunião de maio?
O Copom de maio deve ser guiado pelo comportamento da inflação ao longo dos próximos meses e pela questão externa envolvendo a guerra comercial dos Estados Unidos, com algum tipo de medida americana podendo impactar o Brasil direta ou indiretamente. Por exemplo, os Estados Unidos podem tomar alguma medida contra o aço chinês que pode forçar a China a despejá-lo no Brasil ou limitar a fabricação de alguns produtos em outras partes do mundo, o que pode fazer com que eles fiquem mais caros para o mundo inteiro, inclusive o Brasil. Esse tipo de consequência tem que ser acompanhada não só pelo Banco Central brasileiro como por todos os bancos centrais do mundo.
É por isso que em maio nós devemos ter uma alta de 1 p.p., o que faria com que a Selic passasse para 15,25%, ou 0,75 p.p., o que faria com que ela passasse para 15%.
Isso em maio?
Isso em maio. Como a minha visão é um pouco mais alta que a média do mercado, eu vejo uma tendência da Selic continuar subindo na reunião de maio. Se o Banco Central não fizer isso, ele não vai conseguir sinalizar a conversão da inflação para meta no ano que vem.
Qual a sua avaliação sobre a inflação?
A inflação se comportou relativamente bem no 1S24. Se olharmos para a média de serviços, ela estava bem menor que em 2021, 2022 e boa parte de 2023. Se olharmos a dispersão, que é a quantidade de itens subindo ao mesmo tempo, ela ficou abaixo de 55%, bem menor que em 2021 e 2022 e um pouco menor do que em 2023. O problema é que, ao longo do final do ano passado, nós começamos a ver alguns itens mais altos, com o grupo de serviços começando a preocupar e alimentos sendo pressionados, o que fez com que a dispersão aumentasse.
O problema é que por mais que o IPCA considere o ano inteiro, existem algumas configurações que são melhores ou piores para o governo. Isso porque janeiro e fevereiro são meses em que boa parte dos prestadores de serviços reajustam seus preços, verificando a inflação do ano anterior e a repassando adiante de uma forma muito inercial.
Se nós estivéssemos com uma sensação muito fraca da economia, talvez esse repasse fosse menor, mas isso não aconteceu. Nós tivemos uma atividade surpreendente no final do ano passado, com o comércio tendo bons resultados na Black Friday e no Natal, e isso vai aparecer no IPCA cheio de janeiro e no IPCA de fevereiro, quando analisarmos o componente de serviços.
Nem de longe a inflação está fora de controle, mas há uma tendência mais negativa para o ano. Como a perspectiva não é das melhores, nós devemos nos distanciar da meta, inclusive do teto da meta.
A atividade econômica está respondendo a política monetária?
Ela está respondendo em menor grau que em outros momentos, até porque nós voltamos a ver práticas no BNDES e em outros bancos de fomento que jogam contra a política monetária. Se todos os agentes de crédito estão indo na direção de uma política monetária mais contracionista, a atividade econômica, obviamente, sente mais, mas se nós temos a Selic subindo e o BNDES criando, a cada mês, uma nova linha de crédito, com taxas menores e exclusiva para algum setor, isso joga contra a política monetária. Se pegarmos os dados do Banco Central, nós vemos a contratação do crédito privado passando para o crédito público, que aumentou.
Outro ponto é que ao longo dos últimos dez anos, nós tivemos muitas reformas no aspecto microeconômico que melhoraram o ambiente de negócios e favoreceram um crescimento econômico maior, mesmo com a política monetária restritiva, como o Marco do Saneamento e das Startups, as mudanças nos leilões de rodovias, portos e aeroportos, que geraram grandes somas de investimentos, a nova lei de falências, e o Pix, que bancarizou muita gente.
Por fim, no ano passado nós tivemos o pagamento dos precatórios, que não foi errado, já que quando uma pessoa tem um precatório, ela anseia por recebê-lo, já que o justo seria o governo não devê-lo. De qualquer forma, isso trouxe um impulso relevante ao longo do ano passado.
Se a atividade econômica está indo bem, por que ela representa um risco para a inflação?
Quando você tem uma atividade econômica mais forte, as pessoas têm uma elasticidade menor, ou seja, uma resposta menor ao preço. A desvalorização cambial do ano passado fez com que isso ficasse bem evidente, já que as pessoas não diminuíram o consumo de produtos importados. Como o mercado de trabalho está aquecido, isso faz com que as pessoas se sintam confiantes em termos de consumo. Agora, quando você tem uma atividade econômica mais fraca, com um ambiente difícil para se fazer negócios ou conseguir um emprego, a tendência é que as pessoas fiquem mais conservadoras nos seus gastos.
Como quem controla os preços de forma individual está se sentindo à vontade para reajustá-los, já que não vai perder tantas vendas, isso vai retroalimentando a inflação. Dessa forma, será necessário uma desaceleração um pouco mais abrupta para que esses agentes cortem seus custos e não reajustem seus preços tanto assim.
Na sua avaliação as políticas econômicas do governo estão em linha com a política monetária do Banco Central?
Não, não estão. Existem vozes no governo que vão nessa direção, mas isso não é uma unanimidade. Por exemplo em outubro do ano passado, ao mesmo tempo em que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, falava sobre um pacote de corte de gastos, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçava essa medida, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, falava sobre um novo auxílio gás, de maior valor e fora do orçamento. Quando esse pacote foi discutido, nós vimos o ministro do trabalho, Luiz Marinho, conseguindo tirar a mudança do seguro desemprego. Além disso, nós temos o BNDES fazendo, cada vez mais, políticas subsidiadas à parte, tirando força da própria política monetária.
Outro ponto é que o governo atual interpretou que uma parcela da política fiscal, um dos seus grandes desafios, poderia ser resolvida com aumentos de arrecadação, tanto que ele buscou isso em 2023 e 2024, apesar de ter se mostrado insuficiente. Como a tentativa de conseguir mais pontos de recursos praticamente já bateu no teto, muitas lideranças do governo passaram a questionar a própria Fazenda por ter vendido a ideia de que um aumento de arrecadação, como havia acontecido no primeiro e segundo mandato do presidente Lula, seria suficiente para manter a qualidade das contas públicas, o que não aconteceu.
Diante disso, nós temos o esvaziamento da confiança dos investidores em que o Brasil consiga honrar o seu compromisso fiscal e a sua dívida nos próximos anos, por mais que tenhamos tido alguma melhora nas agências de rating. O país fechou 2024 com dificuldades para alongar sua dívida pública, e isso tem se prolongado em 2025.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
Na minha avaliação, o mercado baixou a guarda muito cedo com relação à expectativa de juros. A partir de março, é possível que tenhamos uma expectativa maior de quanto o Copom precisará subir os juros nas reuniões seguintes.
Parece clima de guerra entre o mercado financeiro e o governo com medidas sendo tomadas por impulsos emocionais e nada racionais. A suposta logica do mercado baseada essencialmente em puro preconceito anti social, anti desenvolvimento social, industrial e economico.
E o governo querendo fazer o melhor para o povão em geral.
O mercado financeiro é sociopata e psicópata, assim como as pessoas que o defendem. Conjunto de parásitas que não serve mais que para prejudicar a sociedade e a civilidade. É a volta a Idade Média e tem um enorme bando de imbecis repetendo besteiras sem saber nem o significado das palabras que usam. O mercado financeiro é um grande cassino de apostar. Um esquema piramidal.