Hoje, uma terceira guerra mundial está acontecendo, aos poucos, com seus estilhaços atingindo todos os continentes: Ucrânia, onde a integridade de um Estado é prejudicada pela agressão russa; Oriente Médio, onde as democracias estão sob ataque sistemático; África, onde os jihadistas destroem povos e futuros. A guerra, hoje, não é apenas militar: é assimétrica, ideológica, econômica. Onde os tanques não chegam, chegam mercenários digitais, traficantes, extremistas e corruptos. E as fronteiras não são mais as linhas que víamos nos mapas: elas são porosas, violadas, ignoradas.
Este cenário viu, em 2024, mais de 120 conflitos armados ativos no mundo (fonte: Armed Conflict Location & Event Data Project – ACLED) e causou mais de 110 milhões de deslocados e refugiados (fonte: Tendências Globais do ACNUR 2024), trazendo a realidade da guerra convencional de volta ao coração da Europa e perpetuando a instabilidade em suas fronteiras.
É por isso que a pergunta “Homo homini lupus?” não é retórica. É uma provocação dramática. Hoje, o homem é verdadeiramente um lobo para outros homens: nas guerras esquecidas do Congo, na violência inter-religiosa na Nigéria, na repressão no Irã, nas valas comuns de Donbass. Mas, se esse é o cenário, a resposta não pode ser o fatalismo. E a solução não pode ser o isolamento. É preciso uma nova aliança internacional pela civilização. Uma cooperação forte, seletiva, concreta, capaz de agir antes que a desordem se transforme em guerra.
Nos últimos anos, algumas escolhas corajosas foram feitas. A Europa parou – pelo menos em parte – de simplesmente observar. Ela buscou acordos, fortaleceu fronteiras, financiou a estabilização. Sinais de conscientização que precisam ser defendidos e aprofundados.
Mas a cooperação não pode parar na gestão de fluxos. É preciso combater as causas básicas: pobreza estrutural, falta de instituições, penetração jihadista, desordem tribal. É lá, nas aldeias do Sahel, nos campos de refugiados do Chade, nos bairros devastados de Aleppo ou Cartum, que a decisão é tomada — se teremos mais guerra ou mais futuro. A Steadfast Ngo trabalha nessas mesmas áreas, especialmente na Nigéria. E já se sabe que, cada vez que a ordem é estabelecida em um lugar frágil, é quebrado um elo na cadeia da guerra.
É aqui que a cooperação internacional se torna geopolítica. Não é caridade: é estratégia. Não é ideologia: é responsabilidade. Não é uma aceitação cega: é uma escolha direcionada sobre onde investir, uma avaliação cuidadosa das alianças a serem formadas, reconhecendo a quem se tem que dizer: basta. Não faltam obstáculos. Há aqueles que, sob o rótulo humanitário, promovem interesses partidários, ideologias hostis à civilização ocidental e modelos de negócios pouco transparentes. Algumas ONGs não ajudam: alimentam a desordem. E isso precisa ser dito claramente.
Mas também há homens e mulheres, instituições e governos que buscam um caminho diferente. Um caminho europeu digno e determinado. Nem sempre alto, mas bem fundamentado. Nosso respeito a esses homens e mulheres, porque entenderam que cooperação não pode ser fraqueza, mas uma afirmação de soberania e visão. Como disse o papa Leão XIV, em sua primeira mensagem ao mundo: “Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus…” (Vatican News, 9 de maio de 2025).
Não podemos responder ao caos com silêncio. Nem ao fanatismo com indiferença. Porque a guerra não termina sozinha. Ela só se rompe conhecendo profundamente os valores que sejam considerados invioláveis. Porque a paz se constrói, mas, quando necessário, também se defende. É para isso que lutamos: para lembrar que a civilização deve ser protegida e que o homem não é um lobo, se escolhe ser um irmão