A transição para um mundo sustentável

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Lixo na Lapa (Foto: Tânia Rêgo/ABr)
Lixo na Lapa (foto de Tânia Rêgo, ABr)

A utilização predatória do solo no Brasil que persiste até hoje deve-se ao modelo agrário baseado em grandes propriedades rurais e voltado à exportação de commodities com pouca preocupação com o desenvolvimento sustentável. Desde o século 17, a mata foi desgastada ou extinta pelo fogo, pelo método de “queimadas”, tanto por falta de recursos tecnológicos, quanto pela falta de compreensão da necessidade de reflorestamento e do reaproveitamento de áreas degradadas.

Atualmente, a situação não parece haver se modificado de forma substancial. Pode-se notar que a paisagem das regiões Sul e Sudeste, herança da cafeicultura, tende a uma calvície crônica, resultante de diversas explorações pouco sustentáveis ao longo dos anos. O cultivo de Pinus para a indústria de celulose vem se expandindo, mas deixa rastros de destruição do solo e da biodiversidade. Seguimos num ritmo avassalador de destruição ambiental que pode explicar, por exemplo, o motivo pelo qual 75% da Floresta Amazônica perdeu a resiliência desde o início do século 21.

Nas regiões Norte e Centro-Oeste, cerrado e florestas transformam-se, pouco a pouco, em pasto ou em áreas para cultivo de soja, além de terem suas águas assoreadas ou poluídas pelos centros urbanos, pelo uso indiscriminado de fertilizantes ou exploração inadequada dos recursos minerais.

A expansão do agronegócio tende ainda a defender a redução da área de reserva legal ou legitimar planos estaduais sobre florestas que contrariam a normativa federal, alterando disposições do Código Florestal editadas com o fim de conter o desmatamento e proteger os biomas nacionais.

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Com pouca noção do papel a ser desempenhado pelo mundo natural na atividade socioeconômica, desaparecem cerca de 10 mil km² de floresta por ano, apenas na Amazônia, o que já representa a perda de cerca de 20% de sua área total. O desmatamento bateu recorde no mês de junho e no acumulado do ano o bioma já perdeu cerca de 4 mil km².

A situação vem se agravando com as mudanças climáticas e eventos extremos, resultado sobretudo da ação humana decorrente do desenvolvimento insustentável e que atinge de forma mais intensa a população pobre e vulnerável, além das populações tradicionais, como os indígenas, ribeirinhos, campesinos, quilombolas, e demais povos da floresta.

Da transição dos combustíveis fósseis para a construção de infraestrutura verde, há muito a ser feito, diz Kristy Drutman, jovem ativista ambiental nos EUA. No Brasil, Mariana Menezes levanta a sua voz pelas famílias e crianças “que pouco contribuíram para o aquecimento global e serão severamente impactadas por terem seu futuro ameaçado”. A amazonense Vitória Pinheiro, por meio da “Palmares”, mobiliza a juventude em prol da justiça racial e ambiental.

Muitas pessoas se unem às pautas das comunidades tradicionais e dos povos indígenas para a proteção da natureza. Estamos em um momento em que é essencial diminuir a velocidade dos impactos que geramos diariamente na natureza. Talvez seja possível começar essa transição para um mundo sustentável por mudanças em nosso comportamento diário, pois cada um é ator essencial na defesa da natureza, o que na realidade significa também a luta pela autopreservação.

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