“A única maneira de tornar um homem digno de confiança é confiar nele.”

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(Henry Lewis Simon, 1867-1950, em A Bomba e a oportunidade)

Um dos maiores desafios impostos à empresa que faz a opção pelo caminho da cidadania empresarial é o da transparência. Na maior parte das vezes, mal se supera a etapa de construir um credo organizacional de forma participativa.

Na sua prática do dia a dia, as empresas expressam os valores e comportamentos do grupo social que são e com os que se relacionam. Nelas, os partidos disputam o poder, só que com nomes peculiares. Os partidos do marketing, da produção, dos suprimentos, do diretor fulano e do acionista beltrano fazem composições táticas, recompõem as posições, disputam cargos e hegemonia. Com o tempo, causas e conseqüências das disputas acabam se confundindo, como a escolha de um fornecedor, a opção por uma alternativa estratégica de market share, rentabilidade, lançamento de produtos ou marcas.

Quando a empresa encontra uma oportunidade de zerar o contencioso interno, reagrupando-se em torno de um propósito comum capaz de sensibilizar todas as lideranças, ela está diante de uma oportunidade de discutir e renovar o seu ideário. Encontrar esta oportunidade de limpar os filtros internos e oxigenar a organização é tão importante que a empresa deve criá-la de quando em quando. Os programas participativos de gestão, incorporados há não muito tempo à literatura e prática dos executivos, representam um bom ensejo para orientar as empresas desbussoladas.

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A implantação administrada de sistemas de garantia de qualidade, com os programas sensibilizadores de ambientação e o compromisso coletivo na busca de certificações e premiações, tem contribuído tanto para aproveitar oportunidades quanto para perdê-las, conforme o respeito a alguns itens estratégicos. As empresas podem obter mais ou menos sucesso nesta empreitada se estão em um bom ou mau momento. A montagem de um sistema de garantia de qualidade no reverso do desempenho financeiro pode ser contaminada pela adoção de medidas mais duras, como demissões.

Os programas participativos, por definição, devem ser estabelecidos com o engajamento das lideranças existentes. Líderes, no entanto, não circulam pela empresa com um crachá que aponte esta condição. Consequentemente, estes programas devem incluir nos seus propósitos o fomento das lideranças emergentes, através da criação de oportunidades que as revelem e desinibam as suas atuações. Este é um dos itens estratégicos capaz de responder pela sustentação de um programa participativo, quando bem gerido, ou pelo seu insucesso.

A construção da empresa-cidadã representa um dos mais efetivos programas participativos. Mexe com valores, aglutina em torno de causas ou projetos relacionados ao bem comum, impõe a inclusão de propostas positivas nos programas dos “partidos” peculiares às empresas, desenvolve lideranças, ambienta, critica e fortalece sistemas de garantia da qualidade. Um dos seus primeiros passos é a própria revisão do ideário da empresa, ensejando uma “constituinte” interna, capaz de reunir as forças mais legítimas da organização.

Para o processo ser efetivado, um procedimento crítico deve ser valorizado. A instituição de mecanismos de audiência de empregados e colaboradores na realização de projetos sociais internos ou externos.

Projetos de benefícios precisam ser vistos como um estímulo ao engajamento e identidade com a empresa, desde a etapa mais preliminar de definição, e não como dádivas de um olimpo generoso. Iniciativas de trabalho voluntário junto à comunidade, igualmente construídas coletivamente, facilitam o estabelecimento de um elo sólido entre a empresa-cidadã e o seu entorno, além da possibilidade de aperfeiçoar a formação gerencial. Investimentos na sociedade devem ter suas prioridades e focos discutidos pela mais ampla gama de colaboradores que se puder comprometer nisto.

A julgar pelos números de mortalidade de microempresas ou de longevidade das grandes empresas, não é fácil erguer um empreendimento. Fazer nascer uma empresa-cidadã de dentro de uma empresa inicial muito menos. Não se trata aqui de facilidades e sim de responsabilidade social e fortalecimento das organizações administradas.

QUALIDADE DE EMPRESA-CIDADÃ
Desde 1988, a Petrobras realiza o “Programa Criança”. Seus objetivos são propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer, através de ações sócio-educativas, para que meninos e meninas de comunidades carentes possam conhecer novos horizontes e valorizar a cidadania. Implantado em mais de 30 comunidades, o programa já beneficiou cerca de 6 mil crianças.

A Usina Siderúrgica de Piracicaba, do Grupo Belgo-Mineira, em parceria com a Secretaria municipal de Saúde, desde 1997 realiza o programa de acuidade visual “Ver é Viver”. Trata-se de método preciso para identificar a presença de dificuldades oculares em crianças de sete a 14 anos matriculadas na rede pública de ensino, no Sesi ou filhos de trabalhadores da usina. Já foram atendidas pelo programa 32.019 crianças, sendo que 11.006 no ano 2000.

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