A verdade sobre o poder mundial

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A onda de destruição que varreu o mundo, no período 1939-1945, levou a um segundo plano potências que, até então, desempenhavam papel hegemônico na política internacional – Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália e Japão -, abrindo espaço para o advento de um sistema dual de poder mundial, no qual os Estados Unidos e a antiga União Soviética passaram a ser únicas potências de primeira magnitude, em decorrência das suas posições estratégicas, extensões geográficas e de seus enormes poderes militares.
Consolidou-se, então, um período marcado pela divisão do mundo, em dois blocos antagônicos. Surgiram o Muro de Berlim, a “Cortina de Ferro”, um longo período de rearmamento, o choque ideológico, a emancipação de antigas colônias e a busca da supremacia nuclear. Tal situação, conhecida como “Guerra Fria”, várias vezes, colocou o mundo à beira do holocausto nuclear e revelou à humanidade, pela primeira vez, em sua história, que era possível a destruição da civilização e a extinção da vida na Terra.
Há dez anos isto acabou e a derrota do chamado socialismo real trouxe consigo o fim deste sistema dual. Tal derrota decorreu da corrosão, pela prática, da ideologia coletivista implantada no Leste Europeu. O fim da experiência soviética e o conseqüente término do sistema dual deveu-se, também, a aspectos de natureza cultural, política, antropológica e social, mas, ressaltaremos, nesta abordagem, a questão econômica, em razão da ênfase que o próprio marxismo atribui às relações econômicas. As soluções simples, propostas pelo que veio a se conceituar como socialismo real, para questões complexas, mostraram-se inadequadas aos anseios humanos. A falta de caracterização do valor, a inexistência de uma teoria que explicitasse de forma insofismável a valorização dos bens econômicos, e, portanto, do preço, como instrumento de controle do processo econômico, conduziu a URSS a uma crise econômica sem precedentes, facilitando o avanço das forças econômicas exógenas e políticas endógenas que derrubaram o regime soviético. Ao atribuir-se a ruptura, no campo econômico, à irresolução de questões postas no campo da teoria do valor, não se está minimizando a ineficiência na alocação de recursos do sistema soviético de planificação centralizada, nem a conhecida ausência de um modelo que privilegiasse a produção e o consumo de massas, ou, ainda, a incapacidade observada, nas economias dos países socialistas coletivistas, de introduzir o progresso técnico e organizacional no sistema econômico, mas, simplesmente, reconhecendo que todas essas questões são caudatárias de tal anomalia.
A queda do Muro de Berlim destruiu a dualidade entre o Leste e o Oeste, sendo este episódio um dos propulsores da onda de um novo liberalismo no mundo, em particular, nas economias de desenvolvimento tardio. Contudo, a queda do muro também abriu, no início dos anos 90, um extraordinário leque de possibilidades estratégicas, nas formas de manifestações e aplicações do poder. A mudança não deve ser sentida só como uma hora de risco; é, também, uma época de oportunidade, pois nos traz, sempre, um mundo novo.
A competição dos dois blocos de poder, o ocidental e o oriental, acabou levando ao total desmantelamento do bloco oriental. Entretanto, a competição, que se deu entre os blocos, alterou, também, profundamente, as condições que existiam no bloco ocidental nos meados da década de 40. Os EUA tiveram, ao longo do tempo, em decorrência do processo competitivo em que estavam envolvidos, de ceder espaço na participação do produto mundial para outros países do bloco ocidental. De uma participação de mais de 50% no produto mundial, ao término da II Grande Guerra, restava aos EUA pouco mais de 20% ao fim da “Guerra Fria”. Os maiores beneficiados deste processo de competição foram as potências perdedoras da II Guerra Mundial: a Alemanha e o Japão. Em síntese, os EUA perderam poder, sob o ponto de vista econômico, em relação ao Japão e à Alemanha, seus antigos inimigos, ao longo dos anos da Guerra Fria. Contudo, ainda assim tem um poder incontrastável em decorrência de seu poderio militar, como veremos adiante.

Darc Costa
Membro do Conselho Editorial do Monitor Mercantil e do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres)

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