A Academia Brasileira de Cultura deu posse, na última terça-feira (14), aos seus novos acadêmicos, em uma sessão magna realizada no Palacete da Fundação Cesgranrio, na presença de diversas autoridades.
Foram empossados 14 acadêmicos: a cantora Margareth Menezes, ministra de Estado da Cultura, ocupante da Cadeira 28, patronesse Emilinha Borba; a cantora Daniela Mercury, Cadeira 24, patrono Gonzaguinha; a cantora Alcione, Cadeira 30, patronesse Ângela Maria; a escritora Conceição Evaristo, Cadeira 34, patrono Machado de Assis; a atriz Glória Pires, Cadeira 42, patrono Antonio Carlos Pires; a poetisa e filósofa Viviane Mosé, Cadeira 48, patrono Nietzsche.
E ainda: o cacique e secretário de Articulação de Promoção dos Direitos Indígenas Juma Xipaia, Cadeira 49, patrono Marçal de Souza Tupã; a cantora Liniker, Cadeira 51, patronesse Elza Soares; o gestor cultural Antenor Neto, Cadeira 52, patrono Pixinguinha; o diretor teatral José Luiz Ribeiro, Cadeira 53, patrono Murilo Mendes; a atriz e apresentadora Luana Xavier, Cadeira 54, patronesse Chica Xavier; e a atriz Vanessa Giácomo, Cadeira 55, patrono Chico Anísio.
A academia foi idealizada e criada em 2021 pelo professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira, um verdadeiro mecenas das artes, e, de lá para cá, tem discutido os grandes temas que envolvem escultura, pintura, grafismo, televisão, teatro, cinema, ópera, música, balé, moda, orquestra sinfônica, religião, circo e toda e qualquer manifestação que vise à valorização da cultura do Brasil.
Tais discussões são apresentadas aos poderes municipais, estaduais e federais como propostas de trabalhos que podem ser executados em prol da riqueza cultural do Brasil, esse país de tamanho continental. Importante frisar que essas deliberações envolvem as cinco regiões geográficas da República Federativa do Brasil, não ficando circunscritas a uma ou outra região brasileira.
Com o falecimento de alguns dos seus integrantes, como a cantora Elza Soares e a acadêmica Nélida Pinõn, foi necessário promover eleição de novos acadêmicos, que passaram a se juntar aos já empossados: Fátima Bernardes (televisão), Zeca Pagodinho (música popular brasileira), Lucy Barreto e Luis Carlos Barreto (cinema), Beth Serpa, Margareth Padilha, Hildegard Angel e Carlos Tufvesson (moda), Carlos Alberto Serpa, Eduardo Barata, Marcelo Calero, Ricardo Cravo Albin, Leandro Bellini, Claudio Magnavita, Myrian Dauelsberg (produção cultural), Dom Orani Tempesta (religião), Gonçalo Ivo, Mário Mariano, Marli Azeredo (artes plásticas), Isaac Karabtchevsky, Carol Murta Ribeiro (música clássica), Fernando Portari (canto lírico), Lilia Cabral, Christiane Torloni, Rosamaria Murtinho, Beth Goulart (atrizes), Stepan Nercessian, Ney Latorraca, Wolf Maia, Eriberto Leão (atores), Vera Tostes (museologia), Gabriel Chalita, Roberto Halbouti, Arno Wehling, Marcos Vilaça, Arnaldo Niskier, Domicio Proença, Walcyr Carrasco (literatura), Elisa Lucinda (poesia), João Kleber (apresentador), Ana Botafogo e Dalal Achar (dança clássica), Débora Colker e Carlinhos de Jesus (dança contemporânea) e Newton Cunha (antiquário).
Ao finalizar o evento, o presidente da Academia Brasileira de Cultura, professor Carlos Serpa, destacou a importância de cada um dos novos empossados, que se juntam a uma constelação de estrelas da cultura nacional, enfatizando que “juntos teremos força. Nossos ideais hão de prosperar. E de mãos dadas, mercê da nossa experiência em cada área da cultura, a faremos eternamente presente na vida de nossos conterrâneos, protegendo e incentivando a todos que, como nós, dedicamos nossa vida à Cultura, em suas diferentes formas. Em conjunto, nascemos com forte ideal.”
Durante a posse, os acadêmicos receberam os seus diplomas, as insígnias e fizeram o juramento de praxe. Os imortais foram homenageados com um fardão, roupa que lembra os trajes clássicos da monarquia, confeccionado nas cores vinho e dourado, pelo Instituto Zuzu Angel, que representam o amor e a riqueza de espírito. Os novos acadêmicos também receberam um medalhão criado pelos artistas plásticos Welton Moraes e Victor Zott. No medalhão estão representados os símbolos brasileiros, como a folha de guaraná (verde), a palmeira (dourado), os bicos de tucano (amarelo e preto) e um pandeiro estilizado (centro em azul).
Ao final da solenidade, o hino da Academia Brasileira de Cultura foi executado pela cantora Taty Caldeira, acompanhada pelo maestro Cyrano Salles.
A arte, a educação e a cultura existem para temperar o nosso viver. Estão relacionadas ao exercício do pensamento e à geração do conhecimento. Valores essenciais na formação pessoal, moral e intelectual do indivíduo e no desenvolvimento da sua capacidade de relacionar-se com o próximo. E é assim que a Academia Brasileira de Cultura vem, desde que foi instalada, atuando, sempre em defesa dos valores culturais do país, resgatando vários deles, adormecidos nos últimos tempos, por falta de uma atuação eficiente e eficaz em relação aos projetos culturais.
O Dicionário Aurélio ensina-nos que imortal é um adjetivo de dois gêneros: que não morre; eterno, imorredouro; que será sempre lembrado. Substantivo de dois gêneros: aquele ou aquilo que não morre; membro das Academias. À semelhança da Academia Francesa, o integrante de uma Academia preza por essa prerrogativa, a de ser “imortal”, ou seja, nem mesmo a morte o desvinculará da instituição na qual tem assento vitalício.
Olavo Bilac dizia que “três coisas neste mundo que são, não podem mais deixar de ser. São elas: padre, filho natural e acadêmico”. Assim, a condição de acadêmico, uma vez eleito e empossado, é eterna. Impor limites a ela é desrespeitar a história, ser inimigo da democracia e da liberdade.
Recordo-me das palavras irrefutáveis do ministro Murta Lages, na presidência do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais: “a vitaliciedade não pode ter limites, ela é ou não é, ela não pode ser adjetivada”. O jornalista Divo Marino diz “os acadêmicos são chamados de imortais, classificação que torna absoluta a vitaliciedade da vida acadêmica… Assim, para permanecer acadêmico, o imortal não precisa pagar pedágio, não ser classificado de ‘sócio de clube’, e nem comparecer ao chá… A imortalidade pede independência vitalícia”.
Ainda morto, o membro de uma Academia dela recebe homenagens em sessão de despedida ou da saudade, palavra só existente na última flor do Lácio, a língua portuguesa.
Vida longa aos novos acadêmicos, imortais da Academia Brasileira de Cultura. Que esse grupo, que reúne a diversidade cultural mais expressiva do país, possa dar seguimento ao belo trabalho em curso, em defesa das riquezas culturais do Brasil, e que projetos exequíveis possam ser desenvolvidos, resgatando as maravilhas deste país de cultura tão exuberante e invejável.
Paulo Alonso é jornalista, reitor da Universidade Santa Úrsula e titular da Academia Brasileira de Educação.