ACM e as eleições presidenciais

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As últimas atitudes de ACM levam a formular uma hipótese, que tem como pano de fundo as intrigas intrínsecas à sucessão presidencial de 2002.  A resposta de ACM à vitória de Jader Barbalho, materializada em sua conversa com três procuradores do Ministério Público (MP), na qual centra sua críticas em FH e distribui acusações por todos os lados, até contra o PT, pode ser interpretada como trapalhada política, decorrente da reação de uma personalidade mercurial frente a uma derrota humilhante. Esta interpretação, entretanto, não faz justiça à trajetória política de ACM, na qual as explosões de temperamento sempre estiveram combinadas com uma estratégia formulada com muita frieza.
O comportamento de ACM parece ter sido marcado profundamente pela desconfiança de que estivesse sendo articulada, a partir de Serra e do PMDB paulista, uma aliança para respaldar a candidatura presidencial do tucano, que alijaria o PFL e, principalmente, o grupo de ACM, do novo núcleo de poder, ou pelo menos os deixariam a reboque. ACM passou a centrar fogo a partir da CPI do Judiciário, seu grande trunfo, sobre o PMDB e, posteriormente, sobre a candidatura de Jader à Presidência do Senado.
Deve ter sido com grande surpresa que descobriu que por trás da candidatura de Jader e da articulação de Serra estava o próprio FH. A presença deste pode ser explicada pela avaliação de que, para dar continuidade ao ” projeto tucano”, seria difícil repetir em 2002 a aliança conservadora que o levou duas vezes ao poder. A candidatura de Serra tem para muitos o glamour da esquerda moderna.
Representa uma tentativa de FH de embaralhar as cartas na frente dos eleitores, procurando compensar carências de seu governo na área social com um nome cujo passado político está associado à luta contra a ditadura militar e cuja participação do governo sempre foi marcada por críticas à equipe econômica.
Esta constatação possivelmente levou ACM a dobrar a aposta e centrar fogo no próprio avalista da articulação: FHC ACM parece não ter se conformado com o destino de uma simples liderança regional, alijado do jogo político das grandes decisões ( como por exemplo, a privatização do setor elétrico), como aconteceu com o ex- presidente Sarney, após deixar a presidência do Senado.
O desdobramento desses fatos políticos dependerá dos cacifes possuídos dos dois lados. De uma parte o governo tentará isolar ACM e diminuir a importância de suas denúncias, tentando descaracterizá-las sob o argumento de falta de provas. De outra, ACM tentará romper esse isolamento, o que dependerá da qualidade da munição que ele guarda e da lealdade de velhas amizades.
Caso ACM obtenha sucesso, mesmo que relativo, passará a colocar-se como uma alternativa real no quadro sucessório, ocupando o campo do moralismo, que até então vinha sendo exclusivo do PT. Não se deve esquecer que o nome de ACM vem apresentando um crescimento consistente nas últimas pesquisas de opinião pública.
Entretanto, o isolamento político de ACM parece ser a hipótese mais provável, tendo em vista a habilidade política e capacidade de articulação que FHCdemonstrou em ocasiões semelhantes, a menos que ocorra alguma deterioração rápida no quadro econômico, o que não é provável.
Mas parece claro que FH não esperava uma reação tão forte de ACM. É preciso avaliar a profundidade do desgaste que FH sofrerá, justamente no momento em que tentava capitalizar os resultados internos favoráveis da economia.
Além disto, o episódio poderá consolidar a abertura prematura do processo sucessório, o que reduz os graus de controle de FH sobre o mesmo.   Resta saber se a oposição será capaz de tirar proveito do episódio ou se ingenuamente será utilizado na tentativa do governo de desmoralizar as denúncias do Senador Antônio Carlos Magalhães.

Mario Tinoco da Silva
Subsecretário Geral de Fazenda  do Estado do Rio de Janeiro

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