Um eventual acordo de livre comércio entre Mercosul e China traria ganhos de PIB, investimentos, renda, exportações e importações em todos os países envolvidos. Em simulação para o período 2024–2035, o Brasil teria ganhos de 1,43% de PIB, 7,3% de investimentos, 1,26% de aumento real de salários, 7,1% de exportações e 9,4% das importações. Em números absolutos, o país teria o maior ganho em termos de PIB do bloco: US$ 30 bilhões.
Os dados constam do estudo “Investimentos, cadeias de valor e competitividade: a China e o Mercosul”, lançado em Brasília nesta quarta-feira (11), que avalia os impactos, riscos e potencialidades de um acordo entre o Mercosul e a China. Realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China, o estudo contou com patrocínio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O possível acordo traria ganhos de produção e emprego em quase todas as áreas do agronegócio e em alguns segmentos específicos da indústria, ao passo que as perdas seriam concentradas em outros segmentos da indústria. “Na prática, o tratado tenderia a aprofundar os padrões atuais de comércio entre Brasil e China”, reconhece o estudo.
A indústria de transformação teria perdas de US$ 6,7 bilhões na produção. Os setores mais afetados seriam têxteis, artigos de vestuário e acessórios, produtos eletrônicos, equipamentos elétricos, calçados e artefatos de couro, máquinas e equipamentos e outras manufaturas. Ou seja, setores intensivos em trabalho ou intensivos em capital e tecnologia.
O agronegócio teria um ganho total de produção de US$ 14,6 bilhões. Mais de um terço deste ganho seria no setor de carnes de suíno e de aves (cerca de US$ 5 bilhões, equivalente a uma expansão de 15,7%), seguido por sementes oleaginosas, pecuária, óleos e gorduras vegetais e açúcar.
Haveria ganhos de produção e emprego em quase todas as áreas do agronegócio e em alguns segmentos específicos da indústria, ao passo que as perdas seriam concentradas em outros segmentos específicos da indústria.
China ganharia espaço nas importações brasileiras
O comércio exterior do Brasil teria uma dinâmica típica de processos de abertura comercial, com crescimento mais acentuado das importações no período inicial. Com o passar do tempo, as exportações ganhariam fôlego, na medida em que a derrubada de barreiras provocasse ganhos de competitividade. Em 2035, o crescimento acumulado das exportações superaria o das importações, segundo o estudo.
No agronegócio, as exportações totais (não apenas para a China) teriam aumento de US$ 11,9 bilhões, ou 8,67% a mais em relação aos ganhos no cenário sem acordo.
A indústria de transformação também teria aumento de exportação em todos os setores, com um ganho agregado de US$ 13,5 bilhões (aumento de 11,46% em relação ao cenário base). Os setores mais beneficiados seriam veículos e peças, metais ferrosos, máquinas e equipamentos, químicos e metais não ferrosos.
O acordo também traria aumento generalizado das importações. A expansão estaria fortemente concentrada nos setores da indústria de transformação – com variação agregada de US$ 24 bilhões, ante crescimento de apenas US$ 559 milhões nas importações do agronegócio. Os setores com aumento mais expressivo seriam máquinas e equipamentos, produtos eletrônicos, equipamentos elétricos, veículos e peças, artigos do vestuário e acessórios e têxteis.
As importações da China se elevariam em US$ 41,8 bilhões, ao passo que aquelas vindas do resto do mundo se reduziriam em cerca de US$ 22 bilhões. Isso significa que quase metade do aumento das importações da China viria do desvio de compras que o Brasil faria de outros países na ausência do acordo.
Desafios significativos no acordo Mercosul–China
“Este estudo é um exercício sobre os potenciais benefícios, riscos e oportunidades de um eventual acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China, país que é cada vez mais relevante para os integrantes do bloco sul-americano. Em razão de sua escala e competitividade, a produção chinesa coloca desafios significativos para a indústria brasileira e de seus sócios, que devem ser levadas em consideração em qualquer estratégica comercial”, afirma Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, em mensagem que abre o estudo.
“Ainda assim, simulações realizadas por técnicos do Ipea indicam ganhos de PIB, emprego, renda, exportações e importações decorrentes de um eventual acordo comercial. O documento ressalta que qualquer negociação não deve se restringir a questões tarifárias, mas abarcar temas como investimentos, harmonização regulatória e cooperação tecnológica como pontos de partida para o estabelecimento de cadeias regionais de produção, o que daria certamente um caráter mais estratégico às relações econômicas entre as duas partes”, complementa Castro Neves.
“A principal mensagem deste estudo é a de que qualquer discussão sobre um eventual Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a China não deveria se restringir apenas a questões comerciais, mas também abarcar temas como investimentos, tecnologia e criação de cadeias produtivas regionais, em especial as ligadas à transição energética e descarbonização”, destaca o documento.
Os efeitos de um eventual acordo podem ser mais abrangentes caso ele inclua cláusulas relacionadas à facilitação de investimentos, mudanças regulatórias e mecanismos de cooperação tecnológica e produtiva.