Popularidade política anda na contramão de inflação e desemprego
Há uma percepção generalizada que a atual inflação penaliza principalmente as famílias mais pobres, uma vez que se faz presente com grande intensidade em bens e serviços básicos, como energia elétrica, gás de cozinha, combustíveis, aluguéis e alimentos. É elevado o número de pessoas que voltaram a ter insegurança alimentar, a morar na rua, ou a usar o fogão a lenha. Esta inflação é, especialmente, perversa, mais um desemprego, um desalento e estagnação da renda, como mostrou o dado divulgado pelo Banco Central (IBC-Br) recentemente.
Este quadro inflacionário, por outro lado, gera ganhadores. A disparada do dólar, aumenta o preço de produtos e insumos importados, pressionando a inflação. Por outro lado, favorece os setores exportadores, como o agronegócio, mais interessado em exportar comida do que a ofertar no mercado doméstico, onde a fome se alastra. Também favorece quem tem ativos em dólar.
O aumento dos preços da energia elétrica também se relaciona diretamente com decisões políticas. Dentre elas destacam-se as de longo prazo, como a opção por enormes usinas hidrelétricas em lugar de empreendimentos menores e descentralizados, aumentando o impacto ambiental e a suscetibilidade a eventos climáticos.
A política do setor de óleo e gás também contribui para o rápido aumento dos preços. O país passa a exportar cada vez mais óleo bruto e a importar refinados. E a política de precificação da empresa, associando os preços dos combustíveis àqueles observados no mercado internacional (em vez de associá-los aos custos em moeda nacional), gera enorme pressão sobre a inflação, não só dos combustíveis, mas de toda a cadeia produtiva que deles depende.
São decisões políticas que impactam a inflação, gerando ganhadores e perdedores. A alta no dólar encarece alimentos importados e favorece a exportação, sobrando menos para a oferta doméstica. A comida fica cara, a fome se alastra, e o agronegócio exportador ganha. O aumento dos combustíveis e da energia elétrica favorece os acionistas das empresas produtoras, mas penaliza toda a população. A soma desses fatores impacta o preço dos aluguéis, favorecendo locadores em detrimento a quem precisa pagar pela moradia, de modo que centenas de milhares de pessoas moram nas ruas.
Resumo da ópera: a inflação atual é, em larga medida, determinada por decisões políticas desastrosas e perversas na medida em que penalizam as camadas mais pobres da população em favor de grupos privilegiados. Considerando que popularidade política anda na contramão de inflação e desemprego, a questão econômica vai dominar o debate para as futuras eleições de 2022 e gerar muita dor de cabeça para os políticos de plantão.
Ranulfo Vidigal é economista.