Agenda 2005 contra o PT

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No Brasil, sucesso é crime. Ao reverter parcialmente o quadro econômico negativo aprofundado pelo Governo anterior, prepare-se o PT para colher os frutos da inveja tão adequadamente vocalizados pelo PSDB e por suas lideranças dos anos 90 capitaneadas por FHC, desestatizador do país.A vantagem do PT, o sucesso em 2004, permite-lhe reduzir os atritos com as classes conservadoras e econômico-financeiras, abrindo espaço para rediscutir pontos essenciais da agenda que herdou do FMI e que contingência o país desde a desventura do real sobrevalorizado frente ao dólar, de 1994 a 1998. Lembremo-nos que em 1998, a fuga de capitais já ventando sobre o Brasil em virtude do real sobrevalorizado, o Governo FHC manteve aquele regime para recolher votos para a reeleição, como se viu. Logo em seguida desvalorizou o real, tempestades de fins de 1998 e início de 1999.
A agenda com o FMI vai desde o encerramento do presente acordo, passando por renegociações para alterar o percentual de superávit primário desejável para servir os juros da dívida interna, além ainda da exclusão de investimentos do governo na conta de despesas, ambas alternativas ao encerramento do acordo. Portanto estaríamos próximos de um Brasil menos gerido pelo FMI, podendo andar com suas próprias pernas, cambaleante – para usar metáforas do Presidente – mas andando, o que não se conseguiu na gestão FHC. Mas aí a inveja vai subir de tom.
Os pontos da Agenda 2005 da Oposição, na área econômica, não são poucos. Vejamos alguns: real sobrevalorizado – do Ministro Furlan ao Presidente, começaram as reclamações, aqui contra o mercado, autor deste descalabro; contra a taxa de juros Selic, mas não contra os juros bancários finais, sempre discretamente ignorados; taxa de crescimento menor do PIB em 2005; aumento das importações e redução das exportações, com menor saldo comercial; redução de renda da população, um agravante pós  do Plano Real que criou uma renda elevada em seus primeiros anos, corroída posteriormente com a inflação persistente desde então; infra-estrutura do país perto do colapso, por falta de investimentos  desde a década perdida de 1980, sobretudo em transportes; avanços ou recuos no programa de desestatização, desemprego com taxa elevada, para citar os principais. Conforme prenuncia o colunista José Carlos Assis, deste MM, movimentos contra o desemprego poderão tomar forma e corpo em 2005.
Como o “mercado” adjetiva a política econômica com um ótimo, – a pontuação atual do risco Brasil, em torno de 400 -, qualquer queda do ótimo para o muito bom trará mal estar a todos os seus defensores, abrindo a brecha para a Oposição vocalizar que o ritmo de crescimento da economia se desacelera e as “coisas” pioram.
A mudança de cenário, inda que a patamares elevados, trará o “mercado”, – em grande parte vocalizado pelos estamentos financeiros paulista e internacional -, a alterar a colocação de suas fichas no jogo, abandonando o “céu de brigadeiro” atual, onde tudo é positivo ou mais, para estabelecer sinais de alerta ou de expectativas a se consolidar, recomendando, por exemplo, a saída percentual de posições ganhadoras, em bolsa, dólar  (posições vendidas) – e em juros, para “botar algum lucro no bolso, no jargão. Nesta hipótese para o segundo semestre de 2005, especuladores do “mercado” e políticos da Oposição poderão estar convergindo na análise da realidade econômico-financeira, e então, tratarão de exacerbar e exponencializar seus pontos de vista, objetivando colher resultados de números não tão bons e portanto com potencial de crise. Aí é que mora o perigo, capaz de forçar ao PT uma derrapagem. E não adianta lá na frente xingar o mercado, o que tem acontecido com freqüência. O “mercado”, não sendo extinto, permanecerá falando, através dos vários porta-vozes incluindo até operadores de pregão, ao vivo e a cores, nas tevês.
A expectativa do aumento dos juros americanos em 2005, de modo a atrair recursos em dólar para financiar aquela dívida, pode frear a vinda de recursos financeiros ao país o que, somado a um menor superávit comercial – inda que imenso para nossos padrões – colaboraria para desvalorizar o real, a ser interpretada então, pela Oposição junta com o mercado como uma fraqueza do governo.
Na área social o PSDB assumiu a vanguarda do discurso crítico ao PT, com a liderança do mesmo FHC e a menos que o PT elabore uma resposta adequada e convincente, este discurso crítico que já vingou – como no caso do Fome Zero – poder-se-á alastrar, com o “conveniente” apoio da “mídia amestrada”, na feliz expressão de Marcos Coimbra, colaborador deste MM. Portanto, as áreas econômica e social oferecerão um bom potencial de crítica ao governo, prato predileto das Oposições e também dos partidos da base aliada ,estes buscando maior espaço na máquina governamental, desalojando o PT, a “despetização”, bandeira do próprio Lula (e seu grupo paulista?).
Mas enquanto estes cenários menos tranqüilizadores para o 2º. semestre de 2005 não se materializam, Oposições e sobretudo a mídia, estarão explorando as contradições internas dos vários grupos que compõem esta frente única das esquerdas do PT, uma solução inteligente do ponto de vista do debate acadêmico, mas de alto risco quando se trata de agir ou de gerir a máquina governamental. Assim o grande público começa a conhecer o jogo de forças no PT, como exibiu o “Globo” a 14.11.04, identificando “a força de cada tendência na votação das teses-guia para o encontro de Recife/Dezembro 2001: Articulação: 52%, Articulação de Esquerda/Ação Popular Socialista: 15,74%; Democracia Socialista: 14,75%; Movimento PT: 8%; PT de Luta e de Massas: 4,96; Socialismo Democrático: 2,93; Trabalho: 2%. Segundo o mesmo artigo, de Maria Lima, o Campo Majoritário, alinhado com Lula, abriga: Articulação Unidade na Luta – Lula, José Dirceu, Palocci, A. Mercadante, Humberto Costa, Patrus Ananias, Luiz Dulci, João Paulo Cunha; a Democracia Radical – José Genoino -; PT de Luta e de Massas – Ricardo Berzoini.
Além da cunha destrutiva que a direita tente fazer contra o PT, ainda há outro movimento de flanco em curso: afastar o Lula do PT, no sentido de construir nova imagem para sua vitória, como sendo a vitória do talento pessoal e não da esquerda aliada ao repúdio a FHC, contra quem as vozes de Fora!, foram ouvidas muitas vezes. Merval Pereira, a 30.11.04, em “Uma aula de Lula”, comentando o filme de João Salles sobre o Presidente, demonstra como a reconstrução da imagem do presidente está em curso.  
2005 pode ser um ano azarado contra o PT, refluxo de dois anos de glória.

Paulo Guilherme Hostin Sämy
Conselheiro da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec) e presidente da Aepi.

Assoc. Anistiados Interbrás

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