“Agora vou mudar minha conduta,

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Eu vou pra luta
Pois eu quero me aprumar.”
(Noel Rosa, 1910-1937, em Com que roupa?)

Existe alguma relação entre a política de recursos humanos da empresa e o seu propósito de se tornar ou atuar como uma empresa-cidadã? Para se chegar a uma conclusão, é preciso considerar algumas coisas.

Com muita freqüência, ouvimos que os empregados da empresa representam o seu maior patrimônio. Muitas vezes, também lemos que atrair, manter e valorizar talentos são princípios básicos da política de RH da organização. Em que medida, no entanto, expressões consagradas como estas são efetivamente praticadas pela empresa? Todo executivo sabe com certeza da importância crítica de selecionar talentos para o bom desempenho dos negócios e geralmente se considera atento e dedicado ao formar a sua equipe.

Os processos de recrutamento e seleção das empresas geralmente insistem em contrariar estas convicções, porém. Tudo se inicia na sintonia entre os critérios dos processos seletivos e as exigências dos departamentos ou processos de negócios em que os futuros empregados trabalharão. Nem sempre há o diálogo necessário entre as duas partes, seja por que o dia a dia atropela o entendimento com suas urgências, seja por que a terceirização do processo de recrutamento afasta ainda mais os dois interlocutores.

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Comprometido o diálogo, o recrutamento e a seleção começam a perder a necessária objetividade. O desvio se alarga quando técnicas de aplicação pseudo científicas transformam o candidato em objeto de provas do selecionador, como no caso dos exames psicotécnicos, ou dos grafológicos, ou mais dos numerológicos. Cresce o distanciamento mais ainda quando o selecionador decide demonstrar de forma mais explícita o seu poder, começando a erguer um vácuo de identidade entre a empresa e o futuro colaborador. Por outro lado, condições restritivas desnecessárias ao desempenho do candidato são estabelecidas, eliminando talentos possivelmente disponíveis. É o caso da experiência que se cobra dos mais novos ou a experiência que se despreza dos mais velhos.

Por outro lado, na estratégia da empresa, a cidadania corporativa pode ser enquadrada em diferentes planos. Pode se restringir a simples observância das exigências legais. Num plano mais elevado, pode atuar corretivamente, compensando danos causados em outro momento. Pode atuar além deste plano, desenvolvendo o seu padrão gerencial através de projetos como os de voluntariado, competindo por clientes ou por recursos escassos, seja para investimento, seja de pessoal. No plano mais elevado, pode buscar a sua identidade ou vincular a sua missão ao exercício do bem comum. Neste nível, a motivação resultante do agrupamento das lideranças em torno de uma causa de todos é plena e precisa de um rebatimento compatível da política de RH.

O planejamento estratégico da responsabilidade social corporativa inclui ainda a mobilização da empresa na escalada sustentável dos vários níveis possíveis de consciência organizacional. O primeiro, dos limites de fronteira e tempo, a seguir os limites de comportamentos e ações, seguido da superação dos limites de capacidades controladas, após, a construção do credo corporativo, até chegar ao nível da identidade, missão e visão. A complexidade da progressão nesta escala valoriza a necessidade de mobilização dos diferentes perfis de lideranças da empresa-cidadã.

Todas as lideranças na empresa têm um papel notável no aperfeiçoamento da cidadania empresarial. Na maior parte das vezes, as lideranças atuam com mais desenvoltura sobre resultados, sobre processos ou sobre pessoas. O respaldo que se espera da política de RH na elaboração da política adequada consiste inicialmente em diagnosticar a aptidão necessária no mix da diversidade gerencial, recrutá-la, selecioná-la e promovê-la. A construção da responsabilidade social corporativa tem também este ingrediente – diagnosticar, monitorar e privilegiar a diversidade, equilibrando os diferentes perfis de lideranças.

QUALIDADE DE EMPRESA-CIDADÃ
Menção honrosa no Prêmio Fiesp de Mérito Ambiental 2001, a empresa Tetra Pak investiu cerca de R$ 3 milhões em projetos ambientais em 2000. O foco dos seus projetos é a educação ambiental nas escolas, o que resultou em um kit com cartilhas e vídeos educativos sobre reciclagem e coleta seletiva de lixo.
Além deste projeto, que já resultou na distribuição dos kits para mais de 20 mil escolas, a Tetra Pak realiza projetos de reciclagem de suas próprias embalagens e de assistência a municípios na implantação de coleta seletiva.

Paulo Márcio de Mello
Professor e diretor de planejamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Correio eletrônico: [email protected]

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