Conversamos com Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, sobre as perspectivas do Agro para 2025.
O PIB do Agro cresceu 15,1% em 2023, mas recuou 3,2% em 2024. O que aconteceu em 2024? Com relação a 2025, quais são as perspectivas do Agro para este ano considerando as informações atualmente disponíveis?
Em 2024, houve uma quebra de produção, especialmente de milho e soja, por conta da questão climática. Foi um ano de El Niño, com secas no norte e um problema muito profundo de chuvas no sul, o que fez com que o PIB do setor caísse. É por isso que nós tivemos um contraste com 2023, quando o setor teve um crescimento muito bom da produção de grãos e uma supersafra, o que impactou o PIB como um todo.
Com relação a 2025, este ano terá uma boa safra. Com os dados que temos até agora, não há nenhum sinal de quebra muito forte. Existem alguns problemas localizados no Rio Grande do Sul, mas a safra do Centro-Oeste vai ser muito boa. Como a safra deve crescer em torno de 9%, isso vai fazer com que o PIB do setor tenha, provavelmente, um bom crescimento. Isso já vai começar agora, com o primeiro trimestre devendo vir bastante forte.
Aparentemente, não há nenhuma razão para se pensar em uma situação climática muito adversa para o Agro, a não ser que haja um evento catastrófico na metade do ano, o que não é esperado, já que não vai haver nem El Niño e nem La Niña.
Tomando como referência a questão do preço dos ovos, que tem levantado muitas discussões intensas no Brasil, o presidente Donald Trump, em discurso recente no Congresso americano, destacou a ocorrência do mesmo problema nos Estados Unidos. Como se forma o preço dos alimentos?
A questão dos ovos nos Estados Unidos tem a ver com a gripe aviária, que afetou muito a produção, já que houve o receio de que uma contaminação da produção avícola pudesse contaminar outras aves e a própria população. Isso fez com que o preço da dúzia de ovos disparasse de US$ 2 para US$ 8.
No Brasil, nós temos um efeito de demanda. Como a demanda por carne e frango cresceu com muita força, isso fez com que os preços subissem com muita intensidade, o que levou as pessoas a buscarem alternativas de proteínas, sendo que a mais barata é o ovo. Foi isso que fez com que o seu preço aumentasse com certa força. Além disso, nós temos a questão da Páscoa e da Quaresma.
Esses movimentos são explicados por um conjunto de movimentos, já que cada produto tem a sua forma de precificação. Por exemplo, para uma commodity como a soja, o preço externo, o preço de Chicago, é um balizador muito importante.
Nós também temos questões de demanda mais forte ou de quebra de produção que acabam afetando os preços, sendo que essa grande volatilidade pode ser vista em produtos hortifruti, como a cebola, o tomate e a batata. Por exemplo, uma chuva muito grande, em um mercado local, gera uma explosão de preço, mas depois que essa situação climática adversa passa, a produção volta com muita intensidade e o preço cai.
Enfim, são muitas variáveis, já que cada mercado tem uma formação de preço específica. Por exemplo, existem safras que são colhidas em períodos diferentes, como no começo do ano, na metade, e a safra de feijão, que é colhida três vezes ao ano.
Uma vez que os preços dos alimentos sobem, eles passam a assumir novos patamares ou podem recuar?
Os preços podem recuar. Contudo, por mais que tenhamos uma supersafra, como é o caso deste ano, nós ainda temos as questões da forte demanda, o efeito do câmbio e os preços internacionais, o que pode fazer com que, no geral, nós não tenhamos uma queda de preços em 2025. Independente disso, quando os preços sobem, isso não quer dizer que eles vão ficar em um novo patamar e a partir daí só subir.
Vale destacar que o peso da inflação de alimentos dentro do IPCA vem caindo ao longo do tempo. Décadas atrás, os alimentos ocupavam de 30% a 35% da renda do brasileiro, sendo que hoje eles ocupam em torno de 20%, ou seja, outros itens subiram com mais intensidade que os alimentos. Isso porque toda a produtividade do setor ajudou a trazer o peso dos alimentos na renda dos brasileiros para um patamar mais baixo do que era no passado. Esse é um ponto importante que precisa ser lembrado.
As medidas que o Governo Federal pretende tomar para combater a inflação de alimentos podem ser efetivas?
É difícil imaginar que o corte do Imposto de Importação vai permitir a entrada de produtos que possam competir, em termos de preço, em uma economia que já produz muito os mesmos produtos. Cortar tarifas é sempre interessante, mas como o objetivo do governo é diminuir a inflação, é muito pouco provável que isso aconteça, pois esses são produtos que já são produzidos em grande quantidade, consumidos internamente e relativamente pouco importados. Além disso, quando esses produtos são importados, a maior parte vem de dentro do Mercosul, principalmente da Argentina, que já possui tarifa zero.