O Brasil é um país rico em recursos hídricos, mas melhorar o problema do abastecimento continua a ser um desafio. Apesar da aparente abundância de água, apenas 2,5% de toda a água disponível para consumo constitui água doce, sendo a maior parte constituída por água salgada. Ainda assim, esse pequeno percentual está fixado em geleiras, rios, lagos e aquíferos subterrâneos.
A água subterrânea constitui 22% da água doce disponível para utilização do ser humano; por isso, a necessidade de uma gestão adequada, dado que além de ser muito superior em quantidade à água de superfície, é formada, em sua maioria, por aquíferos esgotáveis. A exploração de aquíferos tem que ser acompanhada a fim de evitar transformações sedimentares no solo e contaminação. Atualmente, a distribuição de água é feita em sua maior parte por águas superficiais.
Analisar os usos das águas subterrâneas significa também estudar a importância do balanço hídrico do solo. Deve haver um cuidado com os usos e ocupação do solo, alerta o professor Célio Bertelli em mesa redonda da Abes-SP, que podem provocar, por exemplo, a recarga artificial de aquíferos decorrente das atividades humanas, podendo levar à perda dos aquíferos. A plantação de árvores exóticas como eucalipto e pinus em lugar da plantação nativa, por exemplo, altera o balanço hídrico no meio rural, pois retira a capacidade de infiltração natural das águas nos aquíferos subterrâneos.
Atualmente, a paisagem, especialmente em algumas cidades do sul do Brasil, perdeu suas árvores nativas e está dominada por plantações de eucalipto para abastecimento da indústria de papel e madeira sem um zoneamento mais sério, o que traz graves consequências, inclusive a redução da drenagem do solo, favorecendo às inundações.
Diante de um futuro de incertezas climáticas, a professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Alexandra Suhogusoff está ajudando a desenvolver o projeto Sacre (Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes) do Instituto de Geociência da USP e outros parceiros, como a Fapesp e o CNPQ, além de diversas universidades. O projeto visa buscar a segurança hídrica da cidade-piloto de Bauru, em São Paulo, nos sistemas dos aquíferos Bauru e Guarani. O projeto Sacre desenvolve pesquisa e tecnologias originais para o abastecimento de água e visa criar políticas públicas com a sensibilização também dos estudantes e da sociedade.
Investir em infraestrutura hidráulica significa também prevenir inundações e estiagens, contaminação das águas e desastres ambientais. Mesa redonda intitulada “O desafio da gestão das águas subterrâneas: como se preparar para um futuro de incertezas climáticas?”, promovida essa semana pela Abes-SP com diversos especialistas na área, discutiu a importância da gestão dos recursos hídricos, trazendo a experiência das cidades paulistas de Bauru e Ribeirão Preto.