Aids e fome assolam a África

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Luanda – Enquanto a União Africana esforça-se para imitar a União Europeia (UE) e cumprir seu projeto de integrar seus 53 países-membros, eliminando as fronteiras, criando um passaporte próprio e uma moeda comum, a aids e a fome assolam os milhares de africanos, enquanto as “organizações humanitárias” continuam apenas divulgando pesquisas que confirmam o aumento do número de africanos contaminados e mortos pela aids e pela fome, as duas pragas que assolam o Continente Negro.

Todos os países ocidentais que prometeram – só prometeram – aumentar os volumes de suas ajudas humanitárias são, coincidentemente, ex e atuais colonizadores dos países da África, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU), repete – de vez em quando – suas conferências sobre alimentação e alimentos, alertando que “a fome está matando milhões na África”.

Cerca de 20 milhões de africanos estão ameaçados de morrer de fome em países da África Subsaariana, enquanto a aids – disseminada em todos os países do continente – deverá matar o dobro de contaminados ao longo dos próximos 15 anos. Analistas europeus avaliam com ceticismo que mais de 60 milhões de africanos contaminados de aids morrerão nas duas próximas décadas, vítimas de programas políticos de governos fracassados e dos intermináveis conflitos separatistas.

União Africana e organizações humanitárias

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só divulgam pesquisas

Todos os países africanos são cobiçados – e explorados – pelos ex e neocolonizadores por suas riquezas: minérios estratégicos, petróleo, urânio e, naturalmente, ouro e pedras preciosas. Apoiados por acordos formalizados com governos corruptos, os ex e neocolonizadores, a pretexto de “defenderem a democracia”, instalam bases militares, na realidade temendo a conquista da China que, com seus multimilionários investimentos, ameaça a sobrevivência do domínio dos EUA e da União Europeia sobre os países do continente africano.

Metade dos países da África está sob a predominância político-religiosa islâmica, o que facilitou, sobremaneira, a criação e imigração de “sucursais” da Al Qaeda e de outras organizações semelhantes em seus territórios e, simultaneamente, justificou a criação na África do poderoso Comando Estratégico Militar dos EUA, assim como o aumento de forças militares da França, Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e outros.

Cerca de 20 milhões de africanos estão ameaçados (foto: ONU//Eskinder Debebe)
Cerca de 20 milhões de africanos estão ameaçados (foto: ONU//Eskinder Debebe)

Cinco Irmãs

Apesar de tudo isso, a África continua alimentando suas esperanças, mas até agora seu destino não está favorecendo seu desenvolvimento econômico, político e, principalmente, social. Seus países – com intervenção estrangeira – herdaram novas fronteiras. Suas rodovias e raras ferrovias atendem, principalmente, aos países litorâneos, em benefício dos ex e neocolonizadores que, incessantemente, continuam defendendo – a seu modo – a democracia.

Esta é a África das ilusões perdidas. Mas como desinteressar-se dela? A África tornou-se, simplesmente, mais inteligente. A África é importante. Não pode mais ser relegada por seu papel político, fazendo com que o Ocidente fique extremamente preocupado. Mas será que a África, verdadeiro trunfo, saberá tirar proveito disso? Talvez mais tarde. Bem mais tarde. Ou nunca!

Por enquanto, interessa a corrida pelo ouro negro, o petróleo da Guiné Equatorial, dos Camarões, de Gana, do Benin e da Costa do Marfim, enquanto a Nigéria continua sendo o principal fornecedor dos EUA. Hoje, o Golfo da Guiné. Amanhã, quem sabe, as jazidas do Chade e do Zaire?

Até agora esquecidas por causa, talvez de serem tão distantes das costas, mas, anotem, não foram abandonadas e constituirão, certamente, o novo Eldorado petrolífero. É uma perspectiva que mantém acesa a cobiça das grandes Cinco Irmãs pela África. Os lucros do petróleo permitem aumentar, em proveito dos países industrializados, os pedidos para fornecimento de países subequipados.

O mercado africano continua sendo dominado pelas antigas potências colonizadoras. Em 1980, o Reino Unido, mais conhecido como Grã-Bretanha, conseguiu, graças ao barato petróleo bruto africano, armazenar um excelente depósito de 15 bilhões de francos na África Susaariana (inclusive na África do Sul) onde continua, ostensivamente, presente.

O comércio da França com a África Negra continua deficitário, mas segue sustentado pelas Forças Especiais dos Paraquedistas – os famigerados “paras”, que garantem a segurança nas minas do urânio que abastecem as centrais de energia elétrica da França. A África de língua francesa representa mais de um quarto dos contratos de “engenharia diplomática” formalizados pelo governo de Paris no exterior. “A África é um pouco nosso banco de ensaios técnicos”, confessou um banqueiro parisiense.

E o apartheid?

O apartheid da África do Sul já não é uma doutrina. Mas será que mudou? Infelizmente, apenas superficialmente. A máquina do Dr. Vandwoerd prossegue cega, seus impulsos, há já vários anos um dos principais dirigentes africâneres, Gerrit Wiljoen, tenha quebrado o tabu: “O apartheid não é mais uma doutrina, mas um método que pode ser quebrado”.

É preciso mudar. Todos os intelectuais africâner dizem isto, todas as comissões governamentais de inquérito também. Não só porque o crescimento populacional (mais de 45 milhões hoje) exige hoje a criação dos necessários novos postos de trabalho, a fim de evitar o desemprego, mas também porque faltarão nos próximos anos às empresas brancas quase 1 milhão de operários qualificados e quase 200 mil de especialistas e técnicos.

Sem estes, a economia da África do Sul entrará em colapso. A imigração da mão de obra jamais será suficiente. Onde encontrá-los senão entre a população negra? Como atraí-los, sem garantir uma formação de nível adequado, condições de vida adequadas, decentes e permanentes, junto aos seus locais de trabalho? Mas eis que, de repente, de um dia para o outro, levaria à solução, a integração das raças. Hoje parece menos assustador. Os africâneres, desde 1948, estão no poder para cortar para si um fatia do bolo dos “ingleses”.

As barreiras já desmoronaram. A “job reservation” – que deixava só para os brancos os empregos qualificados – só existe agora para emprego nas minas. Os salários aumentam, frequentemente, superiores aos da Índia e da Coreia do Sul. A parte dos negros na renda nacional passou de um quinto para um terço.

João Belisario.

Africa News Agency/Sucursal da África Ocidental

Jacob Zuma, presidente da África do Sul, enfrenta acusações (foto: WEF/Matthew Jordaan)
Jacob Zuma, presidente da África do Sul, enfrenta acusações (foto: WEF/Matthew Jordaan)

Presidente Zuma também ameaçado com impeachment

Joanesburgo – Período de grave crise política atravessa a África do Sul. Os escândalos de corrupção nos quais está envolvido o presidente do país, Jacob Zuma (Jacob Gedleyihlekissa Zuma), acumularam-se e, depois da decisão do Tribunal Constitucional determinando que Juma tem prazo de 105 dias para resgatar sua dívida com o erário, sua situação evoluiu perigosamente e poderá culminar com decretação de seu impeachment.

Zuma é acusado de ter utilizado 16 milhões de rand (moeda nacional da África do Sul) para a reforma de sua residência particular, assim como de ter construído uma piscina, um centro de convenções e outras instalações. Embora o escândalo tenha sido denunciado antes, os membros do Parlamento não foram favoráveis à suspensão da imunidade presidencial e, aparentemente, seria “esquecido” até que o Tribunal Constitucional assumiu o caso, denunciando Zuma oficialmente por apropriação indébita de recursos públicos, enquanto, simultaneamente, censurou o Parlamento oficialmente por ter protegido o presidente.

Acossado, Zuma declarou não estar rejeitando suas responsabilidades e não desdenha qualquer decisão do Tribunal Constitucional, mas também não pretende demitir-se do cargo e, graças à esmagadora maioria de seu partido (Congresso Nacional Africano) no Parlamento da África do Sul e sua influência política pessoal, escapou da proposta de reprimenda pública apresentada pela oposição, apesar do forte crepitar de seu governo e das reclamações de vários cidadãos.

É reincidente

Este não é o primeiro escândalo que eclodiu tendo como protagonista o presidente Zuma. Em 2005, foi acusado de ter estuprado uma amiga de sua família, mas em 2006 foi inocentado. Desde 1999 acumulam-se denúncias de exploração de jogo monetário. Especificamente, trata-se de um acordo de bilhões que havia formalizado para aquisição de armamentos militares da Europa. Mas este caso não impediu sua reeleição para o cargo de presidente da África do Sul. Após alguns, poucos, meses antes das eleições de 2009, todas as acusações de fraude que enfrentava foram retiradas.

Quem lidera a oposição contra Zuma é Julius Malema, ex-membro da juventude do partido situacionista, fiel defensor de Zuma e fundador do partido Economic Freedom Fighters (EFF), que conseguiu 6% do total de votos nas eleições presidenciais de 2014. Malema declara que “não ambiciona o cargo de presidente da África do Sul”, mas considera que, neste momento, seu partido é governo “em compasso de espera”.

Malema exige que a África do Sul declare uma verdadeira igualdade entre a população branca e a população negra, redistribuição de riqueza do país e transparência do governo. Estas declarações de Malema fizeram com que ele ganhasse a confiança da pobre juventude negra sul-africana e declarasse sua irreversível oposição ao existente sistema de governo com um discurso socialista. Contudo, ao que tudo indica, permanece uma personalidade política duvidosa para muitos.

Oposição duvidosa

Há alguns dias eclodiram fortes tensões entre o partido oposicionista de Malema e o partido do governo, quando o líder da opsoição, em entrevista à Al-Jazeera, declarou que “muito em breve perderemos a paciência e afastaremos o governo com o cano de uma arma”. Em resposta, o partido situacionista anunciou que “processará na justiça o partido EFF, porque estas declarações representam convite para violência, são explosivas, traidoras e insurgentes e deverão ser enfrentadas com a devida seriedade”.

A propósito, a correspondente de Al-Jazeera aqui, em Joanesburgo, informou que “o partido oposicionista de Malema não dispõe de armamentos militares e não tem possibilidade de derrubar o governo com estes métodos”.

O partido situacionista está muito preocupado com o terreno que está ganhando Malema na juventude e na sociedade sul-africana por causa do crescente descontentamento contra o presidente Zuma. O oposicionista informou que “parcela de nosso dever revolucionário é de lutarmos, e não sentiremos vergonha se chegar a hora de tomarmos as armas”.

Anotem que, em passado recente, o Malema foi acusado de racismo contra a população branca do país e de fomentar a violência racial, porque, em recente manifestação política, interpretou a canção Shoot the Boers (Morte aos latifundiários, em tradução livre), que se refere aos cidadãos sul-africanos, brancos e de origem europeia.

Também tem feito comentários sobre a mulher estuprada por Zuma e acusações que existem contra ele por sonegação de impostos no período 2006–2010, fato que obrigou o governo a confiscar e leiloar vários imóveis de Zuma.

Bernardus Van Der Putten

Africa News Agency/Sucursal da África do Sul.

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