A Alemanha entrou em recessão em 2023, informou o Escritório Federal de Estatística (Destatis) do país nesta segunda-feira. Com base nos cálculos iniciais, o Destatis disse que o Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha caiu 0,3% em termos anuais, com o peso das crises globais.
A maior economia da Europa “não continuou a recuperação da forte recessão econômica vivida na pandemia em 2020”, disse a presidente da Destatis, Ruth Brand. Em 2022, o PIB alemão cresceu 1,8%.
“Apesar das recentes quedas de preços, eles permaneceram elevados em todas as fases do processo econômico e travaram o crescimento”, prosseguiu Brand, acrescentando que “as condições de financiamento desfavoráveis devido ao aumento das taxas de juro e à procura interna e externa mais fraca também tiveram o seu preço”.
A Alemanha sofre com as sanções impostas pelos Estados Unidos à Rússia. Sem o gás russo, os alemães pagam mais caro pela energia, e os produtores industriais têm dificuldade em competir com outros países. A pressão por uma energia verde, mas cara, e outras restrições têm levado a protestos, como greves e as manifestações de agricultores, que voltaram a ocupar as ruas de Berlim com tratores.
Após a fracassada reafetação dos fundos de ajuda da Covid-19 para medidas climáticas, o governo alemão pretende consolidar o orçamento deste ano através de cortes em massa. Os grandes investimentos na transformação verde serão cortados, enquanto áreas como agricultura e benefícios sociais também sofrerão.
Durante semanas, os agricultores na Alemanha têm protestado contra a planejada abolição dos subsídios agrícolas com bloqueios de tráfego. Nesta segunda-feira, milhares de agricultores com tratores reuniram-se na capital Berlim. O ministro das Finanças, Christian Lindner, foi vaiado quando tentou acalmar os manifestantes.
Segundo especialistas, o governo também enfrenta outros problemas relacionados com cortes nos benefícios sociais. O orçamento para 2024 assenta “em terreno legalmente mais do que instável”, afirmou a Confederação das Associações de Empregadores Alemães (BDA).
Tendo em conta os problemas orçamentários, vários institutos econômicos já reduziram as suas previsões para 2024, e alguns preveem mesmo uma descida mais profunda para a recessão. “Com estas fracas perspectivas econômicas, a Alemanha está sozinha entre os principais países”, afirmou o Instituto Econômico Alemão (IW).
A inflação na Alemanha enfraqueceu gradualmente no ano passado, mas recuperou novamente no final do ano, para 3,7% em dezembro. Em comparação com outros países europeus, os preços ao consumidor no país normalizaram lentamente, uma vez que o valor médio da Zona Euro já era de 2,9% no mês passado.
Os preços dos alimentos, em particular, continuaram a subir a taxas acima da média e ainda subiam 4,5% no final do ano passado. Embora os salários reais tenham aumentado, o consumo permaneceu moderado.
Os consumidores “ainda têm grandes preocupações”, disse Rolf Buerkl, especialista em consumo do Instituto de Nuremberg para Decisões de Mercado (NIM), à agência de notícias Xinhua, no mês passado. Além das crises geopolíticas e do “aumento acentuado” dos preços dos alimentos, as discussões sobre o orçamento nacional para 2024 “continuam causando incerteza”.