Alimentação compromete mais de 60% do salário médio do brasileiro

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Bufê de self-service em restaurante (Foto: divulgação)
Bufê de self-service em restaurante (Foto: divulgação)

Consumir uma refeição completa (prato, bebida, sobremesa e cafezinho) fora de casa nos dias úteis pode comprometer mais de um terço (35%) do salário médio do trabalhador brasileiro que não recebe benefícios de alimentação, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de R$ 2.548. De acordo com a Pesquisa+Valor, apresentada pela Ticket, ao desembolsar o valor de R$ 40,64 (preço médio da refeição completa) durante 22 dias úteis ao mês, o consumidor terá um gasto total de R$ 894,08. O estudo também analisou o valor médio da cesta básica, que em junho, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), era de R$ 652,35. Sendo assim, a soma da alimentação dentro e fora do lar é de R$ 1.546,43, o que corresponde a 60,6% do valor dos rendimentos mensais dos brasileiros.

Na análise por capitais, considerando a média salarial nacional, os gastos com alimentação comprometem em maior proporção o salário dos trabalhadores de Florianópolis, com 70,6% (considerando o valor da cesta básica na cidade, a R$ 772,07, e o custo de se alimentar fora de casa por 22 dias úteis, por R$ 1.028,50). Já Fortaleza é a capital em que as pessoas comprometem uma fatia menor do salário (50,2%), uma vez que a cesta básica custa, em média, R$ 628,46 na cidade e o custo para a alimentação fora é de R$ 652,30 ao mês.

Além disso, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), as alterações trazidas pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) para a Medida Provisória 1.108, que trata, entre outros temas, do benefício-refeição, podem levar bares e restaurantes à derrocada. O deputado, relator da medida, apresentou proposta de texto que altera o original proposto pelo Governo Federal e coloca em risco 6 milhões de empregos no setor de alimentação fora lar.

De acordo com a entidade, “os termos originais da MP foram definidos após o governo promover por 12 meses debates com todas as partes envolvidas, trabalhadores, restaurantes, empresas prestadoras dos serviços de benefícios, suas contratantes e vários órgãos do poder público. A nova versão proposta pelo relator, no entanto, muda o texto, possibilitando o pagamento dos vales em dinheiro. Com o livre uso e sem fiscalização, o benefício tende a se desvirtuar.”

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Dados da Abrasel apontam que 20% das receitas de bares e restaurantes vêm dos vales, percentual que pode chegar a 80%, no caso estabelecimentos próximos a grandes empresas.

“O setor conta com uma renda diária, recorrente, que advém dos vales-refeição. Já sofremos demais durante a pandemia, com o fechamento de mais de 300 mil estabelecimentos. Hoje, temos 29% dos bares e restaurantes operando em prejuízo e 36% em equilíbrio: dois em cada três estabelecimentos estão ameaçados, uma vez que ainda não se reergueram do caos que foi a pandemia. Se o texto do deputado Paulinho for aprovado, teremos novas falências, fome e quebradeira. Será um tiro de canhão em um setor que ainda tenta se reerguer”, diz Paulo Solmucci Júnior, presidente da Abrasel.

Segundo estudo da Gouvea Consulting, caso o benefício-refeição fosse transformado em espécie, 65% dos trabalhadores usariam o dinheiro para o pagamento de dívidas, entretenimento e vestuário, respectivamente, e apenas 35% para se alimentar.

Os pequenos negócios do segmento de alimentação fora do lar continuam se recuperando da crise causada pela Covid-19, mas ainda não voltaram ao mesmo nível de faturamento mensal registrado antes da pandemia. A maior dificuldade enfrentada pelas empresas do setor é o aumento de custos (insumos/mercadorias, energia, combustíveis, aluguel). Além da inflação, outro fator que tem impactado diretamente são as dívidas. Conforme pesquisa realizada pelo Sebrae, 72% dessas micro e pequenas empresas possuem dívidas, sendo que dos endividados, 56% estão em atraso.

Os pequenos negócios representam 97,8% do setor de alimentação fora do lar. Ao todo, são mais de 1,3 milhão de CNPJs ativos entre microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência, em 2020, cerca de 317 mil dessas micro e pequenas empresas contratavam funcionários e foram responsáveis por gerar mais de 900 mil empregos.

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