O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta terça-feira mostra que a inflação entrou em trajetória de queda.
O levantamento mostra que o IPCA-15 foi de 0,33% em novembro e ficou 0,12 ponto percentual acima do resultado de outubro (0,21%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,30% e, em 12 meses, de 4,84%, abaixo dos 5,05% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2022, a taxa foi de 0,53%.
O relatório aponta, ainda, que dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito registraram alta em novembro. A maior variação (0,82%) e o maior impacto (0,17 ponto) vieram de Alimentação e bebidas. Já os grupos Despesas pessoais (0,52%) e Transportes (0,18%) também registraram alta e contribuíram com, respectivamente, 0,05 ponto e 0,04 ponto. Em relação às baixas, o grupo Comunicação (-0,22% e -0,01 ponto) recuou pelo terceiro mês consecutivo.
Por fim, as demais variações ficaram entre o 0,03% de Educação e o 0,55% de Vestuário.
Trajetória da inflação
Para a gestora Equus, após atingir seu último pico de 12,13% em Abril de 2022, a inflação entrou em uma trajetória de queda que a levou de volta para a meta estabelecida pelo Banco Central, de 3,25% com tolerância de mais ou menos 1,5%.
“Os dados de inflação das principais economias globais incluindo Estados Unidos, Europa, Inglaterra, Japão e China apontam um comportamento similar ao da inflação brasileira. Após terem seus picos principalmente ao longo de 2022, a inflação desses países também demonstrou sinais de arrefecimento principalmente graças ao trabalho dos seus respectivos Bancos Centrais, que aumentaram de forma significativa suas taxas de juros”, destaca.
Ainda de acordo com a gestora:
– Uma inflação sob controle abre a porta para redução na taxa de juros. O Brasil puxou a fila nesse sentido e iniciou sua trajetória de cortes em agosto, mas não deve demorar muito para que outros países também o façam caso suas respectivas inflações mantenham suas trajetórias de queda atuais.
Também disse que o aumento da taxa de juros global para combater a inflação trouxe sérias consequências para a economia, aumentando significativamente o custo financeiro das empresas e inviabilizando uma série de novos projetos e empreendimentos.
“O mercado, no entanto, começa a enxergar uma luz no fim do túnel para este movimento e já se prepara para um novo ciclo de investimentos”, frisa.
Em relação aos investidores, elenca que apesar da recente queda nas taxas de juros brasileiras, ainda é possível comprar títulos do tesouro direto com vencimentos a partir de 2035 que oferecem um juros real (taxa do título – IPCA) superior a 5,64% ao ano.
“Esse é um retorno ainda muito atrativo e pode fazer sentido na carteira de investimentos de boa parte das pessoas. Contudo, tendo em vista a trajetória de queda do juros, investidores mais arrojados devem ficar atentos a oportunidades de investimento que podem se beneficiar desse movimento, como investimentos em ações, infraestrutura e em empresas privadas, por exemplo.”
Já o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, indica que neste cenário o investidor deve buscar proteção em empresas que apresentam um bom resultado operacional, bem como lucro marginal e nível de alavancagem maior. “Um bom dado para se analisar é o ebitda das empresas”, diz.
Ele também reforça que a inflação está em trajetória de queda e se direcionando para o centro da meta. “A principal contribuição foi o grupo alimentação, mas é uma inflação benigna, principalmente por estar atrelada às situações sazonais de clima. Esse ano a gente vem com clima um pouco sazonal agora no final do ano, mas ela não contamina as outras situações”, pontua.
Combustíveis e passagens aéreas
De acordo com o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, o calor extremo nas últimas semanas afetou o alimento, principalmente o tipo in natura. Administrados vieram bem baixos com especial contribuição de combustíveis. Os postos de gasolina seguem reagindo positivamente aos cortes da Petrobras no fim de outubro. No setor de serviços vimos alívio nas passagens aéreas após dois meses de preços bem salgados mas ainda assim pressionando o índice.
Além do IPCA divulgado nesta terça-feira, a economia já vem se beneficiando da redução dos preços globais de petróleo e commodities desde o início do ano. Outro vento a favor é a valorização do real que onera menos nossa importação e alivia preços de componentes importados.
As reduções da Black Friday não impactam a leitura de hoje que deve contribuir positivamente somente no IPCA de fechamento de mês. O volume fraco de vendas já sinaliza uma desaceleração no consumo a frente.
Diante dos sinais de desaceleração na atividade econômica nos Estados Unidos e de uma melhora na inflação local, tanto global quanto doméstica, vemos melhora para os índices de preços dos próximos anos. Essa melhora deve impactar o humor do Copom sendo possível que o mercado volte com o discurso de aceleração do ritmo de queda da Selic de 50 para 75 pontos a cada reunião. O fechamento do ano de 2023 deve entregar uma inflação de 4,5%.
Alimentação em casa subiu
De acordo com o IBGE, no grupo Alimentação e bebidas (0,82%), a alimentação no domicílio subiu 1,06% em novembro, após cinco quedas consecutivas. Contribuíram para esse resultado as altas da cebola (30,61%), batata-inglesa (14,01%), arroz (2,60%), frutas (2,53%) e das carnes (1,42%). Já os preços do feijão-carioca (-4,25%) e do leite longa vida (-1,91%) caíram.
A alimentação fora do domicílio (0,22%) registrou resultado similar ao de outubro (0,21%), por conta do subitem refeição (0,22%), que apresentou a mesma variação do mês anterior. Já o lanche (0,35%) registrou alta, após queda de 0,11% em outubro.
O IBGE revela também que o grupo Despesas pessoais (0,52%) apresentou resultado superior ao do mês anterior (0,31%), influenciado pelas altas do pacote turístico (2,04%), da hospedagem (1,27%) e do serviço bancário (0,63%).
No grupo dos Transportes (0,18%), o subitem passagem aérea subiu 19,03% e teve o maior impacto individual no índice do mês (0,16 p.p.). O subitem táxi também apresentou alta, de 2,60%, devido aos reajustes de 20,84% em Porto Alegre (16,67%), a partir de 9 de outubro, e de 6,67% em São Paulo (3,76%), a partir de 28 de outubro. O subitem ônibus urbano (-1,35%) sofreu reajuste de 6,12% em Salvador (0,44%), em 13 de novembro.
Em combustíveis (-2,11%), houve queda no etanol (-2,49%), na gasolina (-2,25%) e no gás veicular (-0,57%), enquanto o óleo diesel (1,12%) subiu. Ainda em Transportes, em função da gratuidade nos transportes metropolitanos concedida a toda a população de São Paulo (0,65%), nos dias de realização das provas do ENEM (05/11 e 12/11), foi registrada a redução de 6,25% nos subitens trem, metrô, ônibus urbano e integração de transporte público.
Alta em energia elétrica
Segundo o instituto, no grupo Habitação (0,20%), o resultado de energia elétrica residencial (0,42%) é decorrente de reajustes em três áreas de abrangência do índice: de 9,65% em Brasília (6,70%), a partir de 22 de outubro; de 5,91% em Goiânia (7,41%), a partir de 22 de outubro; e de 6,79% em uma das concessionárias pesquisadas em São Paulo (-0,03%), a partir de 23 de outubro.
Já alta da taxa de água e esgoto (0,45%) é decorrente de reajustes em duas áreas: de 14,43% em Fortaleza (7,67%), a partir de 29 de outubro e de 6,75% em Salvador (2,23%), a partir de 25 de setembro. Gás encanado (0,13%) também apresentou alta por conta do reajuste de 0,92% no Rio de Janeiro (0,42%) a partir de 01 de novembro.
Quanto aos índices regionais, o IBGE informa que nove áreas tiveram alta em novembro. A maior variação foi registrada em Brasília (0,61%), por conta das altas da passagem aérea (13,47%) e da energia elétrica residencial (6,70%). Já o menor resultado ocorreu em Salvador (-0,12%), influenciado pela queda nos preços da gasolina (-4%).
Matéria editada às 15h02 e 15h20 para inserir mais análises sobre a trajetória da inflação.
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