Alta dos juros favorece finanças em detrimento dos investimentos

Custo do capital e da dívida pública sobem com alta dos juros, prejudicando investimento produtivo. Por Gilmara Santos

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Sede do Banco Central em Brasília
Sede do Banco Central (foto de Lúcio Távora, Xinhua)

O aumento da taxa básica de juros, a Selic, não agradou o setor produtivo, que teme que a decisão afete os investimentos no país e, consequentemente, tenha impacto direto no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). O professor José Carlos de Souza Filho, da FIA Business School, explica que os impactos do aumento da taxa de juros são negativos nos investimentos por algumas razões.

“Primeiramente, por tornar o crédito em geral mais caro para consumidores, desestimulando o consumo. Isto pode reduzir as encomendas do varejo e, com isto, a produção”, diz. Outro aspecto negativo, lembra ele, é o encarecimento dos investimentos em projetos de infraestrutura como expansões e ampliações de capacidade instalada. “Isto também repercute no custo de capital, estimula investimentos financeiros em detrimento de investimentos produtivos e ajudam a desacelerar a economia”, considera o professor.

Para Souza Filho, a taxa de juros pode comprometer a sustentabilidade do crescimento econômico, pois interfere no investimento e principalmente no endividamento público, além de atuar a favor da manutenção de taxas atrativas para os títulos da dívida pública e no endividamento privado com efeito desestimulador no aumento da capacidade produtiva e no consumo. “Contudo, deve haver um equilíbrio para que os estímulos para o crescimento existam, sem, contudo incentivar a fuga de capitais para mercados mais rentáveis”, diz o professor.

“O aumento da Selic encarece o crédito, elevando os custos de produção e diminuindo investimentos, o que pode desacelerar a economia”, concorda Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.

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Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, explica que a forma mais direta de um aumento da Selic afetar o setor produtivo se dá pelo fato de que o crédito se “torna mais caro”, dificultando o financiamento de novos projetos e a expansão das empresas. “Vale lembrar, que com maior custo de capital, há menor incentivo para investir, o que por consequência pode reduzir a geração de empregos e o crescimento econômico. Outro ponto, é que o consumo também tende a diminuir, dado o impacto negativo sobre o poder de compra dos consumidores, o que pressiona ainda mais as receitas das empresas”, destaca Sidney.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que subir a Selic foi uma decisão equivocada do Banco Central (BCB). “Nesse contexto, é fundamental que o BCB retome os cortes na taxa de juros o quanto antes. Apenas com um ambiente de menor custo de financiamento é que as empresas conseguirão viabilizar projetos de investimento que são essenciais para o aumento da produtividade e da capacidade produtiva, com ganhos para o crescimento da economia”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.

O crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior, superou as expectativas do mercado. No entanto, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também destaca a questão da sustentabilidade desse resultado, em especial para o crescimento da taxa de investimento.

Essa taxa no Brasil (16,8%) é muito baixa em comparação à média mundial (26,5%), o que pode limitar o potencial de crescimento futuro. Uma taxa de investimento elevada é fundamental para garantir um crescimento sustentado de longo prazo, pois possibilita a ampliação da capacidade produtiva e a modernização da infraestrutura econômica.

Para a CNI, esse aumento na taxa de juros “joga contra” a recuperação da indústria de transformação e do investimento, que começou a ganhar tração recentemente, depois de terem registrado queda em 2023.

Souza Filho, da FIA, comenta ainda que a expectativa é a de que, para este ano, a taxa Selic continue sendo majorada, podendo chegar a 11,25%, ainda sob a presidência atual do BCB. “Para 2025, com a nova gestão e com expectativas de um maior equilíbrio entre contas públicas, crescimento e emprego, a taxa deva encerrar o ano em torno de 10,5%. Sempre bom lembrar que se trata de futuro, e não estão sendo considerados fatos e ocorrências imprevistas”, diz.

Por Gilmara Santos, especial para o Monitor

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